Câmara de Lisboa contratou mais de 800 mil euros de marketing com Vítor Tito

Novo director da campanha socialista prometeu "campanha sóbria".

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António Prôa pediu “mais eficácia, mais transparência, mais respeito” no orçamento participativo Pedro Cunha

O PÚBLICO sabe, no entanto, que a relação deste empresário com o actual secretário-geral do PS António Costa e com a Câmara de Lisboa tem alguns anos.

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O PÚBLICO sabe, no entanto, que a relação deste empresário com o actual secretário-geral do PS António Costa e com a Câmara de Lisboa tem alguns anos.

Um ex-dirigente nacional do PS, que solicitou o anonimato, confirmou ao PÚBLICO a colaboração de Vítor Tito, a título individual, em campanhas políticas do PS. Outro socialista, com responsabilidades a nível concelhio, explicou a forma como o director da BBZ apoiou os socialistas ao longo dos últimos anos. “O Tito, não a empresa dele, tem realizado algumas colaborações, de há alguns anos para cá, com António Costa”, resume. Um dos exemplos desse apoio informal ocorreu durante a campanha interna que conduziu Costa à liderança do PS. Colaborou também na preparação da campanha de Manuel Pizarro às autárquicas no Porto: “Reunia de vez em quando para dar alguns inputs”.

Ao que o PÚBLICO apurou, a relação com António Costa vem da Câmara. A BBZ trabalha para o município de Lisboa na sua área de mercado. Foi isso que Vítor Tito assinalou quando reagiu a uma notícia do DN. Ao site do Observador, que também se referiu a este assunto, Vítor Tito assegurou que a BBZ “nunca, mesmo nunca, teve qualquer contrato de colaboração ou de prestação de serviços com qualquer partido ou organização partidária”. E acrescentou não ter facturado “um cêntimo a qualquer organização política ou partidária”.

Já com a câmara de Lisboa, a BBZ de Vítor Tito trabalhou. De acordo com os dados públicos disponibilizados no site Base.gov.pt, a câmara municipal da capital celebrou, entre Dezembro de 2008 e Outubro de 2014, 16 contratos por ajuste directo com a BBZ. A prestação de serviços na área do marketing e publicidade rendeu à empresa de Vítor Tito um total de 818 mil euros nesse período de tempo. O contrato mais recente data de Outubro do ano passado. A Câmara acordou o pagamento de 32.500 euros pela “Aquisição de Serviços para Concepção, produção, montagem e desmontagem de Stand e concepção de material de divulgação para apresentação da CML no Salão Imobiliário de Lisboa”.

Em Dezembro de 2012, por exemplo, a edilidade pagou 157 mil euros por uma “Campanha de Sensibilização na área da gestão dos resíduos urbanos e limpeza pública na cidade de Lisboa denominada Não Há Volta a Dar”. E, em 2009, pagou 140 mil euros por um conjunto de “spots de TV e rádio” contratados pelo Departamento de Higiene e Resíduos Sólidos da Câmara.

O PÚBLICO tentou contactar Vítor Tito através da sua empresa e do seu correio electrónico pessoal. Vitor Tito não respondeu às solicitações deste jornal.

Depois do fim-de-semana turbulento, o PS colocou online, esta segunda-feira, a sua campanha digital da candidatura às legislativas. Sobre a polémica dos cartazes, nem mais uma palavra. Os socialistas escusaram-se a divulgar de quem era a autoria dos outdoors onde surgiam figurantes ao lado de frases que, veio a saber-se, não retratavam a situação dos próprios: desemprego, emigração e precaridade.

“O PS já disse tudo o que tinha a dizer, o assunto está encerrado”, resumia nesta segunda-feira a assessora de imprensa de António Costa. No entanto, confirmava que a campanha digital apresentada é da responsabilidade de Edson Athaíde, o publicista contratado pelos socialistas e cujos cartazes motivaram polémica em alguns sectores do partido.

Além do site, costa2015.pt, ficaram também disponíveis as contas nas redes sociais, incluindo no Facebook, onde o novo director de campanha, Duarte Cordeiro, definiu os seus objectivos para o novo cargo. "Teremos uma campanha sóbria, mas com alegria e confiança no futuro de Portugal, apostando no esclarecimento cabal das eleitoras e dos eleitores. Para tal, iremos motivar muitas iniciativas de rua que envolvam todo o Partido e todos os candidatos. Será pelo contacto directo com o maior número de pessoas que reforçaremos o apoio ao PS", lia-se ontem num ‘post' publicado pelo responsável que veio da câmara de Lisboa na sua página na rede social Facebook.

No sábado, os cartazes polémicos já estavam a ser substituídos. Em vez dos figurantes, surge agora como protagonista o próprio António Costa, com o slogan “Confiança”.  A conferência de imprensa de apresentação de novos materiais de campanha do partido, como as novas páginas na net e o jornal de campanha, que estava prevista para ontem acabou por ser desconvocada.