França e Reino Unido pedem ajuda à UE para enfrentar situação em Calais
Cameron continua a ser alvo de críticas: Suécia acusa-o de “manipular” a crise; Igreja de Inglaterra de “falta de compaixão”
A situação não é nova – há 15 anos que há imigrantes acampados na cidade do Norte da França – mas com a crise actual de refugiados e deslocados (60 milhões, o maior número desde que há registos da ONU) e as guerras que levam milhares a tentar chegar à Europa, o número de imigrantes ali também cresceu, sem que nenhum dos dois países envolvidos tenha feito nada para lidar com isso.
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A situação não é nova – há 15 anos que há imigrantes acampados na cidade do Norte da França – mas com a crise actual de refugiados e deslocados (60 milhões, o maior número desde que há registos da ONU) e as guerras que levam milhares a tentar chegar à Europa, o número de imigrantes ali também cresceu, sem que nenhum dos dois países envolvidos tenha feito nada para lidar com isso.
“Não há soluções fáceis – e não cabe ao Reino Unido e à França resolver este problema sozinhos”, escrevem numa carta publicada no jornal Sunday Telegraph os ministros do Interior Bernard Cazeneuve e Theresa May. “Muitos que estão em Calais e tentam atravessar o canal chegaram vindos da Grécia, Itália, de outros países. É por isso que pressionamos outros Estados – e o conjunto da União Europeia – a enfrentar este problema na sua raiz”, acrescentam os governantes.
O problema é que a raiz deste problema são as guerras síria, afegã ou sudanesa, mais as perseguições que muitos enfrentam na Etiópia e na Eritreia. Dos cinco a dez mil imigrantes que se estima estarem actualmente em Calais, a maioria cumprem requisitos para pedirem asilo.
Do lado de cá, a raiz do problema é ausência de uma política comum para lidar com este drama – nem há uma estratégia nem os critérios para requerer asilo são iguais. E se é verdade que muitos dos que chegam ao canal que liga a Europa continental ao Reino Unido já passaram por ilhas gregas e pelo Sul da Itália, o facto é que estes países albergam dezenas de milhares de pessoas e continuam à espera de ver concretizado um plano da Comissão Europeia para dividir estes refugiados pelos vários estados membros.
Entretanto, nos países do Sul, em Calais, ou junto à fronteira com a Hungria, que está a construir um muro de quatro metros de altura para evitar a entrada de imigrantes que chegam à Sérvia vindos da Síria e dos Balcãs, milhares de pessoas sobrevivem como podem. Na Sérvia, por exemplo, contam com o apoio do Governo; em Calais, resta a ajuda de várias ONG. E no desespero de tentar tudo para chegar ao Reino Unido, já dez pessoas morreram desde o início de Junho.
Para já, o que franceses e britânicos têm feito é anunciar milhões de euros a reforçar o policiamento e os muitos quilómetros de vedações já existentes em redor dos parques de estacionamento dos camiões de mercadorias que esperam pelos ferries ou do túnel ferroviário do canal.
Domingo, o bispo Trevor Willmott da Igreja de Inglaterra, cuja paróquia inclui os 30 quilómetros de mar que separam os dois países, criticou a “falta de humanidade e compaixão” do Governo. “Tornámo-nos num mundo cada vez mais duro, e quando nos tornamos duros uns com os outros e esquecemos a nossa humanidade acabamos nestas situações de impasse”, disse Willmott, numa entrevista ao semanário Observer.
O ministro da Justiça e das Migrações sueco acusou, por seu turno, Cameron de “manipular politicamente” a questão de Calais. Em declarações ao canal 4 da BBC Radio, Morgan Johansson pediu ao conjunto da UE para receber mais requerentes de asilo – a Suécia é país que recebe mais gente, seguido da Alemanha; em 2014, aceitou 30 mil refugiados, enquanto o Reino Unido se ficou pelos 10 mil.
“Oiço o que Cameron tem dito sobre imigrantes ilegais, enxames [de pessoas] e tudo isso”, disse Johansson. “Penso que ele está a manipular a questão, quer dividir as pessoas, nada disto é construtivo.”