A médica a quem mais de 30 mil pessoas devem a visão
Há 20 anos que a oftalmologista Helena Ndume mobiliza voluntários para a ajudarem a devolver a visão aos que menos têm no seu país, a Namíbia. Sexta-feira recebe em Nova Iorque o Prémio Nelson Mandela que, na sua primeira edição, homenageia ainda Jorge Sampaio.
Nascida na Namíbia, então ocupada pela África do Sul, Ndume foi forçada a viver no exílio a partir dos 15 anos, tendo passado pela Zâmbia, Gâmbia e Angola. Em miúda, queria ser designer de moda, mas as circunstâncias levaram-na a escolher outro caminho. “Numa Namíbia independente vamos precisar de médicos, não de designers de moda”, disse-lhe então Nahas Angula, que haveria de ser primeiro-ministro da Namíbia entre 2005 e 2012.
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Nascida na Namíbia, então ocupada pela África do Sul, Ndume foi forçada a viver no exílio a partir dos 15 anos, tendo passado pela Zâmbia, Gâmbia e Angola. Em miúda, queria ser designer de moda, mas as circunstâncias levaram-na a escolher outro caminho. “Numa Namíbia independente vamos precisar de médicos, não de designers de moda”, disse-lhe então Nahas Angula, que haveria de ser primeiro-ministro da Namíbia entre 2005 e 2012.
Ela assim fez. Em 1989, formou-se em Medicina na universidade alemã de Leipzig. Regressou à Namíbia para começar a trabalhar, mas depressa percebeu que faziam falta oftalmologistas. Fez a especialidade de novo em Leipzig e nunca mais parou de trabalhar para devolver a visão aos outros – é por isso que se tornou, juntamente com Jorge Sampaio, na primeira laureada do Prémio Nelson Rolihlahla Mandela das Nações Unidas, que esta sexta-feira vai ser entregue em Nova Iorque.
Chefe de Oftalmologia no Hospital Central de Windhoek, a capital da Namíbia, Ndume integra há 20 anos a Surgical Eye Expeditions (SEE), uma organização não-governamental, criada em 1974 na Califórnia, dedicada a tratar a cegueira. A partir daí, Ndume conseguiu que voluntários da SEE e de outras ONG internacionais passassem a viajar todos os anos até à Namíbia, onde ela organiza clínicas temporárias para tratar doenças relacionadas com a visão por todo o país.
É aqui que se oferecem cirurgias aos que não têm como pagar por um procedimento simples, que muitas vezes não demora mais de 30 minutos e custa menos de cem euros. Só na Namíbia, a médica já ajudou 30 mil pessoas a recuperarem a visão com cirurgias e procedimentos gratuitos. A maioria sofria de cataratas ou miopia. Com o sucesso alcançado, já tem planos para expandir o projecto para Angola.
“Ndume é uma mulher extraordinária”, diz Mike Colvart, da SEE. “É incansável, é uma médica incrível, muito capaz, que consegue motivar as pessoas e tem conseguido que o Governo da Namíbia a apoie a ela e aos colegas”, descreveu à CNN. “Ela não pára de trabalhar, 12 horas por dia, sete dias por semana.”
Este Verão, a cirurgiã vai colaborar em três programas com a SEE - um na República Democrática do Congo e os dois habituais na Namíbia. Segundo a ONG, 700 pessoas “deverão recuperar a visão e a sua independência ao longo dessas três semanas”.
Para além do trabalho como médica, Ndume foi vice-presidente da Cruz Vermelha no seu país entre 2001 e 2007. Em Windhoek, lê-se no site da SEE, “muitos dos seus pacientes chamam-lhe ‘a médica milagre da Namíbia’”.
Nunca se arrependeu de ter abandonado o sonho de adolescente. “Não há dinheiro no mundo capaz de pagar a alegria de alguém que foi cego durante tantos anos e que, de repente, recupera a visão”, diz. “Estamos a mudar a vida de tantas pessoas, quando alguém pode ver torna-se produtivo para o país, pode tomar conta dos seus netos, contribuir para a economia, é muito, muito bom.”
“Se damos, recebemos de volta, e receber é ver as pessoas a irem para casa com os rostos iluminados, satisfeitos", descreve. "Primeiro, chegam deprimidas e depois vão-se embora a ver de novo, isso é tão recompensador. Faz com que queiramos não parar de o fazer.”