Ultranacionalistas do Sector Direito são a nova ameaça ao Governo de Kiev
Membros do grupo protagonizaram no fim-de-semana um tiroteio numa cidade perto da fronteira ocidental e são acusados de executar dois atentados à bomba.
A pequena cidade de Mukacheve foi comparada a um cenário de uma guerra após um tiroteio no sábado que fez três vítimas mortais. Na terça-feira, foram noticiadas duas explosões em esquadras de polícia na mesma região, em que ficaram feridos com gravidade dois agentes.
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A pequena cidade de Mukacheve foi comparada a um cenário de uma guerra após um tiroteio no sábado que fez três vítimas mortais. Na terça-feira, foram noticiadas duas explosões em esquadras de polícia na mesma região, em que ficaram feridos com gravidade dois agentes.
Porém, tudo isto aconteceu no extremo ocidental da Ucrânia, a mais de mil quilómetros da linha da frente onde persistem os combates (menos intensos) entre o Exército e os grupos separatistas pró-russos, que desde Abril do ano passado já fizeram mais de 6500 mortos.
Há várias versões quanto ao que se passou em Mukacheve, mas todas elas reforçam os receios de que grupos como o Sector Direito – uma amálgama de formações ultranacionalistas, neonazis e de extrema-direita, que ganhou protagonismo durante os protestos contra o ex-Presidente Viktor Ianukovich e que ditaram a sua queda – têm capacidade para se apresentar, no mínimo, como mais um desafio para o Governo de Kiev. O tiroteio ocorreu nas imediações de um complexo desportivo detido por um deputado local e, de acordo com o Ministério do Interior, a polícia apenas interveio depois de os elementos do Sector Direito terem disparado primeiro.
Os membros do grupo dizem que estavam a tentar travar um esquema de contrabando de tabaco, embora sejam também acusados de participaram em operações semelhantes. E há ainda quem defenda que as fileiras do Sector Direito foram infiltradas por membros dos serviços secretos russos com o objectivo de utilizar o poder do grupo para desestabilizar a região ocidental da Ucrânia.
O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, garantiu esta semana que as forças de segurança vão neutralizar “todos os grupos armados”. “Nenhuma força política deve ter nem terá qualquer tipo de célula armada. Nenhuma organização política tem o direito de estabelecer grupos criminosos”, acrescentou Poroshenko.
Antes, a liderança do Sector Direito já tinha lançado um sério aviso às autoridades ucranianas, dizendo que ia montar checkpoints nas estradas para impedir a polícia de enviar reforços para Mukacheve. Um porta-voz pediu também a demissão do ministro do Interior, Arsen Avakov, deixando a ameaça de um potencial avanço de elementos armados para a capital. O grupo de monitores da Organização para a Cooperação e Segurança na Europa (OSCE) – que tem acompanhado a implementação dos acordos de cessar-fogo na linha da frente – visitou um dos checkpoints controlados pelo Sector Direito e constatou apenas a presença de “cinco homens desarmados”.
Na terça-feira, dois engenhos explodiram com uma hora de intervalo em duas esquadras de polícia em Lviv, capital provincial a poucos quilómetros a Norte de Mukacheve. Dois agentes foram hospitalizados e as autoridades ligaram os atentados ao tiroteio do fim-de-semana.
Tendo como pano de fundo a crescente instabilidade no país e a falta de poder das instituições estatais, a Ucrânia tem sido um terreno fértil para o aparecimento de grupos radicais com fácil acesso a armamento. É isso que acontece no Leste do país, onde os chamados “Batalhões” lutam lado a lado com as forças regulares e em alguns casos foram mesmo integrados nas Forças Armadas, com o objectivo de haver um maior controlo por parte de Kiev das suas acções no terreno. Não foi isso que aconteceu com o Sector Direito que, desde que se tornou num dos grupos mais preponderantes nos protestos da Praça da Independência, adoptou uma agenda própria e, por vezes, contrária ao programa dos novos líderes do país.
O grupo – que entretanto se tornou num partido político legal, apesar de ter recolhido muito pouco apoio nas eleições legislativas de Outubro – tem sido um forte crítico da postura do Governo e do Presidente, que acusam de serem demasiado permissivos com a rebelião pró-russa.
À AFP, um alto responsável ucraniano da área da segurança traça uma perspectiva preocupante perante a nova ameaça: “Temos um Estado muito fraco, cujo funcionamento pode ser travado por uma quinzena de pessoas.”