Israel prende o “número um” da lista de judeus extremistas

Governo promete usar todas as medidas ao seu alcance depois de autorizar detenções indefinidas e métodos agressivos para questionar judeus suspeitos de terrorismo.

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Confrontos entre colonos e soldados israelitas Amir Cohen/Reuters

As autoridades israelitas detiveram o suspeito número um na lista de judeus extremistas dos serviços de segurança interna (Shin Bet). Meir Ettinger, 24 anos, é considerado o líder de um grupo de jovens violentos que levam a cabo ataques contra palestinianos e foi detido após um ataque em que foram incendiadas duas casas palestinianas, queimando um bebé de 18 meses, que morreu, e os seus pais e irmão, que estão em estado grave.

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As autoridades israelitas detiveram o suspeito número um na lista de judeus extremistas dos serviços de segurança interna (Shin Bet). Meir Ettinger, 24 anos, é considerado o líder de um grupo de jovens violentos que levam a cabo ataques contra palestinianos e foi detido após um ataque em que foram incendiadas duas casas palestinianas, queimando um bebé de 18 meses, que morreu, e os seus pais e irmão, que estão em estado grave.

Ettinger é neto do rabino Meir Kahane, fundador do partido Kach, mais tarde ilegalizado por causa das suas posições racistas. Kahane chamou “cães” a árabes em público e foi morto nos Estados Unidos por um tiro de um americano de origem egípcia.

Em Israel, Meir Ettinger já estava na mira do Shin Bet há algum tempo, mas o Ministério Público recusara um pedido para o deter por suspeitas de ataques contra muçulmanos e cristãos. Em vez disso, o suspeito foi proibido de entrar na Cisjordânia ou em Jerusalém, e vivia no norte de Israel. É-lhe atribuído um ataque incendiário contra uma igreja na Galileia no mês passado.

Agora, a nova lei aprovada na segunda-feira permite aplicar a judeus suspeitos de terrorismo as mesmas leis aplicadas aos palestinianos (detenções indefinidas sem acusação, desde que seja reportado ao tribunal, a cada três meses, o progresso nas investigações, sendo que a média de tempo até acusação ou libertação é de entre seis meses e um ano). Caso não colabore com a investigação, Ettinger pode ficar preso indefinidamente.

De nacionalista para terrorista
Não era clara a ligação de Ettinger ao ataque que matou o bebé palestiniano, que levou responsáveis israelitas a usar a palavra “terrorismo”, algo muito raramente aplicado a actos de violência de judeus – normalmente é preferido o termo “crime nacionalista”.

Normalmente, são ataques conhecidos como de “preço a pagar” (price tag), em que os extremistas, na maioria das vezes vivendo em colonatos “selvagens”, ou seja, estabelecidos sem autorização do Estado de Israel, se vingam nos palestinianos (queimando oliveiras, casas, ou danificando mesquitas) por medidas das autoridades israelitas contra os colonatos como demolição de casas nestes locais não autorizados. Os ataques de “preço a pagar” surgiram sobretudo após a retirada por ordem de Israel dos colonatos judaicos da Faixa de Gaza em 2005.

Ettinger é considerado o líder de um grupo de jovens colonos extremistas, que procuram oportunidades para estabelecer pequenos colonatos (por vezes não mais do que uma caravana e eventualmente um pré-fabricado) perto de aglomerados maiores em território desocupado na Cisjordânia, tentando estender o terreno ocupado pelo colonato original.

Suspeita-se que o objectivo do grupo de Ettinger vá além dos ataques de “preço a pagar”: com os ataques contra os palestinianos pretenderiam provocar violência generalizada destes contra o Estado de Israel, e levar à queda do Governo e à criação de um novo regime apoiado nas leis religiosas. O avô de Ettinger defendia que não era possível ter um Estado judaico democrático face ao risco de uma maioria árabe, e dizia que entre o carácter judaico e a democracia escolheria o primeiro.

Num artigo de opinião recente num jornal religioso, Ettinger acusava o Estado de Israel de não reagir à morte de judeus e num post no seu blogue na véspera do ataque às casas palestinianas dizia que não havia nenhuma “rede” extremista mas que cada vez mais judeus “não se regem pelas leis vazias do estado mas pelas leis mais eternas, reais”.

Métodos duros
O ministro da Defesa, Moshe Yaalon, afirmou que o Governo não hesitará em usar métodos como a detenção administrativa “em casos em que seja claro que os indivíduos estão envolvidos em terror, mas não temos provas para os prender”, embora especificasse que será usada com parcimónia por ser “uma das ferramentas mais drásticas a nosso dispor”.

A outra medida que agora poderá ser usada contra judeus foi mencionada pelo ministro da Segurança Interna, Gilad Erdan: técnicas de interrogatório mais duras que são usadas há décadas em suspeitos árabes.

Responsáveis israelitas têm dito que farão tudo para encontrar os responsáveis pelo ataque da semana passada. Apesar de o número de ataques contra palestinianos na Cisjordânia não estar a aumentar, segundo responsáveis citados pelo canal 2 da teelvisão israelita, o tipo de ataques têm sido cada vez mais violentos e com maiores consequências. A organização não-governamental B’Tselem, que supervisiona a actividade nos colonatos, comentou que um ataque como o da semana passada era esperado há muito tempo, porque a política das autoridades israelitas tem vindo a ser fechar os olhos à violência dos colonos sobre palestinianos e “não aplicarem a lei nos casos em que israelitas atacam palestinianos e a sua propriedade.”