A difícil arte de controlar a agenda

As campanhas eleitorais são a verdadeira prova de fogo das lideranças.

Com muitos políticos a aproveitarem as duas primeiras semanas de Agosto para ir a banhos, é expectável algum abrandamento da actividade partidária e talvez isso sirva para esfriar o nervosismo pré-eleitoral, que se tem notado nas últimas semanas. Mas com legislativas ali ao virar da esquina, fazer previsões nesta matéria é um risco semelhante aos imponderáveis que os meteorologistas enfrentam quando diariamente lidam com os humores do tempo.

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Com muitos políticos a aproveitarem as duas primeiras semanas de Agosto para ir a banhos, é expectável algum abrandamento da actividade partidária e talvez isso sirva para esfriar o nervosismo pré-eleitoral, que se tem notado nas últimas semanas. Mas com legislativas ali ao virar da esquina, fazer previsões nesta matéria é um risco semelhante aos imponderáveis que os meteorologistas enfrentam quando diariamente lidam com os humores do tempo.

Em democracia, uma das maiores dificuldades da política é o domínio da agenda, ou seja, ter a capacidade, ou a arte, de saber acomodar uma realidade em constante mutação, aos objectivos que se pretendem atingir e aos interesses que se defendem. Ora este exercício só funciona positivamente junto do eleitorado se for prosseguido com coerência e sem malabarismos facilmente desmontáveis. O que não é fácil dado o escrutínio cada vez mais apertado a que estão sujeitos os agentes políticos. Nesta medida, o facto de a coligação ter apresentado um programa que surge numa linha de continuidade com as orientações estratégicas que têm vindo a ser seguidas, não é uma opção necessariamente má. Não ceder a piruetas tácticas nem cair em medidas populares, mas contraditórias com um discurso de quatro anos sobre os fundamentos das políticas de austeridade do Governo, isso sim, teria efeitos adversos para as ambições da actual maioria.

Da mesma forma, também dificilmente o PS será afectado pela situação de José Sócrates – seja ela qual for. António Costa tem vindo a seguir religiosamente a linha de coerência que estabeleceu logo a seguir à prisão do ex-líder socialista e nem as sucessivas tentativas de Sócrates colar o seu destino ao do partido, o demoveu do rumo traçado. Que era, antes de mais separar o PS, enquanto instituição, de eventuais actividades sancionáveis cometidas por qualquer figura de proa do partido. Daí os sinais para fora, visíveis no programa eleitoral, ao estabelecer uma malha apertada de regras no que respeita à transparência em áreas tão sensíveis como as obras públicas; e a imposição de um “compromisso ético” aos candidatos socialistas que, entre outros aspectos relevantes, proibe o “lobbying” e a participação “em negócios do Estado “. Curiosamente, o partido não lhe cobrou estas mudanças estruturantes. Rebelou-se nas listas e Costa foi claramente incapaz de dominar uma agenda política, que durante vários dias mostrou um PS dividido e descontrolado. Talvez só comparável aos tiros no pé da coligação que, subitamente, se deixou tomar pela febre eleitoralista. Primeiro, foi a declaração de Passos a deixar cair os cortes nas pensões a pagamento no âmbito da reforma Segurança Social; depois, foi o anúncio de que os médicos graduados vão ter uma subida significativa nos salários; logo a seguir, a abertura de um concurso para a entrada de mais de 2800 funcionários nas escolas… E o que mais se verá. Preocupações com as sondagens? Talvez sim ou talvez não. Mas será este um método eficaz de contornar uma realidade adversa?