Investimento puxa pela procura interna e ajuda economia a estabilizar
Economia cresceu 0,4% face aos três primeiros meses do ano e 1,5% em relação ao segundo trimestre de 2014. Regresso a níveis de 2010 ainda tarda.
O Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 0,4% em cadeia, uma variação igual à registada nos dois trimestres anteriores (o último de 2014 e o primeiro deste ano). Comparando com o período homólogo, o crescimento foi de 1,5%, uma taxa de variação também idêntica à dos três primeiros meses do ano.
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O Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 0,4% em cadeia, uma variação igual à registada nos dois trimestres anteriores (o último de 2014 e o primeiro deste ano). Comparando com o período homólogo, o crescimento foi de 1,5%, uma taxa de variação também idêntica à dos três primeiros meses do ano.
Olhando para os valores em cadeia, os dados confirmam que a economia está a crescer há cinco trimestres consecutivos, ou seja, desde os três primeiros meses do ano passado. Quando a comparação é feita em termos homólogos, o crescimento mantém-se positivo sem interrupção desde o último trimestre de 2013, trajectória que se seguiu a uma forte contracção da economia.
Para o conjunto do ano, o Governo está a prever um ritmo de crescimento de 1,6% em relação a 2014, projecção próxima dos valores agora revelados.
O INE apresenta apenas uma estimativa rápida, não divulgando valores para as diferentes componentes do PIB, o que só acontecerá a 31 de Agosto. No entanto, explica que o desempenho da economia assentou mais na procura interna, à boleia do investimento e do consumo, do que na procura externa.
“O contributo positivo da procura interna [soma do consumo privado, consumo público e investimento] aumentou no segundo trimestre, reflectindo a aceleração do investimento (sobretudo devido ao contributo da variação de existências, que passou de negativo no trimestre anterior para positivo) e, em menor grau, do consumo privado”. Já a procura externa (as exportações líquidas das importações) teve “um contributo negativo significativo para a variação homóloga do PIB, verificando-se uma aceleração das importações de bens e serviços a um ritmo superior ao das exportações”.
Os últimos dados da indústria mostram uma queda de 2,1% na produção em Junho quando comparada com o mês anterior (foi a maior descida mensal na zona euro), mas um crescimento de 2% em relação a Junho do ano passado (o que representa um abrandamento face ao aumento homólogo de 3,6% registado em Maio).
Quanto ao comércio internacional, registou-se no segundo trimestre um aumento de 7,4% nas exportações de bens, um ritmo inferior ao que estão a crescer as importações, que chegam aos 9%.
Longe de 2010
Num perfil de crescimento em que as compras ao exterior estão a crescer mais do que as vendas, a estabilização da economia em valores positivos está assim a beneficiar, como aconteceu no ano passado, da aceleração da procura interna, sobretudo via investimento.
Os indicadores de conjuntura mais recentes, que se referem já a Julho, apontam para uma melhoria no clima económico e na confiança dos consumidores, embora com desempenhos diferentes entre os sectores de actividade (a piorar na indústria transformadora, a melhorar no comércio, serviços e na construção). Apesar da recuperação, adverte Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Montepio, “o indicador de sentimento económico tem vindo a sobrestimar o crescimento da economia, em parte porque a política orçamental restritiva continua a ser uma condicionante da actividade económica”.
A economia está longe de regressar aos níveis anteriores à entrada em recessão. Os economistas do Núcleo de Estudos sobre a Conjuntura da Economia Portuguesa (NECEP), da Universidade Católica, falam numa “notícia positiva”, mas alertam que o comportamento do investimento “continua a ser a principal dúvida sobre a qualidade e intensidade da recuperação económica em curso”. E deixam um aviso. “A quebra acumulada neste ciclo recessivo entre o primeiro trimestre de 2010 e o primeiro trimestre de 2013 foi de 8,1%”, havendo “ainda um longo caminho a percorrer até se atingirem os níveis do PIB de 2010”, vinca o NECEP.
“A melhoria da procura interna pelo lado do investimento, a confirmar-se, é positiva, porque tenderá a ser um factor de suporte a médio e longo prazo. Será um aspecto positivo no sentido em que dá sustentabilidade ao processo de retoma”, avalia Teresa Gil Pinheiro, do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI.
