A passadora
É um exercício de cópia cuspido e escarrado – cópia de Carpenter – e é obvio que isso nos conquista logo, mais vale uma boa cópia que um mau original.
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É um exercício de cópia cuspido e escarrado, competentemente feito, e é obvio que isso nos conquista logo, mais vale uma boa cópia que um mau original. É certo que, depois do entusiasmo inicial, se vai percebendo que o filme de Mitchell não tem muito mais para dar do que a exposição de uma lição bem aprendida, no mesmo passo em que retoma uma série de temas de uma tradição do filme de terror a que Carpenter também não é estranho (a sexualidade adolescente, um mundo de classe média suburbana de onde os adultos parecem ter desaparecido) mas com muito menores ironia e ambiguidade. Esta história de uma maldição que se “apanha” pelo sexo mas de que também só se desembaraça pelo sexo (assim pelo menos destruindo as metáforas mais evidentes, tipo Sida) tende a tornar-se formulaica, a não ser mais do que aquilo que é, fascinada pelo ocasional brilhantismo da sua mecânica, ainda que Mitchell polvilhe o filme de referências que aparentemente pretendem sinalizar algo (dos filmes de ficção científica dos anos 50 a Dostoievski). Fica longe, portanto, da riqueza e da densidade do seu modelo. Mas não há como negar o prazer, puramente plástico em primeiro lugar, de algumas das suas cenas e sequências, e só isso é razão para merecer uma espreitadela.