Donald Trump embaraça republicanos com comentários misóginos

“Divirtam-se”, escreveu o magnata hoje no Twitter. Talvez essa seja a sua principal motivação para se candidatar a presidente dos Estados Unidos.

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As sondagens nacionais mostram que Trump é o favorito dos 17 candidatos republicanos e, como ele próprio faz questão de dizer, “é uma máquina de audiências” – o debate de quinta-feira à noite na Fox News foi visto por 24 milhões de espectadores e ninguém parece duvidar de que esse recorde se deve a Trump, porque Trump é antes de mais uma figura do entretenimento americano. Que parece tocar todos os públicos: os que admiram a sua fortuna e postura anti-establishment e os que vêem nele um bufão narcisista (a despedida de Jon Stewart do Daily Show, que foi para o ar na mesma noite do debate republicano, ficou em segundo lugar nas audiências).

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As sondagens nacionais mostram que Trump é o favorito dos 17 candidatos republicanos e, como ele próprio faz questão de dizer, “é uma máquina de audiências” – o debate de quinta-feira à noite na Fox News foi visto por 24 milhões de espectadores e ninguém parece duvidar de que esse recorde se deve a Trump, porque Trump é antes de mais uma figura do entretenimento americano. Que parece tocar todos os públicos: os que admiram a sua fortuna e postura anti-establishment e os que vêem nele um bufão narcisista (a despedida de Jon Stewart do Daily Show, que foi para o ar na mesma noite do debate republicano, ficou em segundo lugar nas audiências).

Como ignorar Donald Trump? Afinal, como escreve Maureen Dowd, colunista política do New York Times, comparando Trump a um rapper esbanjador, “restam tão poucas personagens operáticas no mundo”.

Mas, por outro lado, como os republicanos começam a dar-se conta, Trump só é fiel a uma coisa: Trump. Qualquer esperança do partido de que o milionário se convertesse num estadista sóbrio no debate de quinta-feira, evaporou-se nos primeiros minutos quando não excluiu a possibilidade de montar a sua própria candidatura independente às presidenciais no caso de não vir a ser o favorito dos republicanos. Numa entrevista com o New York Times no dia seguinte, Trump reforçou: “Quando se é rico, é possível.”

Mas foram os comentários misóginos que Trump fez a seguir na CNN que fizeram soar o alarme no campo republicano – que na década de 1990 perdeu a maioria do eleitorado feminino para os democratas e desde então nunca conseguiu recuperá-lo. Trump sugeriu que a moderadora do debate de quinta-feira, a pivô da Fox News Megyn Kelly, o questionou de forma hostil porque estava com a menstruação. “Ela chega e começa a fazer-me todo o tipo de perguntas ridículas”, disse Trump à CNN. “Dava para ver sangue a sair dos olhos dela, sangue a sair da sua… onde quer que fosse.”

No debate Megyn Kelly citou os insultos que Trump proferiu noutras ocasiões para descrever mulheres – “como porcas gordas, cães, desleixadas e animais nojentos” – e perguntou-lhe se ele não estava a dar elementos aos democratas para acusarem os republicanos de estar em guerra contra as mulheres. Trump tentou uma piada primeiro – que apenas confirmou a sua misoginia – dizendo que só tinha usado essas palavras em relação à actriz Rosie O’Donnell, e depois desconsiderou a questão, notando que “o grande problema deste país é o politicamente correcto”, que “não tem tempo a perder com isso e, francamente, o país também não”.

Os comentários de Trump sobre Megyn Kelly na CNN levaram a influente organização conservadora RedState a cancelar a presença do magnata na sua convenção em Atlanta, no Sul dos Estados Unidos, no sábado. Erick Erickson, o líder da organização, que também tem um historial de declarações inflamatórias, algumas delas sobre mulheres – anunciou na sexta-feira à noite no site da RedState que retirara o convite a Trump para ser um dos oradores em Atlanta. Ele escreveu que apesar de admirar Trump pela sua franqueza, “há linhas que nem mesmo oradores desbocados ou políticos não-profissionais devem atravessar”, como a da “decência”. E acrescentou: “Não quero alguém em palco cujo primeiro instinto, ao ser confrontado com uma pergunta incómoda de uma senhora, é insinuar que ela tem problemas hormonais”.

A campanha de Trump reagiu acusando Erick Erickson de ser “um líder fraco e patético” e a sua decisão “mais um exemplo de fraqueza ao ser politicamente correcto”.

Num salão de hotel em Atlanta, no sábado à noite, Erick Erickson evocou os comentários de Trump, dizendo: “Se o nosso porta-estandarte tem de recorrer a isso, então precisamos de um novo porta-estandarte”.  

Alguns dos rivais de Trump nas primárias republicanas também condenaram as suas declarações sobre Megyn Kelly – uma estrela da Fox News, a televisão-propaganda da direita americana. Carly Fiorina, ex-directora executiva da Hewlett-Packard e a única mulher candidata às primárias republicanas, escreveu no Twitter: “Sr. Trump. Não. Há. Qualquer. Desculpa.” Jeb Bush perguntou à plateia em Atlanta: “Queremos mesmo insultar 53% dos eleitores? O que Donald Trump fez está errado”.

A campanha de Trump emitiu um comunicado explicando que, quando ele dissera que Kelly tinha sangue a sair de onde quer que fosse”, referia-se ao nariz da moderadora. “Só um depravado pensaria outra coisa”. No sábado, o próprio Trump prosseguiu no Twitter – onde tem 3,6 milhões de seguidores – a sua batalha contra o politicamente correcto. “Tantos imbecis politicamente correctos no nosso país. Temos de voltar a pôr as mãos à obra e parar de perder tempo e energia com disparates.”

No mesmo dia, um porta-voz de Trump anunciou que o milionário despedira o seu conselheiro político principal Roger Stone, alegando que ele estava a usar a campanha como forma de publicidade pessoal. No Twitter, Roger Stone ofereceu outra versão dos acontecimentos: “Peço desculpa, Donald Trump não me despediu, eu despedi Trump. Não estava de acordo com esta disputa com Megyn Kelly que nos afasta das questões de fundo”, escreveu.

Trump anunciou no seu Twitter que iria estar presente nos três programas de debate político desta manhã de domingo – Meet the Press (NBC), Face The Nation (CBS), This Week (ABC) - onde manteve a sua linha de argumentação sobre o caso Kelly, sem sinais de arrependimento, e garantiu que "adora as mulheres". “Divirtam-se!” Talvez esse seja o seu único projecto de campanha.