No laboratório dos Chemical Brothers
Vinte anos depois, um dos melhores álbuns do duo
Perante uma banda com um percurso de 20 anos no campo da cultura pop, como os ingleses Chemical Brothers, a tentação é encarar esse trajecto como descendente ou ascendente. No nosso caso, nem uma coisa nem outra. Parece-nos um percurso modelar, com altos e baixos. Ao contrário do que aconteceu com a maior parte dos indefectíveis do duo, os seus álbuns iniciais (
Exit Planet Dust, de 1995, ou
Dig Your Own Hole, de 1997), ainda hoje os mais festejados, não nos conquistaram, apesar de ser compreensível a aura à volta desses discos, lançados numa altura em que a música de dança se abria às massas, convertendo muitos roqueiros. Nessa perspectiva foram tão importantes os Chemical Brothers como Underworld, Prodigy, Fatboy Slim ou Daft Punk. Depois dessa euforia dos anos 1990, a indústria da música de dança — não necessariamente a música em si — que havia alimentado o sucesso de projectos como os Chemical Brothers entrou em retrocesso. E nos últimos anos, já depois de os franceses Justice terem tentado reactivar a fórmula da música de dança para massas (a mesma que agora os Disclosure também ensaiam com mais sucesso), eis que ela tem sido posta à prova — com grande eficácia comercial mas com resultados artísticos que deixam muito a desejar — por nomes como Calvin Harris, Tiësto, David Guetta ou Hardwell.
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Perante uma banda com um percurso de 20 anos no campo da cultura pop, como os ingleses Chemical Brothers, a tentação é encarar esse trajecto como descendente ou ascendente. No nosso caso, nem uma coisa nem outra. Parece-nos um percurso modelar, com altos e baixos. Ao contrário do que aconteceu com a maior parte dos indefectíveis do duo, os seus álbuns iniciais (
Exit Planet Dust, de 1995, ou
Dig Your Own Hole, de 1997), ainda hoje os mais festejados, não nos conquistaram, apesar de ser compreensível a aura à volta desses discos, lançados numa altura em que a música de dança se abria às massas, convertendo muitos roqueiros. Nessa perspectiva foram tão importantes os Chemical Brothers como Underworld, Prodigy, Fatboy Slim ou Daft Punk. Depois dessa euforia dos anos 1990, a indústria da música de dança — não necessariamente a música em si — que havia alimentado o sucesso de projectos como os Chemical Brothers entrou em retrocesso. E nos últimos anos, já depois de os franceses Justice terem tentado reactivar a fórmula da música de dança para massas (a mesma que agora os Disclosure também ensaiam com mais sucesso), eis que ela tem sido posta à prova — com grande eficácia comercial mas com resultados artísticos que deixam muito a desejar — por nomes como Calvin Harris, Tiësto, David Guetta ou Hardwell.
É nesse contexto que é agora editado o oitavo álbum dos ingleses. E sejamos claros: é um dos seus melhores registos de sempre, congregando inevitáveis marcas reconhecíveis do passado (as progressões épicas ou os traços hip-hop pintados de forma excessiva, como em Go, o single que conta com a voz do histórico rapper Q-Tip), mas não se ficando por aí, assumindo a atitude aventureira relaxada de quem não quer provar nada e se limita a fazer o que lhe apetece sem quaisquer compromissos.
Daí tanto resultam temas que imaginamos tocados para grandes multidões (EML ritual, Reflexion) como momentos de certa bizarria (Taste of honey, Radiate) e algumas das melhores canções que o duo já foi capaz de fabricar, como a intrigante Under neon lights (com St. Vincent), a planante Wide open (com Beck), que poderia ser a melhor canção dos New Order dos últimos anos, ou Born in the echoes (com Cate Le Bon), que parece evocar experiências do rock electrónico alemão dos anos 1970.
Já agora vale a pena adquirir a versão longa do álbum, com mais dois originais e duas versões, que merecem a audição. E eis que os Chemical Brothers, 20 anos depois do início, sem grandes alaridos, lançam um dos seus melhores álbuns.