Passos só ajudou a Grécia "na 25.ª hora e com pequena tecnicalidade", diz Costa

Jerónimo de Sousa diz que primeiro-ministro apenas ajudou a financiar a banca.

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Para António Costa, o Governo quis “que a TAP fosse um factor de confrontação” Nuno Ferreira Santos

António Costa falava aos jornalistas depois de confrontado com afirmações de Pedro Passos Coelho sobre o seu contributo pessoal para desbloquear na madrugada de segunda-feira, na cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia, o impasse negocial então existente com a Grécia.

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António Costa falava aos jornalistas depois de confrontado com afirmações de Pedro Passos Coelho sobre o seu contributo pessoal para desbloquear na madrugada de segunda-feira, na cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia, o impasse negocial então existente com a Grécia.

"Espero que o primeiro-ministro tenha tido algum contributo positivo, depois de tantos contributos negativos que deu e de tantos entraves que colocou. Se na 25.ª hora deu alguma ajuda para o acordo, mais vale tarde do que nunca", reagiu o líder socialista.

Segundo António Costa, "em vez de ter deixado para a 25.ª hora esse contributo, seria bom se primeiro-ministro tivesse feito desde a primeira hora aquilo que era essencial: ser um construtor de soluções e não um criador de obstáculos".

"Nas próximas eleições temos de votar para ter um Governo que ajude à mudança na União Europeia e não um Governo que leve seis meses a criar obstáculos para depois, na 25.ª hora, (parece) dar uma pequena ajuda na resolução de uma pequena tecnicalidade. Precisamos de um Governo que assuma que a nossa postura na Europa não é de submissão, mas de defesa intransigente do interesse nacional, com uma visão positiva do euro e de uma Europa solidária e não mercantilista", disse, em mais uma nota de demarcação face ao executivo de coligação PSD/CDS.

O secretário-geral do PS considerou, no entanto, que o acordo entre instituições europeias e Grécia não é perfeito, mas advertiu que a expulsão grega representaria o fim do euro, com provável saída de Portugal da moeda única. "O ter havido um acordo é em si mesmo bom e, se as partes chegaram a acordo, é porque houve boas razões para chegarem a acordo. Estávamos numa trajectória muito perigosa, em que a direita mais radical, onde se filia o nosso Governo, fez tudo o que estava ao seu alcance para expulsar a Grécia do euro", acusou.

Neste contexto, o líder socialista fez uma leitura sobre os episódios que se poderiam seguir após uma eventual expulsão da Grécia da zona euro.

"A expulsão da Grécia da zona euro era o fim do euro e era provavelmente o fim da nossa presença do euro. Se me perguntam se o acordo é perfeito, digo que não é perfeito, mas é um acordo. Espero é que agora seja possível estabilizar a zona euro para nos centrarmos no que é fundamental e prioritário, que é um novo impulso para a convergência", declarou aos jornalistas.


Jerónimo: "Subir acima do chinelo"
Por seu lado, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, criticou tanto as posições assumidas pelo primeiro-ministro como as assumidas pelo PS quanto ao acordo entre a Grécia e o Eurogrupo, que considerou ser uma "chantagem e condicionamento financeiro".

"O primeiro-ministro, depois de todo o alinhamento que teve com as posições mais 'draconianas' de sectores da União Europeia, que admitiu a saída da Grécia da zona euro, vem agora meter o dedo no ar porque fez uma proposta de que uns quantos milhares de milhões de euros fossem para financiar a banca", afirmou Jerónimo de Sousa aos jornalistas, após uma reunião com a direção do Teatro nacional de S. Carlos, em Lisboa.

Comentando as declarações de Pedro Passos Coelho, que afirmou na segunda-feira que foi uma ideia sua que ajudou a desbloquear o último obstáculo das negociações com a Grécia, o líder comunista dirigiu-se directamente ao chefe de Governo: "Não queira subir acima do chinelo, senhor primeiro-ministro".

Jerónimo de Sousa afirmou sentir-se também preocupado com as declarações do PS acerca do acordo entre a Grécia e os credores internacionais, questionando se será uma "leitura inteligente". "Um lamento profundo em relação às declarações do Partido Socialista e da sua voz mais autorizada que saúda este acordo", afirmou.

O PS congratulou-se na segunda-feira com o acordo alcançado sobre a Grécia na cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia, considerando que só foi possível graças ao empenho dos socialistas europeus no processo negocial.

"Será esta a leitura inteligente que António Costa faz do tratado orçamental, da política da União Europeia quando vimos uma social-democracia comprometida com este processo de chantagem, de extorsão, de alienação da soberania?", questionou, acrescentando que "fica uma grande preocupação por este posicionamento".