Rui Bernardes Serra prevê uma aceleração da actividade económica no conjunto do ano e acredita que o PIB vai crescer 1,7%. “O impacto da descida do petróleo e das novas medidas do BCE colocam riscos ascendentes [positivos] à previsão”, tal como o facto de a economia espanhola poder continuar a crescer acima do estimado, “algo relevante atendendo ao elevado peso que ainda tem nas trocas comerciais com o nosso país”. Do lado negativo, o economista-chefe do Montepio enuncia riscos de “origem iminentemente externa, relacionados com a incerteza geopolítica no Médio Oriente, no Leste da Europa e em relação à Grécia”. E a isso junta-se a “difícil situação do mercado de trabalho, do sistema financeiro e os objectivos de consolidação adicional das finanças públicas [que] continuam a condicionar a recuperação da procura interna”.
Partidos divergem
Com a pré-campanha eleitoral no terreno, os partidos da coligação PSD/CDS-PP e a oposição apareceram em pólos opostos a falar sobre os mesmos números. Onde o Governo vê bons sinais, o PS encontra um desempenho “aquém das estimativas”.
O ministro da Economia acredita que a “tendência de crescimento se pode acelerar ao longo do segundo semestre”. A variação de 1,5%, reconheceu, “não é um crescimento espectacular, certo, mas é um bom crescimento”. A partir dos números do INE, António Pires de Lima tirou uma conclusão – a mesma que está na base da mensagem eleitoral do PSD/CDS-PP para as legislativas de 4 de Outubro: há um caminho “certo, seguro, sólido e que está a criar emprego”.
O PS reagiu pela voz de João Galamba, que no Parlamento sublinhou que os valores do PIB estão “no patamar inferior de todas as previsões”. O facto de ser a procura interna a sustentar o crescimento levou o deputado socialista a notar como esse perfil de crescimento é contrário à expectativa do executivo quando falava numa transformação estrutural da economia. “O que o INE vem dizer é que aconteceu exactamente oposto, é a procura interna que cresce e o comércio externo pesa negativamente com uma deterioração significativa do nosso saldo comercial”, afirmou o deputado socialista, citado pela Lusa.
O vice-presidente do PSD Carlos Carreiras acusou os socialistas de liderarem uma “coligação negativa” e reclamou para os sociais-democratas e centristas “tempo de confiança”. “É o sétimo trimestre consecutivo em que Portugal apresenta indicadores positivos de crescimento do PIB”, salientou. Cecília Meireles, do CDS-PP, acentuou a tónica para o mesmo lado: “A confiança, quer dos consumidores, quer das empresas, pode ser um grande motor para a economia e estes números mostram bem que a economia portuguesa tem razões para estar confiante”.
Jorge Pires, pelo PCP, contrapôs que o nível de crescimento é insuficiente e defendeu um “caminho de recuperação e verdadeiro crescimento económico, sustentável e vigoroso”. “Estamos com um crescimento anémico, muito aquém das necessidades, mesmo num quadro em que a situação internacional neste período foi favorável a um crescimento mais significativo”, enfatizou. A CGTP também reagiu aos números do INE, considerando que o facto de haver um contributo negativo da procura externa “desmente a propaganda do Governo sobre o suposto ‘milagre’ das exportações”.
Zona euro cresce 1,2%
Na zona euro, o conjunto das 19 economias registou um crescimento de 1,2% quando comparado com o mesmo período do ano passado. Já em relação ao trimestre anterior, a variação foi de 0,3%, o que representa um abrandamento face ao desempenho nos dois trimestres anteriores.
Na maior economia da moeda única, a Alemanha, o PIB acelerou face ao desempenho observado até Março. A economia subiu 0,4% em cadeia (quando no primeiro trimestre crescera 0,3%), atingindo um crescimento de 1,6% em termos homólogos depois de progredir 1,1%. França estagnou em relação aos três primeiros meses do ano, mas conseguiu registar um crescimento de 1% face ao segundo trimestre de 2014.
Itália apresentou um crescimento mais baixo, de 0,2% em cadeia e de 0,5% em termos homólogos. Numa trajectória de aceleração, Espanha, a quarta economia, teve o melhor desempenho da área do euro, ao crescer 1% em cadeia e a chegar aos 3,1%. com Lusa