São Carlos: à falta de ovos, uma boa salada
Com seis programas operáticos no Teatro Nacional de São Carlos, mais um espectáculo de iniciativa do D. Maria II, a dieta lírica está para ficar.
Assim sendo, o nosso teatro de ópera fica privado de um dos instrumentos privilegiados para a projecção e rentabilização da sua actividade: a co-produção internacional envolvendo teatros congéneres, que requer planificação e garantias de financiamento a médio e longo prazo. Também a itinerância, a formação de cantores e os programas educativos continuarão adiados ou na míngua. Com seis programas operáticos no TNSC (mais um espectáculo de iniciativa do Teatro Nacional D. Maria II), a dieta lírica está para ficar.
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Assim sendo, o nosso teatro de ópera fica privado de um dos instrumentos privilegiados para a projecção e rentabilização da sua actividade: a co-produção internacional envolvendo teatros congéneres, que requer planificação e garantias de financiamento a médio e longo prazo. Também a itinerância, a formação de cantores e os programas educativos continuarão adiados ou na míngua. Com seis programas operáticos no TNSC (mais um espectáculo de iniciativa do Teatro Nacional D. Maria II), a dieta lírica está para ficar.
Mas se há falta de ovos para fazer omeletas e contentar a grande plateia, a dieta de 2015-2016 não foi mal doseada. Uma partitura de Verdi (a informação disponibilizada menciona co-produção com entidade desconhecida, sem nome de encenador ou cenógrafo) e outra de Puccini (adaptação de uma produção da Opera North); uma ópera do século XVIII (Gluck), outra do século XX (Poulenc) e ainda outra de 2006 (Adams); e uma obra portuguesa de 1789 (Cordeiro da Silva). Acresce a colaboração na estreia, no Teatro D. Maria II, de uma ópera de Jacinto Lucas Pires e Nuno Maló, mais conhecido como compositor de música para filmes. Para este resultado concorreram os nutricionistas da casa, que são do mais competente que Portugal tem. A marca de João Paulo Santos está patente na escolha de Poulenc e de Cordeiro da Silva, enquanto Joana Carneiro aproveitou o facto de já conhecer a ópera de Adams e estar envolvida numa co-produção da mesma prevista para Fevereiro, em Göteborg. Patrick Dickie terá recomendado a produção pucciniana de Leeds e fará o gosto ao dedo na produção nacional de Gluck, recorrendo à rica cena britânica de música antiga e a um badalado encenador americano. Não haverá reposição de produções antigas. No Outono teremos apenas uma ópera, havendo cinco novos cartazes distribuídos de Fevereiro a Junho. Contando o número de récitas, serão oferecidos espectáculos encenados em São Carlos só em 25 dias, ao longo de todo o ano.
Na verdade, a missão do TNSC, tal como está definida, é praticamente impossível de concretizar. Dispõe de uma orquestra que acumula as funções de Orquestra Sinfónica, de Orquestra de Ópera e de Orquestra de Bailado. Como Orquestra Sinfónica, é suposto ter uma temporada regular no Grande Auditório do CCB, mas esta resume-se a seis concertos durante o ano, a que acrescem três noutras salas e um Requiem coral-sinfónico, impropriamente incluído na Temporada Lírica. Como Orquestra de Ópera actua durante menos de 30 dias e está sobredimensionada, não cabendo senão parcialmente no fosso, dando origem, no melhor dos casos, a desdobramentos ad-hoc. Como Orquestra de Bailado só actua em dois programas da Companhia Nacional, perfazendo 27 dias de actuação. O coro, formado para a ópera, parece ser obrigado a inventar trabalho nas épocas mortas para se justificar, sem que com isso a sua personalidade artística cresça de forma consistente. Sem companhia ou solistas residentes, o TNSC não tem meios humanos para sustentar um esforço continuado de promoção da ópera junto dos públicos nacionais. Os santos da casa são poucos, e não fazem milagres.