A solução final alemã
O ministro das finanças, Schäuble e a sua grande líder (führer em alemão) Merkel, representam a vontade férrea de destruir Tsipras e o Governo grego, nem que para tal tenham que destruir de vez a sociedade grega
Com o último pacote de “ajuda” financeira que o eurogrupo obrigou Alexis Tsipras a aceitar, a UE concluiu o processo de subversão de todos os ideais que a mesma apregoou durante décadas. A Alemanha está a usar a União Europeia como meio para conquistar os países à sua volta. O ministro das finanças, Schäuble (na foto) e a sua grande líder (führer em alemão) Merkel, representam a vontade férrea de destruir Tsipras e o Governo grego, nem que para tal tenham que destruir de vez a sociedade grega.
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Com o último pacote de “ajuda” financeira que o eurogrupo obrigou Alexis Tsipras a aceitar, a UE concluiu o processo de subversão de todos os ideais que a mesma apregoou durante décadas. A Alemanha está a usar a União Europeia como meio para conquistar os países à sua volta. O ministro das finanças, Schäuble (na foto) e a sua grande líder (führer em alemão) Merkel, representam a vontade férrea de destruir Tsipras e o Governo grego, nem que para tal tenham que destruir de vez a sociedade grega.
Não sou profeta da desgraça, até sou uma pessoa otimista, mas esta crise revelou definitivamente o plano do Governo alemão e, de repente, todos aqueles fantasmas da estratégia expansionista germânica de controlo da Europa voltaram.
Na primeira Guerra Mundial fomos apanhados desprevenidos. Depois da guerra impusemos os Tratados de Versalhes e humilhámos o povo alemão, o que em parte ajudou a criar e levar ao poder Hitler e o Partido Nazi. Na segunda Guerra Mundial já não devíamos ter ficado surpreendidos com a atitude da Alemanha. Ganhámos a guerra (por pouco), mas destruímos a Europa, perdemos milhões de vidas e assistimos a uma das maiores brutalidades que o mundo já assistiu: o Holocausto.
Achámos, então, que o povo alemão não poderia governar-se a si mesmo e que a única solução era dividir o país a meio e entregar a sua gestão a outros países. Setenta anos depois, voltamos a deixar a Alemanha mandar nos destinos da Europa e desta vez é pela via económica, a mais perigosa, por parecer democraticamente legítima. Pedro Santos Guerreiro, diretor executivo do Expresso, dizia que brevemente chegará o dia em que vamos tirar a mão da carteira para a meter na consciência e pensar naquilo que fizemos à Grécia e à Europa.
Nos meus últimos artigos aqui no P3, tenho abordado a vertente económica da crise da dívida soberana e tentado mostrar o porquê da austeridade não funcionar. No entanto, hoje já não se trata de uma questão económica mas sim de urgência social. É preciso ver que ainda há uns anos os gregos votavam como a UE gosta, ao centro, e que foram os políticos do centrão que, por um lado, ajudaram as grandes corporações a roubar a riqueza do país e, por outro, fizeram promessas que apenas eram possíveis com níveis altos de endividamento.
Depois, os gregos escolheram um governo de extrema-esquerda, mandatando-o para colocar um ponto final na austeridade e, através do referendo, ainda o mandataram novamente para recusar a última proposta da UE. Este governo, por desespero, cobardia ou ambos, aceitou a solução final de Merkel e Schäuble. Portanto, os gregos já experimentaram o centro e a esquerda e estão de joelhos a pedir ajuda para comer.
Alguém adivinha qual é a ideologia política que os gregos vão experimentar a seguir? Eu tenho a certeza de qual será. Gostava que os políticos que gerem os destinos da UE também soubessem e o tentassem evitar com todas as suas forças. Porque, custe o que custar, salvar a Grécia (e fechar o "gap" entre países pobres e ricos dentro da UE) certamente que não custa tanto como ter a terceira Guerra Mundial na consciência.