Ordem contrapõe que “se o SNS funcionasse os doentes não iam para as urgências”
Bastonário da Ordem dos Médicos reage a relatório que considera que 40% dos utentes que foram às urgências hospitalares poderiam ter sido tratados noutros locais, como os centros de saúde.
De acordo com o Relatório Anual sobre o Acesso a Cuidados de Saúde nos Estabelecimentos do SNS e Entidades Convencionadas de 2014, enviado para a Assembleia da República e que o PÚBLICO noticiou em primeira mão nesta quarta-feira, os hospitais do SNS atenderam no ano passado mais de seis milhões de urgências. O valor tem vindo a subir sempre desde 2012, só em 60% dos casos os doentes receberam pulseiras vermelhas, laranjas e amarelas, atribuídas aos casos mais urgentes de acordo com um protocolo informático. Os centros de saúde também atenderam mais pessoas em 2014, mas o acréscimo fica aquém quando 1.478.271 utentes continuavam no final desse ano sem médico de família.
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De acordo com o Relatório Anual sobre o Acesso a Cuidados de Saúde nos Estabelecimentos do SNS e Entidades Convencionadas de 2014, enviado para a Assembleia da República e que o PÚBLICO noticiou em primeira mão nesta quarta-feira, os hospitais do SNS atenderam no ano passado mais de seis milhões de urgências. O valor tem vindo a subir sempre desde 2012, só em 60% dos casos os doentes receberam pulseiras vermelhas, laranjas e amarelas, atribuídas aos casos mais urgentes de acordo com um protocolo informático. Os centros de saúde também atenderam mais pessoas em 2014, mas o acréscimo fica aquém quando 1.478.271 utentes continuavam no final desse ano sem médico de família.
José Manuel Silva, ao PÚBLICO, disse rejeitar a expressão “urgências desnecessárias”, considerando-a “um insulto para os doentes”. O médico começou por defender que a própria triagem de Manchester “é um remendo, uma camisola de tamanho único”, que acaba por também atribuir a estas cores a pessoas que têm situações mais graves e que ficam muitas vezes internadas. O bastonário da Ordem dos Médicos acusa a tutela de Paulo Macedo de “desinvestimento” nos cuidados primários, o que leva a que os “doentes procurem uma resposta onde ela existe” e salientou que não basta ter médico de família, “é preciso o doente ter consulta sem ser daqui a duas semanas”.
Como exemplo, o clínico lembra que “nos últimos cinco anos saíram 1500 médicos de família do SNS, na esmagadora maioria dos casos por reforma antecipada”. Para o bastonário, estas saídas mostram que o Ministério da Saúde “já podia ter dado um médico de família a cada português se tivesse sabido reter o capital humano”. “Temos falta de médicos no SNS mas não temos falta de médicos em Portugal”, defendeu, acrescentando que estão em formação mais 2000 internos de medicina geral e familiar. Mas sobre estes futuros especialistas, lembrou que há uma palavra apelativa a pesar: emigração.
Também em comentário ao relatório, o ministro da Saúde, à margem de uma sessão de apresentação de dados sobre fraudes no sector da saúde, defendeu que o número de utentes sem médico de família tem vindo a diminuir e alertou que “temos muito mais portugueses com médico de família do que aqueles que o utilizam”. Segundo Paulo Macedo, há “dois milhões de pessoas que não usam médico de família” mesmo tendo um clínico atribuído. O ministro adiantou também que a aposta nos cuidados primários passará por reforçar os serviços dos centros de saúde no futuro, incluindo especialidades como pediatria.