Quando a nossa vida depende do desejo ou da vontade de outra pessoa
Continua a haver muitos doentes em lista de espera a aguardar transplante porque, também em Portugal, como em todo o mundo, a necessidade de órgãos excede a disponibilidade.
Portugal está ao nível do que de melhor se faz no mundo. Em 2014 foram realizados cerca de 750 transplantes, de acordo com dados oficiais do Instituto Português do Sangue e da Transplantação. Apesar disso, continua a haver muitos doentes em lista de espera a aguardar transplante porque, também, em Portugal, como em todo o mundo, a necessidade de órgãos excede a disponibilidade. É, por isso, fundamental mais consciencialização social. Este assunto é do interesse de todos, por mais que teimemos em fugir dele porque envolve a morte. A necessidade de um transplante pode surgir na nossa vida quando menos esperamos. De igual modo, a qualquer momento podemos ter que lidar com a morte de alguém que nos é próximo, transformando-se este num potencial dador que pode salvar vidas. A legislação portuguesa permite que se proceda à colheita dos seus órgãos caso não se encontre registado no Registo Nacional de Não Dadores (RENNDA). Em Portugal vigora o sistema do consentimento presumido e, por isso, não é necessária a autorização da família para a colheita de órgãos em dador falecido. No entanto, as equipas médicas abordam sempre a família sobre esta possibilidade, através de uma entrevista onde os familiares têm oportunidade de esclarecer as dúvidas sobre o processo de doação e transplantação, em especial, sobre o conceito de morte cerebral, pouco difundido entre a população. Para evitar que sejamos confrontados com este assunto num momento de grande dor é importante que em vida o tenhamos discutido em família, com tempo para uma melhor reflexão e compreensão. Também em relação à doação em vida, a maior parte de nós não está esclarecida acerca desta importante alternativa terapêutica. Está, ainda, muito entranhado o medo de dar um rim, a ideia de que para viver com saúde precisamos de dois rins, quando na verdade está já demonstrado que a esperança de vida de um dador vivo é superior devido ao acompanhamento médico que têm após a dádiva. Dar e receber mais informação para desmistificar estes receios é essencial. Portugal teve este ano uma taxa de doação em vida de 4,8 transplantes por milhão de habitante, muito baixa, sobretudo numa época em que a nossa legislação e o progresso da medicina abriram tantas possibilidades para suprir a falta de órgãos e transplantar mais doentes, como é o caso da doação renal cruzada ou a possibilidade de se fazer transplante com dador vivo ainda que recetor e dador tenham grupo sanguíneo diferente, até há pouco tempo um obstáculo incontornável.
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Portugal está ao nível do que de melhor se faz no mundo. Em 2014 foram realizados cerca de 750 transplantes, de acordo com dados oficiais do Instituto Português do Sangue e da Transplantação. Apesar disso, continua a haver muitos doentes em lista de espera a aguardar transplante porque, também, em Portugal, como em todo o mundo, a necessidade de órgãos excede a disponibilidade. É, por isso, fundamental mais consciencialização social. Este assunto é do interesse de todos, por mais que teimemos em fugir dele porque envolve a morte. A necessidade de um transplante pode surgir na nossa vida quando menos esperamos. De igual modo, a qualquer momento podemos ter que lidar com a morte de alguém que nos é próximo, transformando-se este num potencial dador que pode salvar vidas. A legislação portuguesa permite que se proceda à colheita dos seus órgãos caso não se encontre registado no Registo Nacional de Não Dadores (RENNDA). Em Portugal vigora o sistema do consentimento presumido e, por isso, não é necessária a autorização da família para a colheita de órgãos em dador falecido. No entanto, as equipas médicas abordam sempre a família sobre esta possibilidade, através de uma entrevista onde os familiares têm oportunidade de esclarecer as dúvidas sobre o processo de doação e transplantação, em especial, sobre o conceito de morte cerebral, pouco difundido entre a população. Para evitar que sejamos confrontados com este assunto num momento de grande dor é importante que em vida o tenhamos discutido em família, com tempo para uma melhor reflexão e compreensão. Também em relação à doação em vida, a maior parte de nós não está esclarecida acerca desta importante alternativa terapêutica. Está, ainda, muito entranhado o medo de dar um rim, a ideia de que para viver com saúde precisamos de dois rins, quando na verdade está já demonstrado que a esperança de vida de um dador vivo é superior devido ao acompanhamento médico que têm após a dádiva. Dar e receber mais informação para desmistificar estes receios é essencial. Portugal teve este ano uma taxa de doação em vida de 4,8 transplantes por milhão de habitante, muito baixa, sobretudo numa época em que a nossa legislação e o progresso da medicina abriram tantas possibilidades para suprir a falta de órgãos e transplantar mais doentes, como é o caso da doação renal cruzada ou a possibilidade de se fazer transplante com dador vivo ainda que recetor e dador tenham grupo sanguíneo diferente, até há pouco tempo um obstáculo incontornável.
