O auto-elogio de quatro anos de Governo em 90 páginas
Executivo lançou esta quinta-feira um documento síntese das reformas, políticas e medidas que adoptou nesta legislatura. E escolheu a imagem de uma onda perfeita para o ilustrar. Programa eleitoral da coligação deverá ter como base boa parte deste documento.
O texto de introdução do documento é, no fundo, um resumo dos discursos que tanto Pedro Passos Coelho como Paulo Portas têm feito no último ano, onde se procura vincar a diferença entre o Portugal de 2011 e o de hoje. Nem este texto está assinado nem em lugar algum do documento se atribui a sua autoria a qualquer ministério ou departamento – apenas ao “Governo de Portugal”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O texto de introdução do documento é, no fundo, um resumo dos discursos que tanto Pedro Passos Coelho como Paulo Portas têm feito no último ano, onde se procura vincar a diferença entre o Portugal de 2011 e o de hoje. Nem este texto está assinado nem em lugar algum do documento se atribui a sua autoria a qualquer ministério ou departamento – apenas ao “Governo de Portugal”.
Na introdução encontram-se os chavões repetidos à exaustão como a “situação dramática”, a “verdadeira emergência nacional”, os “perigos que nos cercavam”, “desequilíbrios e rupturas gravíssimas”, “sequência infindável de estagnação”, “iminente ruptura financeira”, “deterioração das contas públicas”, “a mais grave crise financeira da nossa história democrática” – assim era 2011.
“Qualquer balanço da actividade governativa supõe que se perceba com rigor o ponto de partida”, justifica o texto, que realça a dicotomia entre o cenário de então e o de agora, na perspectiva do Governo.
“Em 2011, o desemprego disparava. Hoje, o desemprego desce consistentemente. A economia estava em queda livre e hoje o crescimento está a acelerar. O endividamento do país – externo, privado e público – era uma ameaça à nossa existência como comunidade política democrática e independente com uma economia social de mercado. Hoje, temos excedentes externos consistentes, e a dívida privada e pública estão a descer”, enumera-se.
Mas não há referência a cenários intercalares do desemprego, da estagnação económica, da emigração, da taxa de portugueses a viver abaixo do limiar de pobreza ou do encerramento de empresas. Nem aos cortes nos salários, pensões e regimes de atribuição de prestações sociais entretanto realizados.
E continua, entre outras comparações sempre favoráveis ao presente: “Em 2011, éramos vistos com desconfiança pelos nossos parceiros e aliados. Hoje, temos a confiança e o respeito por todos. Em 2011, parecia que estávamos condenados a nos afogarmos num período terrível e prolongado de colapso económico, social e político. Hoje, com muitos sacrifícios e determinação, reconquistámos o nosso futuro.”
Não há falsas modéstias: “Empreendemos a maior reforma estrutural do Portugal democrático.” O documento está recheado de repetições de verbos como “aprovámos”, “corrigimos”, “lançámos”, “equipámos”, “criámos”, “promovemos”, “assegurámos”, “implementámos”, “definimos”, “reformámos”, “liderámos”, “melhorámos”, “consagrámos”, “reequilibrámos”, “conseguimos”, “apoiámos”, “negociámos”.
São estas formas verbais, sempre na primeira pessoa do plural, que iniciam grande parte das exaustivas enumerações de políticas e medidas tomadas em oito grandes áreas em que o Governo divide a sua actuação nesta legislatura: “Modernizar o Estado”, “Maior equidade social”, “Democratizar e modernizar a economia”, “Valorizar os recursos naturais do território”, “Mais segurança e mais soberania”, “Investir nas próximas gerações”, “Portugal no mundo”, e “Uma sociedade mais democrática, com mais cultura, pluralismo, igualdade e inclusão”.
“O trabalho feito foi tão amplo e minucioso que a extensão da lista do que alcançámos pode parecer fastidiosa”, avisa o texto da introdução. O documento não pretende, no entanto, ser um mero prestar de contas. Antes pelo contrário, faz questão de deixar a porta aberta: “Temos muito que fazer pela frente. Mas o nosso futuro será construído em cima das bases que lançámos nestes quatro anos.”
“Não podemos pôr tudo isto em risco com estratégias incoerentes e irreflectidas”, salienta-se, como o têm feito incansavelmente Passos e Portas. “A recuperação que hoje vivemos, e que tanto esforço exigiu aos portugueses, tem de ser protegida, fortalecida e acelerada. Não pode ser revertida”, remata o texto.
Não será despiciendo o facto de o documento ser lançado esta quinta-feira, em vésperas de os dois líderes apresentarem em conjunto o programa eleitoral da coligação, marcada, segundo o Expresso, para a próxima terça-feira, na Gare Marítima de Alcântara – onde Passos lançou o seu livro Mudar, que abriu a sua candidatura a líder do PSD. Antes disso, Passos estará entre os seus, na tradicional festa do Chão da Lagoa, a acompanhar a estreia de Miguel Albuquerque naquele evento com líder do PSD-Madeira.