Turquia ataca Estado Islâmico pela primeira vez
Base área de Incirlik, no sul do país, deve finalmente ficar acessível aos aviões da coligação contra os jihadistas.
Este confronto directo sucede num clima de grande tensão entre o Estado turco e a minoria curda, após o atentado suicida de segunda-feira em Suruç, outra localidade no Sul, perto da fronteira com a Síria, em que morreram 32 pessoas e cerca de 100 ficaram feridas, numa associação de militantes da causa curda que pretendiam ir ajudar à reconstrução de Kobane, a cidade do Curdistão sírio que durante meses foi tomada pelo Estado Islâmico (EI).
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Este confronto directo sucede num clima de grande tensão entre o Estado turco e a minoria curda, após o atentado suicida de segunda-feira em Suruç, outra localidade no Sul, perto da fronteira com a Síria, em que morreram 32 pessoas e cerca de 100 ficaram feridas, numa associação de militantes da causa curda que pretendiam ir ajudar à reconstrução de Kobane, a cidade do Curdistão sírio que durante meses foi tomada pelo Estado Islâmico (EI).
Os curdos acusam o Governo de não os proteger o suficiente e de, com a sua política de se manter de fora da guerra que há cinco anos devora a vizinha Síria, estar efectivamente a ajudar à expansão do EI. No que afirma ter sido uma retaliação pela falta de acção do Governo contra os jihadistas, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão — uma organização ainda considerada terrorista — reivindicou o assassínio de dois polícias em Ceylanpinar, uma cidade no Sul, perto da fronteira com a Síria. E embora não tenha ainda sido reivindicado, outro polícia foi morto nesta quinta-feira, em Diyarbakir, a grande cidade de maioria curda no Sudoeste da Turquia.
A Turquia tem hoje 1,7 milhões de refugiados sírios e é quem tem assumido o fardo mais pesado dos deslocados que a guerra tem causado. Mas teme que os combates que não dão sinais de abrandar no país vizinho entrem pela fronteira de mais de 900 km que partilha com a Síria.
Por isso, embora seja um membro da NATO, tem negado acesso aos Estados Unidos à base aérea de Incirlik, no Sul da Turquia e perto da fronteira com a Síria — mas isso poderá ter mudado. O Wall Street Journal e o New York Times avançam que Ancara e Washington terão chegado a acordo para que tanto aeronaves tripuladas como não tripuladas possam fazer ataques deslocando de Incirlik.
A confirmar-se — não há ainda confirmação oficial, sublinha a Reuters, e já anteriormente se fizeram anúncios semelhantes que se vieram a revelar extemporâneos —, a utilização de Incirlik seria um factor muito importante na guerra contra o EI.
Fontes não identificadas da Administração norte-americana dizem aos dois jornais nova-iorquinos que o acordo sobre a base, negociado há muitos meses mas desbloqueado após uma conversa ao telefone entre Barack Obama e o primeiro-ministro turco, Recep Erdogan, na quarta-feira, faz parte de um aprofundamento da cooperação na luta contra o terrorismo.
Precisamente, os analistas dizem que o atentado de segunda-feira contra os activistas curdos terá sido uma resposta do Estado Islâmico a um reforço da vigilância contra as actividades terroristas — e um mais apertado controlo das fronteiras, para travar a circulação de armas e pessoas para a Síria — das autoridades turcas nos últimos meses.
“O ataque de Suruç parece ser uma retaliação pelas interdições recentes”, comentou ao Guardian Michael Weiss, co-autor do livro ISIS: Inside the Army of Terror (Estado Islâmico: Dentro do Exército do Terror).
Esta quinta-feira, com os confrontos entre o exército turco e as forças do EI junto à fronteira de Kilis, e a confirmar-se o acordo com os EUA sobre a base de Incirlik, pode marcar o início do envolvimento a sério da Turquia na guerra da Síria, e o momento em que este conflito sangrento cobriu um raio mais vasto do Médio Oriente.
“A seta já deixou o arco”, comentou também ao jornal britânico o especialista em Relações Internacionais Serhat Güvenç, da Universidade Kadir Has, de Istambul. “Não tenho a certeza que esse envolvimento fosse necessário, mas o que estamos a ver acontecer é o resultado directo das políticas da Turquia para a Síria.”