Há química nova no cometa 67P, um lugar poeirento marcado pela erosão

Sete artigos na revista Science trazem novidades sobre a geologia, a química e a geografia do cometa 67P. Resultam das observações da sonda File durante a sua descida até ao cometa.

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O cometa 67P visto a partir da sonda File quando esta se libertou da Roseta para aterrar nele ESA

Tudo indica que os cometas se formaram há muito tempo, no início da formação do nosso sistema solar. Por isso, a identificação daquelas moléculas, muitas delas com átomos de azoto, é importante para compreender as condições iniciais do ambiente onde se formou a Terra e mais tarde surgiu a vida. “A complexidade da química do núcleo do cometa e a importância de moléculas orgânicas com azoto implicam que a química existente no início do sistema solar permitiu a formação de material pré-biótico”, conclui-se num dos artigos, assinado por Fred Goesmann, do Instituto Max Planck para a Investigação do Sistema Solar, na Alemanha, e colegas.

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Tudo indica que os cometas se formaram há muito tempo, no início da formação do nosso sistema solar. Por isso, a identificação daquelas moléculas, muitas delas com átomos de azoto, é importante para compreender as condições iniciais do ambiente onde se formou a Terra e mais tarde surgiu a vida. “A complexidade da química do núcleo do cometa e a importância de moléculas orgânicas com azoto implicam que a química existente no início do sistema solar permitiu a formação de material pré-biótico”, conclui-se num dos artigos, assinado por Fred Goesmann, do Instituto Max Planck para a Investigação do Sistema Solar, na Alemanha, e colegas.

Nunca nenhuma missão espacial tinha feito descer um aparelho até a um cometa. Quando lançaram a missão da Roseta, os cientistas da ESA queriam obter uma radiografia com um detalhe inédito da física destes corpos celestes, especialmente conhecidos por surgirem no céu nocturno terrestre com a sua cabeleira e cauda.

Os cometas vêm de regiões mais exteriores do sistema solar. À medida que se aproximam do Sol, a radiação e vento solares aquecem-nos e libertam material criando a cabeleira e a cauda. O 67P tem uma órbita que vai desde Júpiter até um ponto entre Marte e a Terra. Em Agosto, irá atingir o ponto mais próximo do Sol, mas é impossível vê-lo da Terra sem um telescópio.

Quando a File aterrou, o 67P viajava ainda para lá de Marte e estava pouco activo. O cometa tem cerca de quatro quilómetros de comprimento e faz lembrar um pato, com uma cabeça pequena e um corpo maior. A File estava programada para cair no topo da cabeça do “pato”, agarrando-se com arpões. Infelizmente, os arpões não dispararam e a sonda ressaltou, bateu depois contra a borda de uma cratera, voltou a ser lançada para o ar, caiu de novo e ressaltou mais uns metros, até que finalmente estacionou.

Estava previsto que o aparelho fosse alimentado pelo Sol, mas o local onde está – chamado Abido – é junto de uma escarpa e apanha pouca luz. As baterias que a sonda levava duraram três dias e o aparelho adormeceu. Desde então, a Roseta (que continuou a orbitar o cometa e a obter dados) foi estando atenta para ver se a File voltava a acordar. A 14 de Junho, a ESA anunciou que a File tinha entrado em contacto com a Roseta. A proximidade do cometa ao Sol fez com que o aparelho recebesse luz suficiente. Mas desde 9 de Julho não há notícias da sonda. Não se sabe se o aparelho está inactivo ou se há problemas de transmissão de dados entre a File e a Roseta. Segundo os responsáveis, a última hipótese de ouvirmos de novo a sonda é em Outubro. 

De qualquer forma, a aventura de Novembro produziu informação abundante sobre o cometa. A detecção das novas moléculas orgânicas, feita pelo Cosac – um espectrómetro de massa instalado na File –, aconteceu quando a sonda ressaltou a primeira vez e levantou poeiras do chão do cometa.

Os saltos dados pela sonda ajudaram ainda a analisar as propriedades do solo do 67P. No primeiro lugar onde caiu, a análise do salto da File mostrou à equipa de Stephan Ulamec, do Centro Aeroespacial Alemão, que a superfície parece ali ser suave e granular, mas há uma camada rígida 20 centímetros abaixo da superfície. Já a superfície do local onde o aparelho acabou por estacionar é rígida.

O interior da cabeça do cometa é constituído por uma grande percentagem de poeiras e é muito poroso. A descoberta, de Wlodek Kofman, do Instituto de Planetologia e Astrofísica de Grenoble, em França, e colegas, só foi possível graças ao Consert, um aparelho a bordo tanto da File como da Roseta, que emite e recebe ondas rádio. As ondas são emitidas por um dos aparelhos, atravessam o núcleo do cometa e são recebidas pelo outro aparelho. Ao atravessar o corpo, as ondas desaceleram, o que permite inferir a composição do material. 

Durante a descida da File, a câmara Rolis entrou em acção e tirou várias fotografias da superfície do 67P. “As imagens revelam um terreno topograficamente suave, caracterizado por ondulações suaves ao longo de dezenas de metros”, explica um dos artigos, assinado por Stefano Mottola, do Centro Aeroespacial Alemão, e outros cientistas.

Nestas fotografias, os investigadores descobriram ainda uma forma de erosão. A superfície ao lado de calhaus, um deles com cinco metros de comprimento, apresenta uma espécie de cova. Do lado oposto, há uma camada de material que se sobrepõe aos calhaus como se fosse um avental. Na Terra ou em Marte, este fenómeno é causado pela erosão do vento que arrasta material de um dos lados de um obstáculo, como os calhaus, e provoca a acumulação de material do outro lado do obstáculo. No cometa, os cientistas propõe que, em vez do vento, a erosão é causada por partículas que caem do ar e arrastam o material à superfície.

A introdução deste dossier especial da Science, escrita por cientistas da missão da Roseta, explica a importância mais alargada destas descobertas: “Apesar de ficar por confirmar se estas observações são verdadeiras para todos os cometas, as descobertas da File vão continuar a moldar a nossa visão da história do sistema solar.”