Parlamentos europeus dão luz verde a negociações com a Grécia
Merkel e Schäuble garantiram aos deputados alemães que esta será uma “última tentativa” para manter a Grécia na zona euro.
No Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), a chanceler Angela Merkel tinha a missão de justificar perante os deputados a necessidade de um terceiro resgate à Grécia e, para isso, fez assentar o seu discurso na “irresponsabilidade” que seria não o fazer e no “caos” que se iria abater sobre a Europa.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
No Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), a chanceler Angela Merkel tinha a missão de justificar perante os deputados a necessidade de um terceiro resgate à Grécia e, para isso, fez assentar o seu discurso na “irresponsabilidade” que seria não o fazer e no “caos” que se iria abater sobre a Europa.
A defesa forte pela chanceler da decisão tomada no último fim-de-semana contrasta com a posição aflorada pelo seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, que ainda na véspera do debate parlamentar voltou a aludir a uma saída temporária da Grécia da zona euro. Apesar de a confiança no poderoso ministro se manter inabalável – Merkel até agradeceu a Schäuble durante o discurso, de acordo com a Reuters, – a chanceler não deixou de fazer eco do cenário que tem sido levantado.
“A alternativa a este acordo não seria uma ‘saída limitada’ do euro (…) mas sim um caos bastante previsível.” “Seríamos altamente negligentes e agiríamos irresponsavelmente, se, pelo menos, não tentássemos esta via”, acrescentou Angela Merkel. Sabendo que falava não apenas para o seu eleitorado, mas também para toda a Europa, a chanceler concluiu que a decisão de propor um novo programa à Grécia foi tomada em nome de “uma Europa forte e uma zona euro forte”.
Schäuble garantiu no Parlamento que serão feitos todos os esforços para que "esta última tentativa alcance o sucesso". "Pensamos que existe uma hipótese de poder concluir as negociações de forma positiva", acrescentou o ministro, apesar de reconhecer que será "bastante complicado.
O vice-chanceler e ministro da Economia, Sigmar Gabriel, que é também líder dos sociais-democratas, aliados da CDU no executivo, sublinhou que o acordo permitiu evitar “uma divisão de toda a Europa” que teria originado “uma crise muito mais grave”.
Alemães e finlandeses dizem não
O início das negociações para o acordo recebeu o voto favorável da maioria dos deputados (439), contou com o chumbo de 119 e ainda a abstenção de 40 deputados. Mas, mesmo em dia de aniversário, Angela Merkel viu 60 deputados do seu partido a votar contra a indicação do Governo. Lembrava a Reuters que o número de conservadores a chumbar um programa de resgate à Grécia duplicou em relação a Fevereiro, quando foi votado o segundo.
Na véspera, 48 membros da bancada conservadora já tinham anunciado previamente o seu chumbo. A rebeldia dos legisladores da CDU é evocativa de um sentimento dominante na sociedade alemã – os que recusam ver o dinheiro dos seus impostos a ser canalizado para mais um programa de resgate à Grécia. Desde 2010, esta foi a sexta ocasião em que os deputados alemães foram chamados a pronunciar-se em relação a um programa de resgate grego.
Uma sondagem do instituto britânico YouGov publicada no próprio dia da votação mostrava que 56% dos 1380 alemães inquiridos considerava negativo o acordo alcançado no fim-de-semana – um sentimento transversal a apoiantes de todos os partidos, embora por razões diferentes. “Os alemães podem opor-se ao acordo porque o vêem como injusto para a Grécia ou porque preferiam uma linha mais dura”, escrevem os autores do estudo.
O tablóide mais vendido do país, o Bild, apontava “Sete razões porque o Bundestag deve votar ‘Não’ hoje” na sua primeira página. Entre elas estava, por exemplo, o argumento de que “os nossos netos irão pagar” o novo resgate. Para obter o aval dos líderes europeus, as autoridades gregas tiveram que se comprometer a um pacote de medidas sob condições de extrema dureza, incluindo a subida do IVA e reformas do sistema de pensões e das leis laborais.
Sensível à ideia geral que impera entre o seu eleitorado, Merkel reconheceu que o acordo “é duro para as pessoas na Grécia, mas também para os outros”. Porém, a chanceler descreveu esta “última tentativa” como uma manifestação de “solidariedade sem precedentes” por parte de uns e de “exigências sem precedentes” da parte da Grécia.
Entre os finlandeses, o desagrado em relação ao novo programa é ainda mais profundo. Apenas um quarto (26%) dos inquiridos por uma sondagem do instituto Taloustutkimus e citada pela AFP dão apoio ao acordo, enquanto a maioria (57%) se diz contra. Apesar do sentimento dominante, o Parlamento finlandês aprovou na quinta-feira o início das negociações com a Grécia.
No mesmo sentido votaram os deputados austríacos, reunidos esta sexta-feira em sessão plenária extraordinária. O início das negociações com a Grécia foi aprovado pelas bancadas que apoiam o Governo de grande coligação do Partido Social Democrata (SPÖ) e do Partido Democrata Cristão (ÖVP).
O Parlamento sueco deu luz verde à aprovação do empréstimo de emergência (que conta com a participação dos 28 Estados-membros da União Europeia e não apenas da zona euro), através do voto favorável da comissão de Assuntos Europeus. Segundo a agência TT, os dois partidos que apoiam o Governo, os sociais-democratas e os verdes, votaram a favor, em conjunto com as quatro formações de centro-direita na oposição. O Partido de Esquerda e os populistas de extrema-direita Democratas Suecos votaram contra.
"Os países não-membros da zona euro obtiveram garantias que não serão tocados caso a Grécia não consiga reembolsar o empréstimo de urgência", disse a ministra das Finanças, Magdalena Andersson.