PS cada vez mais longe de Sampaio da Nóvoa

O estado-maior da candidatura de Sampaio da Nóvoa está preocupado com o distanciamento da direcção do PS. No secretariado nacional ninguém é a favor do apoio ao ex-reitor.

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Sampaio da Nóvoa Miguel Manso

Ainda que teoricamente as candidaturas a Presidente da República sejam independentes, o facto é que nenhum Presidente foi eleito em Portugal após o 25 de Abril sem ter apoio de um partido, ou seja, sem ter ao seu serviço uma oleada máquina partidária. Ambas as candidaturas temem estar em risco se o PS continuar calado sobre um eventual apoio.

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Ainda que teoricamente as candidaturas a Presidente da República sejam independentes, o facto é que nenhum Presidente foi eleito em Portugal após o 25 de Abril sem ter apoio de um partido, ou seja, sem ter ao seu serviço uma oleada máquina partidária. Ambas as candidaturas temem estar em risco se o PS continuar calado sobre um eventual apoio.

Nos estados-maiores da candidatura do ex-reitor da Universidade Clássica de Lisboa e da candidatura da ex-presidente, deputada e antiga ministra, cresce a percepção de que muito provavelmente o apoio oficial da direcção socialista não chegará nem a um nem a outro. Isto quando à partida está afastada em definitivo a hipótese de um apoio da direcção socialista a Henrique Neto, também ele militante do PS e antigo deputado e dirigente deste partido. Sublinhe-se que o próprio presidente dos socialistas, Carlos César, afirmou à Antena 1, no início de Julho, que o PS pode vir a não apoiar nenhum candidato uma vez que há duas candidaturas que podem aspirar a esse apoio.

Secretariado de fora
As informações recolhidas pelo PÚBLICO apontam para que no secretariado nacional do PS ninguém está a favor de um apoio a Sampaio da Nóvoa. Embora apenas Sérgio Sousa Pinto e Pedro Bacelar de Vasconcelos tenham assumido publicamente a sua oposição frontal a um apoio do PS ao antigo reitor da Universidade Clássica de Lisboa, tudo indica que nenhum secretário nacional está a favor de um apoio a Sampaio da Nóvoa.

Na direcção do partido, há mesmo quem não esconda que concorda com Sousa Pinto e com Bacelar de Vasconcelos ao considerarem que uma decisão nesse sentido seria redutor das perspectivas políticas do PS. E quem explique que a atitude ambígua que o PS tem assumido em relação a esta candidatura é puramente táctica e para não fechar portas à esquerda num momento de pré-campanha das legislativas.

É nesse sentido, aliás, que é contextualizado o facto de o presidente do PS, Carlos César, estar a fazer a ponte institucional com a candidatura de Nóvoa: manter um laço institucional que perpetua até 4 de Outubro uma não definição face ao candidato. César manteria assim um relacionamento institucional que levou o PS de António Costa a convidar já por duas vezes António Sampaio da Nóvoa a discursar em eventos do PS. Primeira, no Congresso em que António Costa foi sufragado como líder, a 29 de Novembro de 2014. Segunda, na Convenção que consagrou o programa eleitoral do PS, Agenda para a Década, Sampaio da Nóvoa foi convidado e ouviu os discursos sentado na plateia do Coliseu.

Da parte do PS, de acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, a ideia é manter qualquer opção em suspenso e só anunciar decisões depois das legislativas. Até porque, consoante for o resultado que o PS vier a obter nas urnas a 4 de Outubro haverá uma definição política sobre quem será Governo e em que circunstâncias.

Segundo as explicações ouvidas pelo PÚBLICO da parte de responsáveis da direcção do PS, nesse contexto pós legislativas um apoio a Sampaio da Nóvoa pode fazer ou não sentido como um dos factores mais amplos de uma estratégia de constituição de Governo do PS sozinho ou com outras forças de esquerda. E um apoio a um candidato presidencial conjunto pode ser uma arma negocial em que no mesmo acordo estejam aspectos como o apoio parlamentar a um Governo do PS sozinho ou uma negociação de constituição de Governo ou mesmo um acordo que inclua a concertação social.

O amigo Marcelo
Por outro lado, há na direcção socialista quem sublinhe ao PÚBLICO que o PS pode passar bem sem apoiar nenhum candidato e até ver eleger um Presidente que não seja de esquerda. Segundo estes responsáveis, há quem saliente que António Costa tem boas relações institucionais com Rui Rio, cimentadas quando ambos estavam à frente das respectivas câmaras de Lisboa e Porto.

Há quem frise que as relações são ainda melhores com Marcelo Rebelo de Sousa que foi professor de António Costa na Faculdade de Direito de Lisboa no início dos anos oitenta do século XX, tendo ambos desenvolvido relações sólidas nos anos noventa, quando Marcelo presidiu ao PSD entre 1996 e 1999.

Nesse período em que António Costa foi sucessivamente secretário de Estado e ministro dos Assuntos Parlamentares e responsável pelas relações do Governo com a oposição, tendo tido um papel central na negociação com Marcelo de dossiers como a revisão constitucional de 1997 e a realização dos referendos sobre despenalização do aborto e sobre regionalização.

Nóvoa sem aparelho
A demora e o afastamento da direcção do PS está a preocupar o estado-maior de Sampaio da Nóvoa. O próprio ex-reitor, por mais de uma vez, já apelou a que os partidos se definam, numa clara tentativa de procurar colocar António Costa sob pressão.

Logo no início de Julho, Sampaio da Nóvoa afirmava no programa Terça à Noite da Rádio Renascença: “É evidente que o apoio de um partido como o PS é um apoio extraordinariamente importante para mim, como o apoio do seu secretário-geral, o dr. António Costa, com quem tenho tido sempre uma relação de imensa cordialidade e imensa confiança e com quem tenho colaborado.”

Ao que o PÚBLICO apurou, a questão é que Sampaio da Nóvoa contava ter já nesta altura o apoio do PS. Ora o adiar pelos socialistas de um anúncio de apoio bem como a percepção de que esse apoio pode nunca chegar está a deixar o estado-maior de Sampaio da Nóvoa sem chão. Isto porque, de acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, há entre staff do candidato a noção real de que é preciso o apoio do aparelho e da máquina partidária dos socialistas para fazer a campanha no terreno.

Até agora, apesar do apoio dos três ex-presidentes, Ramalho Eanes e os dois socialistas Mário Soares e Jorge Sampaio, bem como de algumas figuras de prestígio do PS na prática o PS não se envolveu na campanha. Nos órgãos de direcção da campanha há militantes socialistas, há até figuras que se evidenciaram nos gabinetes presidenciais de Jorge Sampaio, assim como alguns militantes localmente pelo país têm estado a trabalhar com a candidatura de Sampaio da Nóvoa, mas isso não é suficiente para que a pré-campanha possa ser feita sem entraves e de forma oleada, garantem responsáveis da candidatura de Nóvoa ao PÚBLICO.

E há mesmo quem frise que há zonas no país onde Sampaio da Nóvoa conta apenas com o apoio do que resta do eanismo e do antigo PRD de Eanes e com a estrutura da Associação 25 de Abril. Razão pela qual se torna para esta candidatura premente o apoio do PS.