Hoje comemoramos o 7º Dia do Transplante, que decorre este ano na cidade de Coimbra, a mesma cidade onde há 46 anos, neste mesmo dia, foi realizada a primeira transplantação de órgãos em Portugal, numa altura em que isso ainda era raro em todo o mundo. É uma festa bonita. Os convidados de honra são, naturalmente, os doentes transplantados e os dadores vivos de órgãos, vindos de toda a parte do país. Um encontro para celebrar a nova vida e promover o convívio entre doentes, familiares, amigos, e profissionais de saúde que se dedicam à doação e transplantação. É, também, uma oportunidade para homenagear os dadores que não podem estar presentes estando reservado um momento para a plantação de uma árvore — a “Árvore da Vida” —, em memória dos dadores falecidos.
Durante a cerimónia, os doentes transplantados são chamados ao pódio para darem o seu testemunho, partilharem a sua história. Relatos de vida que emocionam quando falam do momento em que foram confrontados com a necessidade de um transplante, com a lista de espera para receber o órgão, da angústia sempre que o telefone tocava. «Talvez seja do hospital» — pensavam. Mas nunca era. Um confronto inevitável com a ideia de morte porque este tempo de espera é, frequentemente, longo e, nalguns casos, os doentes acabam por morrer antes de se encontrar disponível um órgão.
A sua história também nos faz sorrir e enche de orgulho quando nos falam da sua vida após o transplante, da normalidade com que vivem cada dia, seja a praticar desporto, no exercício da sua atividade profissional ou a cuidar da família. E, no caso dos transplantados renais, da sua sensação de liberdade por agora poderem viver sem estar dependentes de uma máquina que os impedia de fazer coisas tão simples como viajar.
O Dia do Transplante vai ao encontro de todas estas preocupações. Pena é que não tenha sido, ainda, instituído o Dia Nacional do Transplante, para uma sensibilização à escala nacional. Existe já uma petição dirigida à Assembleia da República para instituir este dia, da iniciativa da Sociedade Portuguesa de Transplantação (SPT). Esperemos que ela seja bem sucedida. Todos podemos contribuir, basta assiná-la online através do site www.spt.pt.
Em breve teremos outra oportunidade para, coletivamente, pensar e falar sobre a importância da doação e transplantação. Este ano, em 10 de Outubro, Portugal recebe a 17.ª edição do European Day for Organ Donation and Transplantation, criado pelo Conselho de Europa, com o objetivo de ajudar os países a estimular o debate e a mobilizar a população para as questões relacionadas com a doação e transplantação. Lisboa será a cidade anfitriã, estando as comemorações a ser organizadas pelo Instituto Português do Sangue e da Transplantação, com o apoio da SPT. O tema é «A Arte da Transplantação, Salvando vidas, Mudando a Vida», procurando-se demonstrar como através da transplantação é possível continuar a usufruir da vida em todas as suas dimensões, seja a ler, pintar, ouvir música, dançar, desenhar, fotografar, esculpir, ou ir ao cinema.
Ana Silva, Jurista do Instituto Português do Sangue e da Transplantação