Coligação árabe envia tropas para o Iémen e muda o rumo da guerra civil
Cansados do impasse nos combates e receosos de um Irão mais poderoso, aliados árabes enviaram tropas e blindados para derrotarem rebeldes huthis. Têm-no conseguido.
Fizeram-no discretamente, mas com consequências evidentes. Os tanques e blindados árabes foram determinantes para expulsar os huthis de Aden, no final de Julho, que era há meses o foco mais intenso da guerra civil no Iémen. Para além do armamento pesado, a coligação liderada pela Arábia Saudita, que até agora fazia apenas bombardeamentos aéreos contra os rebeldes, enviou também dezenas de soldados iemenitas treinados em Riad.
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Fizeram-no discretamente, mas com consequências evidentes. Os tanques e blindados árabes foram determinantes para expulsar os huthis de Aden, no final de Julho, que era há meses o foco mais intenso da guerra civil no Iémen. Para além do armamento pesado, a coligação liderada pela Arábia Saudita, que até agora fazia apenas bombardeamentos aéreos contra os rebeldes, enviou também dezenas de soldados iemenitas treinados em Riad.
Aden foi uma derrota importante para os rebeldes, do ramo xiita do islão, em parte apoiados pelo Irão. Desde aí que só têm perdido territórios-chave no Sul do Iémen. Só nos primeiros dias de Agosto, os rebeldes perderam a importante base aérea de al-Anad e dezenas de pequenas aldeias da província de Lahj. O próximo objectivo da coligação árabe é Taiz, a mais de 130 quilómetros de Aden.
O ritmo vitorioso das forças pró-governamentais, aliadas com separatistas do Sul do país, só tem sido possível graças ao apoio crescente dos aliados árabes no terreno. Um dia antes da conquista da base de al-Anad, começaram a surgir imagens de centenas de blindados e tanques a atravessarem a fronteira saudita com o Iémen. A operá-los estão cerca de 1500 militares dos Emirados, o primeiro grande destacamento estrangeiro no conflito, e centenas de soldados sauditas.
A coligação admite ter soldados no terreno para operarem algum armamento e veículos, mas não avança números. As estimativas não oficiais apontam para um contingente que vai dos 3000 aos 5000 militares estrangeiros no Iémen. Antes da sua chegada já existiam pequenos grupos de militares sauditas e dos Emirados no país, segundo o New York Times.
Os rebeldes huthis ainda controlam grande parte do país, incluindo a capital, Sanaa, no Norte. Nesta semana, o seu líder, Abdul-Malek al-Huthi, admitiu as derrotas dos últimos dias, mas diz também que sauditas e aliados estão a arriscar muito para conseguirem pouco. “O inimigo usou todo o seu poder para conseguir conquistas limitadas”, disse, citado pela Reuters.
Guerra ao Irão
Para a coligação saudita, interessada em ocultar a sua nova presença no Iémen, nada mudou nas últimas semanas. Mas a sua decisão de enviar tropas para o terreno está a ser encarada como uma manobra defensiva contra a influência regional do Irão, em breve fortalecido pelo fim das restrições económicas internacionais, graças ao novo acordo para o seu programa nuclear.
Para todos os efeitos, a coligação que começou a bombardear os rebeldes xiitas em Março é também a aliança dos países muçulmanos sunitas do Médio Oriente que se opõem ao Irão. Os sauditas dizem que os huthis são um satélite de Teerão no Iémen, tal como o Hezbollah no Líbano. É uma acusação exagerada, até segundo os Estados Unidos, aliado histórico da coligação. Os huthis recebem algum apoio do Irão e assumem abertamente essa aliança, mas recusam o rótulo de braço armado do país. Adam Baron, analista do European Council on Foreign Relations, dizia ao PÚBLICO em Abril que os rebeldes xiitas teriam chegado a Aden mesmo sem o apoio de Teerão.
Agora livre da presença dos rebeldes huthis e dos apoiantes do ex-Presidente Saleh, o Governo iemenita no exílio quer reclamar Aden como o seu novo centro de poder no país. Ao fazê-lo, encontrará um Iémen dividido e numa grave crise humanitária – morreram cerca de 4000 pessoas no país desde Março e perto de 1,2 milhões fugiram de suas casas. No Norte, os rebeldes xiitas aproveitaram a insatisfação com o Governo de Hadi para solidificarem o seu poder. A leste, o braço da Al-Qaeda no Iémen, um dos mais activos e perigosos do grupo, tem aproveitado o vazio de poder no país para conquistar novos territórios.