O realizador engatatão segundo Hong Sangsoo
O novo filme do cineasta coreano é mais uma amável comédia de enganos.
O cineasta coreano anda literalmente a ganhar o concurso da “Batalha da Produção” com um ritmo imparável e metronómico que recorda os tempos áureos de Woody Allen. Esse ritmo não é depois acompanhado pelo circuito comercial - em Portugal, da sua vastíssima produção de 16 longas em 18 anos, apenas dois títulos, Noite e Dia, estreado em Berlim 2008, e Noutro País, de Cannes 2012, chegaram às salas.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O cineasta coreano anda literalmente a ganhar o concurso da “Batalha da Produção” com um ritmo imparável e metronómico que recorda os tempos áureos de Woody Allen. Esse ritmo não é depois acompanhado pelo circuito comercial - em Portugal, da sua vastíssima produção de 16 longas em 18 anos, apenas dois títulos, Noite e Dia, estreado em Berlim 2008, e Noutro País, de Cannes 2012, chegaram às salas.
Mas mesmo internacionalmente cada país tem uma visão diferente, parcelar, do cineasta, onde se reconhecem os “tiques” recorrentes: longuíssimas cenas de conversa à mesa que geralmente acabam em bebedeira e/ou ressaca, a presença constante do mundo do cinema como origem das suas personagens, as histórias mais ou menos rocambolescas de sedução e romance, o jogo narrativo que propõe várias versões, ou várias leituras, de uma mesma situação.
Em Locarno, onde ganhou há dois anos o prémio de realização com Our Sunhi, Hong mostrou este ano Right Now, Wrong Then, que faz o “totoloto” deste caderno de encargos: um realizador de cinema, com tempo para matar num subúrbio de Seul onde foi apresentar um dos seus filmes, mete conversa com uma pintora local que conhece por acaso num palácio-museu.
A dança de sedução entre Ham, o cineasta, e Heejung, a pintora, é desdobrada nos mesmos locais (um palácio, um atelier, um restaurante, um café, um cinema) e nas mesmas situações sociais mas de duas maneiras diferentes, de acordo com as condições de “temperatura e pressão” entre os dois.
Primeiro, em tom mais burlesco, com Ham a querer apenas um engate rápido para passar o tempo, depois em tom mais romântico, com o desenvolvimento de uma verdadeira relação, mesmo que condenada à partida, entre as duas personagens.
Sem trazer nada de especialmente novo ao cinema do realizador nem ao seu estilo tradicional, Right Now, Wrong Then é no entanto modelar do seu estilo e da sua abordagem depurada e económica ao cinema, e também um dos seus filmes mais acessíveis aos não-iniciados.
Para lá de ser um bem-vindo momento de leveza e humor numa competição que, como a de quase todos os festivais de cinema, tende por vezes para a sisudez excessiva. A comédia, afinal, não é um género menor.