“Fazer James White foi uma terapia que ainda não acabou”
Josh Mond fala sobre a sua longa de estreia, o primeiro momento alto do concurso de Locarno.
Embora esta seja a sua primeira longa-metragem, já tinha dirigido curtas e telediscos – e, sobretudo, serviu como produtor dos filmes de Antonio Campos e Sean Durkin, com quem fundou há dez anos a produtora Borderline Films. Depois de Afterschool – Depois das Aulas e Simon Killer de Campos, e Martha Marcy May Marlene de Durkin, Mond é o último dos três fundadores a passar à longa, num filme que tem um evidente “ar de família” mas que é também o mais pessoal de todos eles. O ponto de partida de James White foi a própria doença da mãe do realizador, transfigurada através da ficção num retrato de homem à deriva, em busca de si próprio, a que o actor Christopher Abbott empresta uma intensidade particular. Feliz mas ainda algo desconcertado com a reacção positiva que o filme obteve em Locarno, Mond conversou com o PÚBLICO numa varanda com vista para a Piazza Grande, enquanto procurava articular pelo meio de muito cigarro o processo terapêutico que o filme representa para ele.
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Embora esta seja a sua primeira longa-metragem, já tinha dirigido curtas e telediscos – e, sobretudo, serviu como produtor dos filmes de Antonio Campos e Sean Durkin, com quem fundou há dez anos a produtora Borderline Films. Depois de Afterschool – Depois das Aulas e Simon Killer de Campos, e Martha Marcy May Marlene de Durkin, Mond é o último dos três fundadores a passar à longa, num filme que tem um evidente “ar de família” mas que é também o mais pessoal de todos eles. O ponto de partida de James White foi a própria doença da mãe do realizador, transfigurada através da ficção num retrato de homem à deriva, em busca de si próprio, a que o actor Christopher Abbott empresta uma intensidade particular. Feliz mas ainda algo desconcertado com a reacção positiva que o filme obteve em Locarno, Mond conversou com o PÚBLICO numa varanda com vista para a Piazza Grande, enquanto procurava articular pelo meio de muito cigarro o processo terapêutico que o filme representa para ele.
James White não é directamente autobiográfico, mas inspira-se na sua experiência pessoal. Como é que é passar tanto tempo a trabalhar num filme assim?
Fazer este filme foi uma espécie de terapia, mas é uma terapia que ainda não acabou, e esta entrevista faz parte dela. Fiz James White para perceber algumas coisas sobre mim, e também para comunicar com as pessoas. A minha experiência em Sundance a esse respeito foi extraordinária, o modo como as pessoas aderiram ao filme, e agora em Locarno também o está a ser. Mas, na verdade, só me comecei a sentir confortável com o filme para aí uma semana antes da estreia em Sundance. Ajudou-me tê-lo trabalhado de uma maneira muito obsessiva, cena a cena, pensar naquilo que me deixava à vontade e aquilo que não funcionava, como articular as coisas... Agora? Agora estou numa situação de algum distanciamento, mas ainda me sinto vulnerável.
Aquilo que a personagem está a viver não tem só a ver com o luto ou a perda. Tem também a ver com o modo como ele se está a tentar encontrar a si próprio enquanto o mundo lhe desaba em cima...
A maioria das reacções que tenho tido ao filme vêm de pessoas que perderam alguém com cancro enquanto ainda eram adolescentes, que reagem à questão de perderem a pessoa que lhes ia explicar as regras para sobreviver no mundo. Mas, se pensar em muitos dos amigos com quem cresci, que não perderam familiares, no ponto em que estão agora nas suas vidas, eles são o James. Estão perdidos, não têm a confiança para porem as suas ideias em prática, embora sejam espertos e empenhados. Muitos deles recebiam muito apoio incondicional e amor da mãe ou do pai, mas não tinham ninguém que lhes desse o ponto de vista oposto, que lhes instilasse a compreensão racional do modo como as coisas funcionam, nem a confiança em si próprios. Vejo isso muito no James e nos meus amigos de infância: têm a paixão mas não têm a autoconfiança.
É uma personagem que se está a afogar, mas que está sempre a dizer que vai melhorar. O que o filme nos mostra, contudo, é sempre o que ele é e não o que quer ser.
O James quer ser melhor mas não sabe como, não sabe como trabalhar para lá chegar. E a vida obriga-o. A tragédia força-o a confrontar-se consigo próprio, numa situação em que não tem ajuda e da qual teve sempre medo.
Como é que se mantém a intensidade que um filme como estes pede durante uma rodagem inteira?
O assunto que estávamos a tratar. E a adrenalina. E a ajuda de toda a equipa. Sabia que se tropeçasse teria alguém para me ajudar a levantar, para me aconselhar. Passava o tempo a ligar ao Sean, e o Antonio dava-me pequenos conselhos. Quando praticas desporto, e eu joguei futebol, tens o entusiasmo de estar a jogar, mas tens também os treinadores que vão explicando as coisas, como o meu montador que é uma espécie de psiquiatra...Eu nem o conhecia antes de fazer este filme e é hoje um dos meus melhores amigos. Toda a gente deu neste filme mais do que uma equipa de rodagem normalmente dá.
James White tem um certo ar de família com os outros filmes da Borderline. Todos eles falam de famílias com problemas, e são filmados muito próximos das personagens... De onde é que isso vem?
É difícil responder. Começámos todos juntos, o Antonio foi o primeiro a realizar, o Sean foi o director de fotografia do primeiro filme, depois eu produzi o segundo...Fomos uma espécie de professores uns dos outros e eu fui o último aluno a formar-me. E aprendemos a contar histórias uns com os outros, mesmo que cada um de nós tenha a sua própria motivação.