Obama defende "mais espaço para os jornalistas e a oposição" na Etiópia
Ambiente bem menos efusivo na chegada do Presidente norte-americano a Addis Abeba, depois da visita ao Quénia. Segurança e direitos humanos estão na agenda de Obama.
São muitos os desafios que Barack Obama terá pela frente nestes dois dias em solo etíope. Tal como na visita ao vizinho Quénia, o principal desígnio da presença do Presidente norte-americano na Etiópia é o reforço da cooperação económica entre os dois países. Um pilar diplomático importante, tendo em conta que, em 2009, a China ultrapassou os EUA e é, actualmente, o maior parceiro económico de África.
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São muitos os desafios que Barack Obama terá pela frente nestes dois dias em solo etíope. Tal como na visita ao vizinho Quénia, o principal desígnio da presença do Presidente norte-americano na Etiópia é o reforço da cooperação económica entre os dois países. Um pilar diplomático importante, tendo em conta que, em 2009, a China ultrapassou os EUA e é, actualmente, o maior parceiro económico de África.
Tal como deixou claro em Nairobi, Obama está a valer-se deste roteiro pela África de Leste para enfatizar o seu posicionamento contra a corrupção e os vários tipos de descriminação que existem na região. Nesse espírito, a visita da sua comitiva à Etiópia traz consigo outras motivações, que não as estritamente económicas, carregadas de maior simbolismo, principalmente o reforço da cooperação no combate ao terrorismo e ao grupo islamista somali Shabab, e a busca de uma resolução para o conflito no Sudão do Sul, uma das primeiras bandeiras da política externa da Administração Obama para África.
Para além de ser o primeiro chefe de Estado norte-americano em funções a visitar a Etiópia, Barack Obama fará história por outros motivos. Na terça-feira, irá discursar perante os membros da União Africana, a organização continental onde estão representados 54 países do continente, liderada por Robert Mugabe. Diz o jornal britânico The Guardian que o também Presidente do Zimbabwe não marcará presença no evento.
Durante uma conferência de imprensa, esta segunda-feira, em Addis Abeba, capital da Etiópia, Obama apareceu lado a lado com Hailemariam Desalegn, o primeiro-ministro etíope, e falou sobre os temas que farão parte do debate, desde a economia ao terrorismo. Depois, congratulou o “desenvolvimento recorde” conseguido pelo país, que retirou “milhões de pessoas da pobreza nos últimos 15 anos”. Enalteceu ainda o trabalho recente do actual Governo, nomeadamente o papel activo no crescimento económico – o Banco Mundial diz que a Etiópia registou um crescimento anual de 10%, nos últimos cinco anos.
Face às perguntas dos jornalistas sobre as restrições do Governo à liberdade de expressão no país, Obama foi diplomático e, após dizer que iria debater esse e outros assuntos com Desalegn, confessou ter confiança no Governo eleito, cujo partido (Frente Revolucionária Democrática do Povo Etíope - EPRDF) está no poder há cerca de 25 anos.
“O partido do Governo tem uma abrangência e popularidade significativas (…) [para] abrir espaço adicional para os jornalistas, os media ou as vozes da oposição reforçarem, em vez de inibirem, a agenda que o primeiro-ministro e o partido no poder apresentaram”, disse o Presidente norte-americano, citado pela agência Reuters.
Ora são precisamente as acusações, por parte de ONG de direito humanos, como a Amnistia Internacional ou a Human Rigths Watch, de práticas pouco democráticas do actual Governo, que activistas e não só, esperam ver levantadas e debatidas por Obama.
As eleições de Maio de 2015, que resultaram na atribuição da totalidade dos lugares do parlamento etíope ao EPRDF e à sua coligação, levantaram suspeitas destas organizações sobre uma possível fraude na contagem dos votos
“Não queremos que esta visita [de Obama] seja utilizada para sanear uma administração que é conhecida por violar direitos humanos”, disse Abdullahi Halakhe, da Amnistia, citado pela televisão britânica BBC, sugerindo que a presença do Presidente norte-americano na Etiópia poderá ser vista como uma espécie de legitimação das práticas do Governo de Desalegn.
Texto editado por Sofia Lorena