O condutor clandestino
Jafar Panahi filma a opressão como só um oprimido o faria: com humor
Como na Hollywood dos anos 30, em que o Código Hays veio acicatar o espírito subversivo de uma muito boa porção dos cineastas que ali trabalhavam, também a pujança do cinema iraniano das últimas décadas deve muito à necessidade de constantemente fintar o controlo sobre o que se diz e mostra — assim se tornando os seus realizadores em verdadeiros mestres do não-dito, ou do dito que fica em suspenso. Panahi sabe na pele o que isto significa — “proibido” que está de filmar há 20 anos. O que surpreende é menos a forma que encontra para contornar a proibição (aqui, em jeito de reality-show na clandestinidade, retomando uma fórmula aproximável do Ten de Kiarostami: um táxi às voltas por Teerão, os diálogos entre condutor e passageiros) e mais a aparente leveza de espírito com que o faz, como se o culto da provocação bem-humorada — a “comédia”, portanto — fosse a melhor e a mais subversiva resposta às condições que lhe impuseram. Um filme divertido sobre uma situação de opressão: só um indivíduo oprimido o poderia fazer. E de caminho, como quem não quer a coisa, ajuda-nos a tomar o pulso ao que é a vida em Teerão, hoje.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Como na Hollywood dos anos 30, em que o Código Hays veio acicatar o espírito subversivo de uma muito boa porção dos cineastas que ali trabalhavam, também a pujança do cinema iraniano das últimas décadas deve muito à necessidade de constantemente fintar o controlo sobre o que se diz e mostra — assim se tornando os seus realizadores em verdadeiros mestres do não-dito, ou do dito que fica em suspenso. Panahi sabe na pele o que isto significa — “proibido” que está de filmar há 20 anos. O que surpreende é menos a forma que encontra para contornar a proibição (aqui, em jeito de reality-show na clandestinidade, retomando uma fórmula aproximável do Ten de Kiarostami: um táxi às voltas por Teerão, os diálogos entre condutor e passageiros) e mais a aparente leveza de espírito com que o faz, como se o culto da provocação bem-humorada — a “comédia”, portanto — fosse a melhor e a mais subversiva resposta às condições que lhe impuseram. Um filme divertido sobre uma situação de opressão: só um indivíduo oprimido o poderia fazer. E de caminho, como quem não quer a coisa, ajuda-nos a tomar o pulso ao que é a vida em Teerão, hoje.