Os protagonistas

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Infante D. Henrique DR

D. João I
Para todos os efeitos, foi o rei que desenvolveu a ideia de uma guerra no exterior de Portugal, foi ele quem geriu o processo político, foi ele quem em última instância quebrou as hesitações e as resistências dos que se opunham à conquista de Ceuta. A forma como geriu o processo, assumindo responsabilidades directas ou delegando o trabalho no terreno aos seus filhos, mostra capacidade de planeamento e de decisão. A preservação do segredo dos planos e do destino da expedição militar são testemunho do seu poder. Ceuta só é possível no quadro de uma monarquia consolidada e confiante, que sente pela frente um obstáculo difícil e não hesita em correr riscos para o vencer.

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D. João I
Para todos os efeitos, foi o rei que desenvolveu a ideia de uma guerra no exterior de Portugal, foi ele quem geriu o processo político, foi ele quem em última instância quebrou as hesitações e as resistências dos que se opunham à conquista de Ceuta. A forma como geriu o processo, assumindo responsabilidades directas ou delegando o trabalho no terreno aos seus filhos, mostra capacidade de planeamento e de decisão. A preservação do segredo dos planos e do destino da expedição militar são testemunho do seu poder. Ceuta só é possível no quadro de uma monarquia consolidada e confiante, que sente pela frente um obstáculo difícil e não hesita em correr riscos para o vencer.

D. Duarte
O rei que ficou para a posteridade com o cognome de “Eloquente” é mais lembrado pelas suas obras literárias ou pela aplicação da Lei Mental do que pelas suas façanhas militares. Mas o registo de Zurara do seu desempenho em Ceuta mostra um comandante com sentido de oportunidade e de prudência, para lá de uma evidente coragem física. Foi ele quem aproveitou a fuga dos mouros para dirigir as tropas para a porta que tinham deixado aberta, foi ele quem organizou o avanço das tropas no interior da cidade, foi ele quem acabou com os devaneios arriscados do seu irmão Henrique. Duarte, muitas vezes dado a estados depressivos, teve um reinado curto –morreu em 1438, com 47 anos.  

D. Henrique
O infante sai de Ceuta com os primeiros pergaminhos que lhe garantiriam a glória no futuro. Henrique foi desde cedo um entusiasta da conquista e fez um excelente trabalho na mobilização das tropas e da frota que se concentrou no Porto. Já no dia da batalha chegou sempre atrasado aos acontecimentos. Não foi o primeiro a desembarcar, como tinha pedido ao rei. Não foi o primeiro a entrar na cidade - quem lidera de facto o ataque é D. Duarte. A perseguição imprudente que lança a um grupo de mouros no labirinto de Ceuta é uma tentativa desesperada de obter um feito individual que lhe escapava. Ainda assim, o infante chega a Portugal e obtém do seu pai dádivas mais generosas do que as concedidas ao seu irmão Pedro e em 1416 é nomeado responsável pelo “provimento e defensão” de Ceuta. Depois, tudo fará para alimentar o seu mito – “ele cria à sua volta uma aura de príncipe que deveria ter um destino maior do que aquele que teve”, diz o historiador Amândio Barros. Mas o que mais glorificaria o seu papel foi a Crónica da Tomada de Ceuta escrita muito depois por Gomes Eanes de Zurara. Aí, é apresentado como um “quase-Deus”. “A apologia de Henrique chega a ser fastidiosa”, escreve o historiador Luís Miguel Duarte. “O infante, tal como nos é apresentado por Zurara é um beato sem nada dentro da cabeça”, acrescenta o historiador. Esse registo foi um dos esteios da estratégia que, no Estado Novo, fez de D. Henrique a personalidade maior da Expansão portuguesa.

D. Pedro
Ao contrário da devoção prestada ao seu irmão Henrique, o infante D. Pedro aparece de uma forma muito discreta nas memórias da batalha. Percebe-se: a crónica de Zurara foi escrita em 1449/1450, o tempo da Batalha de Alfarrobeira, na qual D. Pedro morre na luta contra os seus irmãos e o seu sobrinho Afonso V. Mas se por essa altura o infante era persona non grata do novo regime e do seu novo desígnio (a aposta nas conquistas africanas), na época de Ceuta Pedro teve um papel crucial. Foi ele quem organizou todas as tropas do sul do país. O seu papel na batalha é bem mais positivo do que o do seu irmão Henrique. Anos depois, D. Pedro sente-se depreciado no seu país e parte numa longa viagem pela Europa que lhe abre as perspectivas e o enquadra no espírito humanista e cosmopolita do tempo. Com essa luz, Pedro opõe-se às aventuras africanas e defende junto do rei, o irmão D. Duarte, que se ceda Ceuta em troca do regate de D. Fernando, feito cativo em Tânger.

João Afonso de Alenquer
O vedor da Fazenda de D. João I (1395-1433) é apontado por Zurara como o responsável pelo fim dos dilemas do rei, ao sugerir a conquista de Ceuta por ser “uma cidade muito rica e muito formosa”. Alenquer era um conhecedor profundo das debilidades do tesouro nacional nesse tempo. A ideia de tomar de assalto uma cidade que era uma das portas de entrada na Europa do comércio de ouro, cereais, especiarias e seda, pode ter sido irresistível. O seu papel no processo levou António Sérgio a considerar a influência da burguesia interessada no tráfico comercial ultramarino na conquista e posterior manutenção da cidade.

D. Nuno Álvares Pereira
O prestígio militar e o poder real que o Condestável acumulara com as vitórias sobre os castelhanos garantiram-lhe um papel de excepção no reinado de D. João I. O seu apoio aos planos do rei foram cruciais no Conselho Régio de Torres Vedras. Idoso e cansado, D. Nuno tenta na fase final da operação adiar a partida para Ceuta, mas tem de se resignar ao poder crescente da nova geração encabeçada pelos infantes. A sua presença no palco da batalha tinha o condão de mostrar aos soldados a aura de guerreiro genial que acumulou durante a vida.

D. Pedro de Menezes
Depois da partida, o futuro conde de Vila Real tornou-se o emblema da resistência dos portugueses em Ceuta. Com 2500 ou 3000 soldados desmoralizados, D. Pedro resiste a um ataque de 27 mil muçulmanos na Páscoa de 1416 (números de Zurara) e a um cerco duríssimo em 1419. O comandante resistiu a todos os ataques e foi até capaz de lançar expedições de saque nas imediações da cidade. Conta-se que nos 22 anos que passou dentro dos muros de Ceuta D. Pedro jamais despiu a sua armadura.