Queda no consumo e redução de 13% no preço do leite esmaga produtores
Quatro meses depois do fim das quotas, o aumento de leite no mercado fez descer preços pagos à produção. Cadeias de distribuição e Ministério da Agricultura discutem campanha para estimular consumo.
Além do fim de um instrumento que vigorou durante 30 anos, e que serviu para eliminar os excedentes, os portugueses estão a consumir cada vez menos leite. A categoria de lacticínios, que inclui iogurtes e queijos, tem vindo a perder importância no carrinho de compras (menos 3% até Julho deste ano, face ao mesmo período de 2014 de acordo com dados da Nielsen) e nem a queda de preços nas prateleiras, também impulsionada pelas promoções, faz aumentar as vendas.
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Além do fim de um instrumento que vigorou durante 30 anos, e que serviu para eliminar os excedentes, os portugueses estão a consumir cada vez menos leite. A categoria de lacticínios, que inclui iogurtes e queijos, tem vindo a perder importância no carrinho de compras (menos 3% até Julho deste ano, face ao mesmo período de 2014 de acordo com dados da Nielsen) e nem a queda de preços nas prateleiras, também impulsionada pelas promoções, faz aumentar as vendas.
Nesta quinta-feira, o Ministério da Agricultura esteve reunido com a Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) para discutir "possíveis acções que ajudem a atenuar " os problemas dos produtores, detalha fonte do gabinete de Assunção Cristas. As medidas serão apresentadas "oportunamente", mas uma das hipóteses é a realização de uma campanha nacional para levar os portugueses a beber mais leite. Esta é, aliás, uma reivindicação dos produtores que, nas palavras de Carlos Neves, presidente da Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep), se sentem abandonados pelos políticos europeus.
"Uma das coisas que já devia ter sido feita é a campanha. A opinião pública tem estado a ser intoxicada por opiniões contra o leite e uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade. As promoções não resolvem porque as pessoas bebem o leite mais barato, mas não bebem mais", defende.
Nas explorações há relatos de encerramentos e abates de animais, atrasos de pagamentos e desespero. A Aprolep diz que a produção em Portugal "atravessa provavelmente a etapa mais difícil da sua história". "O preço pago aos produtores em média é de 28 cêntimos por litro mas há quem esteja a receber 23 cêntimos. E nenhum destes valores compensa o custo estimado de 32 a 33 cêntimos por cada litro produzido", defende.
O cenário europeu é ainda agravado pelo embargo russo aos produtos lácteos. Carlos Neves diz que a Rússia comprava 30% da produção de queijo da UE e lembra que, por cá, o negócio das exportações também está a ser afectado com a descida do preço do petróleo em Angola, um importante cliente do sector. Para forçar a Comissão Europeia a adoptar medidas para proteger a produção, a European Milk Board - que faz lobby em Bruxelas e representa 100.000 produtores - já marcou uma manifestação para 7 de Setembro, dia em que os ministros europeus da Agricultura se reúnem com o tema em cima da mesa.
“Mercado livre, oportunidades de exportação fantásticas, o leite que se quiser: todos conhecem estas palavras. Mas escondem uma política para o leite que está a arruinar os produtores e a nossa agricultura. Nenhuma destas promessas se cumpriu. O resultado: preços a bater no fundo e explorações a encerrar por toda a Europa”, diz a organização. A Aprolep também está a organizar um protesto no mesmo dia em Portugal. “A capacidade negocial dos produtores depende da capacidade para fazer barulho”, lamenta Carlos Neves, relembrando as manifestações em França onde os agricultores depositaram estrume e pneus à porta de supermercados.