Êxitos de Sting conquistam no renovado Super Bock Super Rock
A novidade do primeiro dia de festival foi o espaço, no Parque das Nações, em Lisboa, que gerou mais avaliações positivas do que negativas. Estiveram presentes 18 mil pessoas, em grande parte, por causa dos sucessos de Sting.
A qualidade do som na maior parte das vezes esteve longe de ser a melhor e ouviram-se queixas pelo tempo despendido em filas na troca de passes por pulseiras. Segundo a organização, estiveram presentes 18 mil pessoas.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A qualidade do som na maior parte das vezes esteve longe de ser a melhor e ouviram-se queixas pelo tempo despendido em filas na troca de passes por pulseiras. Segundo a organização, estiveram presentes 18 mil pessoas.
Já o novo conceito urbano do festival, no Parque das Nações, provocou divisões. Quem privilegia a comodidade, em comparação com o antigo espaço arenoso no Meco, onde o festival decorreu nos últimos anos, estava naturalmente satisfeito. Mas também se ouviram desabafos de descontentamento da parte de quem sentia que naquele lugar era impossível criar um verdadeiro ambiente de festival. A nós pareceu-nos que a opção é eficaz, mas tem potencialidades que ainda não foram devidamente exploradas.
O espaço em si é funcional, possui até zonas de escape da saturação sonora, mas a concepção interior do mesmo não difere de nenhum outro, com a habitual compartimentação entre a zona de concertos (dois palcos exteriores e dois interiores), espaços de alimentação e entretenimento desencadeado por marcas. É um festival urbano, mas que ainda não deixou o campo.
A assistência é mais diversa do que no Meco. Há o habitual frequentador de festivais rock, mas também famílias. Há o melómano atento às novidades no campo da música, mas também grupos de pessoas que vão mais para sociabilizar do que pelos concertos. Grande parte deles encontrou-se no interior do quase lotado Meo Arena para verem Sting.
Já o vimos inúmeras vezes. O alinhamento dos seus concertos não difere muito, misto de êxitos dos Police e do seu percurso a solo, que poderão ser condimentados com alguns temas do álbum mais recente. E foi isso, mais uma vez, que se ouviu. Por norma, a diferença joga-se na menor ou maior entrega e no grau de simbiose com a plateia. E desta feita resultou.
Nos seus concertos não existe nenhuma aragem de novidade ou sentido de aventura, apenas o conforto do reconhecimento. E nisso, nada a dizer. O desempenho vocal é sem mácula. Foi extremamente dinâmico ao longo do concerto. O carisma mantém-se intocável. Comunica (em português) com à-vontade com o público. Faz-se acompanhar de músicos irrepreensíveis, todos eles, à vez, com tempo para se distinguirem. E possui uma mão cheia de canções que atravessaram várias gerações.
Curiosamente são as que compôs no contexto dos Police que mantêm maior frescura, como Message in the bottle, Roxanne, Every little thing she does is magic, De doo doo doo de da da da, Every breath you take ou Walking on the moon, mas foi um espectáculo sem quebras, tendo que regressar duas vezes a pedido do público.
No final, depois de Desert Rose, tudo confluiu para o mar de tranquilidade acústica que compõe outro dos seus sucessos transversais, a balada Fragile, com a larga maioria das pessoas a sair satisfeita do recinto.
Quem também fez render os êxitos do seu ex-grupo foi Noel Gallagher, perante um Meo Arena com a plateia longe de estar preenchida. Foi no concerto do inglês que se percebeu que no recinto havia um número significativo de britânicos, muitos deles conhecendo as canções de cor do seu compatriota. Já se sabe, em Inglaterra, Gallagher é uma instituição. Em Portugal nem tanto, embora os Oasis tenham marcado os anos 1990.
Mais sóbrio na comunicação com o público – sem a aura provocadora de outros tempos –, foi quando se ouviram algumas das canções dos Oasis, como Champagne supernova, Whatever, Masterplan ou Don’t look back in anger, que verdadeiramente a harmonização entre palco e plateia se deu. São dessas memórias que, em grande parte, se alimenta o seu estatuto hoje, apesar de se perceber que qualidade é coisa que não falta às canções mais recentes que desfia com o quinteto High Flying Birds.
Se no concerto de Gallagher a acústica da sala se revelou deficiente, no caso dos ingleses The Vaccines foi pior, com o som rock das guitarras, mesclado de sensibilidade pop, a perder-se na imensidão do Meo Arena. Mas num evento destas características não existe um minuto a perder. Se um concerto não agrada, a solução é procurar alternativas e deambular pelo espaço. No palco EDP, situado por debaixo da pala do Pavilhão de Portugal, houve muito por onde escolher.
Ao final da tarde não se sentiu a habitual energia psicadélica dos australianos King Gizzard & The Lizard Wizard, com a música rock frenética do colectivo a não levantar voo, mas o americano Mike Hadreas, ou seja Perfume Genius, voltou a mostrar que em Portugal já tem admiradores a sério. Logo ao primeiro tema existiram problemas técnicos, e ele e os seus três músicos tiveram que parar, com o americano a aproveitar para descer até ao público para confraternizar com este.
É verdade que àquela hora ainda não era muito numeroso, mas quem estava parece ter aprovado o que experienciou, principalmente quando foram abordadas canções do excelente álbum Too Bright, disco negro, de confronto e desafio, com um som robusto. Existiram momentos de fragilidade minimal, com ele ao piano eléctrico, mas foi quando foram tocados os temas mais catárticos que a performance entusiasmou, com canções próximas das ideias do rock, de Grid a Queen, a imporem-se, enquanto ele se contorcia e gritava e a guitarra gritava ainda mais alto.
Para contrabalançar o lado tortuoso de Perfume Genius, nada melhor do que o humor do português PZ, no palco exterior Antena 3, com Paulo Zé Pimenta e os seus dois cúmplices em palco, de pijama, expondo uma sonoridade saltitona, que respira tanto hip-hop como pop electrónica, marcada por letras de desarmante coloquialidade, como acontece em canções como O que me vale és tu, Neura ou Trinca na chamuça.
E para final de noite, dança, em todos os palcos. O inglês Aaaron Jerome, ou seja SBTRKT, acompanhado por dois músicos, expôs fisicalidade pop mesclada de sonoridades urbanas, enquanto na sala Tejo o americano Toro Y Moi tentava que a sua pop electrónica psicadélica não se perdesse no emaranhado do som, antes do português Rui Maia, ou seja Mirror People, mostrar as canções do seu mais recente álbum, Voyager, com uma mais-valia, a voz e destreza cénica da vocalista Maria do Rosário.
O festival prossegue esta sexta-feira com Blur, Jorge Palma & Sérgio Godinho, Benjamin Clementine, Kindness ou Savages.