Polícia angolana carregou sobre manifestantes em Luanda
Rádio ligada à oposição foi cercada em Luanda, antes da manifestação de solidariedade com activistas detidos. Em Lisboa, gritou-se “Basta”.
Os manifestantes pretendiam dirigir-se à zona central do Largo da Independência, para onde o protesto foi convocado, e conseguiram a certa altura “furar” o dispositivo policial, segundo a Rede Angola. Mas foram perseguidos, de acordo com o site e outros órgãos de informação, incluindo a Agência Lusa e a rádio francesa RFI. Os jornalistas que cobriam o protesto foram expulsos do local.
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Os manifestantes pretendiam dirigir-se à zona central do Largo da Independência, para onde o protesto foi convocado, e conseguiram a certa altura “furar” o dispositivo policial, segundo a Rede Angola. Mas foram perseguidos, de acordo com o site e outros órgãos de informação, incluindo a Agência Lusa e a rádio francesa RFI. Os jornalistas que cobriam o protesto foram expulsos do local.
Ainda antes do episódio que marcou o protesto de Luanda, Adolfo Campos, um dos activistas anti-regime, disse que tinham já sido detidos 17 jovens no município de Viana, na capital. Esses detidos estariam ligados à organização da manifestação da tarde.
A concentração pretendia ser uma “manifestação pacífica” contra a “violação dos direitos humanos" e as “prisões arbitrárias” de dezena e meia de activistas detidos há mais de um mês em diversas cadeias da capital. Mas Pedro Pedrowski, um dos organizadores, tinha manifestado preocupação pela eventualidade de uma intervenção policial.
Os organizadores informaram ter participado por escrito ao Governo Provincial de Luanda a realização da manifestação contra a detenção de 16 activistas, a 20 de Junho, na capital, e de um em Cabinda, há mais de quatro meses. Mas o segundo comandante da Polícia Nacional, Salvador Rodrigues, disse desconhecer qualquer manifestação “autorizada”.
Os detidos em Junho permanecem sem acusação formal. A Procuradoria angolana considera que estariam a preparar um atentado contra o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, no âmbito de um alegado golpe de Estado. “Eles queriam alterar o presente quadro, quer o Presidente da República, a Assembleia Nacional e, portanto, houve de facto a necessidade de intervenção para não permitir que houvesse uma insurreição na sociedade”, disse o vice-procurador-geral, Helder Pita Grós, numa entrevista à TPA - Televisão Pública de Angola.
Ao início da tarde, segundo o Rede Angola, o Largo da Independência foi cercado por polícias. No recinto estavam cerca de três dezenas de pessoas, maioritariamente membros da JMPLA, juventude do partido governamental, numa iniciativa vista pelos activistas anti-regime como contra-manifestação. Para o largo, acrescentou o site, foram encaminhados grupos de crianças às quais foram oferecidas T-shirts do MPLA. Só a elas, e a membros da organização partidária juvenil, era permitida a entrada no perímetro central.
Antes de serem dispersados, os manifestantes anti-regime ainda gritaram, segundo repórteres no local, palavras de ordem como: “Queremos os nossos irmãos”, semelhantes às que, um par de horas depois, sem restrições, haveriam de ser gritadas em Lisboa, por cerca de centena e meia de pessoas que se reuniram numa acção de solidariedade com os detidos.
“Libertem os nossos irmãos”, gritou um angolanos que subiu ao pequeno palanque montado no Largo de São Domingos, junto ao Rossio, onde a música intercalou com discursos de quem quis falar. “Libertem os nossos irmãos”, responderam em coro os presentes. “Liberdade”, gritou. “Liberdade”, repetiram.
"Libertação já"
“Estamos aqui para dizer: Chega e basta”, disse outro. “Basta, basta”, responderam os manifestantes que acorreram ao apelo de cerca de uma dezena de organizações de defesa dos direitos humanos, incluindo a Amnistia Internacional, apoio a imigrantes e partidos angolanos da oposição.
Em cartazes empunhados em Lisboa também constavam as mensagens que os organizadores pretendiam transmitir: “Libertação já”, “Não às prisões arbitrárias”, “Basta de Repressão em Angola”.
Entre os presentes estavam participantes num dos vídeos de apelo à libertação dos detidos, como a cantora Aline Frazão, o artista Pedro Coquenão e o escritor José Eduardo Agualusa. Para este, a actual contestação “é a maior ofensiva da sociedade civil contra o regime, e o regime não está a saber responder”. “É um movimento difícil de parar mesmo supondo que toda a gente seja solta amanhã”, disse ao PÚBLICO.
Horas antes do início do protesto de Luanda, a sede da Rádio Despertar, ligada ao principal partido da oposição, a UNITA, foi cercada por agentes da Polícia Nacional, denunciou o director-adjunto, Queirós Chiluvia. Foi detido um jornalista destacado para fazer reportagem dos preparativos da manifestação convocada para o centro de Luanda.
“Estamos sitiados desde as 10h. Todo o quintal da Despertar está cercado neste momento por agentes da Polícia Nacional, alguns fardados e outros à paisana”, disse Queirós Chiluvia ao Rede Angola. O detido é o jornalista Gonçalves Vieira. O director-adjunto acredita que foi uma forma de impedir a cobertura do protesto convocado para o Largo da Independência.