Um minúsculo insecto australiano vai combater as acácias em Portugal

Cientistas obtêm autorização para começar a libertar insectos em Outubro.

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O minúsculo insecto australiano, visto á lupa Hélia Marchante

Este tipo de controlo biológico é comum nalgumas circunstâncias – como para reduzir pragas que afectam culturas. No entanto, é a primeira vez que é autorizada, em Portugal, a libertação deliberada de um insecto para controlar directamente uma planta invasora.

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Este tipo de controlo biológico é comum nalgumas circunstâncias – como para reduzir pragas que afectam culturas. No entanto, é a primeira vez que é autorizada, em Portugal, a libertação deliberada de um insecto para controlar directamente uma planta invasora.

Ironicamente, será uma espécie exótica – ou seja, que nunca existiu no país – a combater outra espécie exótica. Este tipo de operação, “se for mal feita, pode dar muito mal resultado”, afirma Hélia Marchante, investigadora do Departamento de Ambiente da Escola Superior Agrária de Coimbra e do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, que há anos trabalha neste projecto. O principal risco seria o de outras plantas virem também a ser afectadas.

Mas neste caso, o insecto escolhido – da espécie Trichilogaster acaciaelongifoliae – tem uma relação específica com a acácia-de-espigas (Acacia longifólia), da qual depende para o seu ciclo reprodutivo. As fêmeas põem os ovos nas gemas das plantas – de onde brotam os ramos ou flores. Com o desenvolvimento das larvas, formam-se bugalhos ou galhas, impedindo o aparecimento das flores. Sem flores não há sementes, e sem sementes não há novas acácias.

Com este método, pretende-se eliminar um dos factores centrais para a proliferação desta praga em Portugal. “Um dos grandes problemas da acácia é que as suas sementes permanecem viáveis no solo por muitos anos”, explica Hélia Marchante. As acácias depois formam povoamentos muito densos, impedido que vingue qualquer outro tipo de vegetação e reduzindo os fluxos de água.

A utilização da minúscula vespa australiana já foi testada na África do Sul, onde o insecto foi libertado na natureza no princípio dos anos 1980. Houve reduções de mais de 85% na produção de sementes da acácia-de-espigas.

Em Portugal, há 12 anos que este projecto está a ser desenvolvido. Foram já feitos testes e ensaios em ambientes confinados. Para chegar à libertação dos insectos, foi preciso ainda passar por um longo processo de autorização, que começou no Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, passou pela Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária e seguiu depois para a Comissão Europeia.

Uma palavra decisiva foi a da Agência Europeia de Segurança Alimentar, a quem Bruxelas pediu uma avaliação do risco de introdução daquele insecto para a Europa. No seu parecer, de Abril passado, a agência concluiu que os riscos eram reduzidos, mas que a libertação deve ser monitorizada. Além disso, os efeitos sobre outras duas espécies de plantas – outra acácia invasora (Acacia retinodes) e a giesta-das-serras (Cytisus striatus) – deveriam ser melhor investigados.

A luz verde foi dada agora e em Outubro deverão começar a ser libertados os insectos, que virão em galhas provenientes da África do Sul. Serão dez a 15 quilos de cada vez. A área inicial do projecto, realizado em colaboração com o ICNF, estende-se entre a Figueira da Foz e São Jacinto. “Não vamos libertá-los em toda a costa”, diz Hélia Marchante.