Atenção: o derrotismo derrota
Na madrugada de domingo para segunda vimos a face vingativa e impiedosa que certos governos querem que seja a face da Europa. Que tenha sido o Governo alemão o protagonista de um acordo desenhado com a principal função de ser e parecer humilhante para os gregos é o emblema maior da inconsciência histórica que predomina nas cimeiras da zona euro. Por isso a imprensa internacional se encheu de referências aos ultimatos coloniais e imperialistas do século XIX e ao tempo da chamada “diplomacia de canhoneira”, quando os barcos de guerra eram enviados para intimidar os países mais fracos. Ou ao Tratado de Versalhes, que — como escreveu Keynes — “escolheu a ganância estúpida em vez da prudente generosidade” e preparou terreno para que à humilhação dos termos injustos da paz se seguisse uma segunda guerra ainda pior do que a primeira.
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Na madrugada de domingo para segunda vimos a face vingativa e impiedosa que certos governos querem que seja a face da Europa. Que tenha sido o Governo alemão o protagonista de um acordo desenhado com a principal função de ser e parecer humilhante para os gregos é o emblema maior da inconsciência histórica que predomina nas cimeiras da zona euro. Por isso a imprensa internacional se encheu de referências aos ultimatos coloniais e imperialistas do século XIX e ao tempo da chamada “diplomacia de canhoneira”, quando os barcos de guerra eram enviados para intimidar os países mais fracos. Ou ao Tratado de Versalhes, que — como escreveu Keynes — “escolheu a ganância estúpida em vez da prudente generosidade” e preparou terreno para que à humilhação dos termos injustos da paz se seguisse uma segunda guerra ainda pior do que a primeira.
Subscrevo essas comparações. Pelo menos desde 2012 que regularmente menciono o atual cenário europeu como o mais parecido com os antecedentes da I Guerra Mundial de que há memória viva. Também por isso tenho, creio eu, razões justificadas para lançar um alerta
Esse alerta é simples: o derrotismo derrota.
Não têm faltado, nos últimos dias, proclamações apocalípticas. Mas a cada proclamação apocalíptica há a obrigação de se juntar uma visão daquilo por que se luta. A cada denúncia, um plano para sair da crise. Isso tem faltado na análise do que se passou — e é particularmente grave essa ausência num país como Portugal, que será o próximo a pronunciar-se em eleições sobre qual é o rumo para devolver futuro ao país e contribuir para a mudança na Europa.
Qual é então o plano?
Em primeiro lugar, é hoje evidente que a política europeia é determinada em cimeiras de governos. Só conseguiremos derrotar o austeritarismo vencendo governo a governo, mudando país a país. Sem uma mudança de governo em Portugal, desde logo, o nosso país continuará a ser um aliado das imposições do Governo alemão. A oposição que conta, hoje, não se faz na oposição.
Em segundo lugar, é preciso estabelecer as condições a médio e longo prazo de uma capacidade autónoma de decisão a nível nacional e de uma construção democrática da UE a nível europeu. Para a primeira é preciso procurar novas alianças sociais e políticas no país, e estar disposto a trabalhar em conjunto. Para a segunda, é preciso optar por uma política de alianças a nível europeu que em vez de estar atrás das imposições esteja do lado das soluções.
Em terceiro lugar, é preciso construir um movimento progressista europeu já para as próximas batalhas. A Grécia não foi expulsa do euro e isso significa que — o FMI voltou a confirmá-lo ontem — o debate das próximas semanas e meses na Europa é o da reestruturação da dívida. Esse é também o debate que se deve fazer em Portugal até às eleições.
O derrotismo transforma-se facilmente em “desistismo”, ou seja, a tendência para proclamar o fim do mundo e ficar por isso mesmo. Por Portugal e pela Europa, não nos podemos dar a esse luxo.