O primeiro dia da nova vida da Livraria Lello
O sistema de acessos pagos para entrar na Livraria Lello entrou em vigor esta quinta-feira. Para a administração, o balanço da medida é positivo.
Pouco depois das 10h, o trabalho começava e o primeiro passo era esclarecer as pessoas que se dirigiam à livraria. Era necessário ir para o outro lado da rua, adquirir os “bilhetes” no centro de acolhimento e só depois permanecer à entrada da Lello. “Agora a fila é daquele lado”, esclarecia um dos funcionários a duas turistas. “Podem deduzir na compra de livros”, dizia outro.
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Pouco depois das 10h, o trabalho começava e o primeiro passo era esclarecer as pessoas que se dirigiam à livraria. Era necessário ir para o outro lado da rua, adquirir os “bilhetes” no centro de acolhimento e só depois permanecer à entrada da Lello. “Agora a fila é daquele lado”, esclarecia um dos funcionários a duas turistas. “Podem deduzir na compra de livros”, dizia outro.
O esforço para não afugentar os futuros visitantes e clientes era visível em cada uma das informações dadas. “Vamos ver se as pessoas vão mesmo para a fila”, dizia uma funcionária da livraria. Tudo era explicado ao pormenor mas as dúvidas também eram muitas. “Podemos entrar? Não? Então como fazemos?”, questionava um turista. Durante esta quinta-feira, o centro de acolhimento era o lugar para se formava agora a fila, visivelmente mais organizada do que as dos dias anteriores.
Três funcionários recebiam as pessoas, efectuavam o pagamento das entradas e ofereciam um guia da Lello. O pequeno folheto está disponível em várias línguas e apresenta as “singularidades da livraria”: os pormenores decorativos e arquitectónicos, a história e um mapa do interior. Os acessos de três euros foram os mais requisitados.
Já no interior da Livraria Lello, ainda não é possível subir ou descer a escadaria sem algumas interrupções, contudo o caos é "organizado". Carla Ribeiro, directora de marketing da Lello, esclarece que a divisão das filas entre o centro de acolhimento e a livraria promove a organização no interior. “Este método torna tudo mais calmo, permite que as pessoas possam usufruir do espaço”.
O PÚBLICO encontrou Maria Carlota Feliciano, de 79 anos, sentada numa poltrona no piso superior a ler um livro. Vem de Ansião, está pela primeira vez na livraria e concorda com a medida. “Pelo que diziam, tinham muitas pessoas e era muita confusão”, afirma.
Do Brasil para o Porto, Eduardo Fonseca confessa que ficou “surpreso” quando soube que teria de pagar para entrar na Lello. Porém, admite que se “as pessoas entrarem só para tirar fotografias, devem pagar”.
Joaquim Fidalgo foi um dos clientes habituais que recebeu o cartão “Amigo Lello” gratuitamente. A nova medida é o chamado “pau de dois bicos”. “Faz algum sentido, porque a livraria arrisca-se a que os clientes não consigam entrar, com tantas pessoas; por outro lado, tenho pena porque não quero pensar na Lello como um monumento”, afirma o cliente.
José Manuel Lello, um dos proprietários da livraria, registou apenas o episódio de uma pessoa que se mostrou desagradada com o sistema. No geral, o balanço foi positivo: a “afluência parece ser a de um dia normal” e “as pessoas mostraram-se contentes por saber que podiam trocar o crédito por livros”. O proprietário realça que o número de compradores aumentou, embora ainda não tenha números para divulgar.
Até à meia-noite, há representação, ballet e música. E as palavras de Eça de Queirós e Florbela Espanca ressoaram entre as paredes de uma das mais belas livrarias do mundo.
Texto editado por Ana Fernandes