Vitória e cautelas no nuclear iraniano
Histórico na sua essência, o acordo sobre o nuclear iraniano só valerá pela acção e pela verificação.
Perante um impasse de 12 anos e 21 meses de conversações, um atraso de 14 dias é praticamente insignificante. Mas foi assim, finda uma maratona negocial de 17 dias, que foi finalmente assinado o acordo internacional sobre o nuclear iraniano. Não foi o melhor acordo, certamente (até Federica Mogherini, da UE, que fala em “momento histórico”, diz que ele “não é perfeito”), mas serviu para desbloquear um dossier que parecia, até há pouco tempo, irresolúvel.
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Perante um impasse de 12 anos e 21 meses de conversações, um atraso de 14 dias é praticamente insignificante. Mas foi assim, finda uma maratona negocial de 17 dias, que foi finalmente assinado o acordo internacional sobre o nuclear iraniano. Não foi o melhor acordo, certamente (até Federica Mogherini, da UE, que fala em “momento histórico”, diz que ele “não é perfeito”), mas serviu para desbloquear um dossier que parecia, até há pouco tempo, irresolúvel.
Curiosamente, depois da novidade que foi o “degelo” com Cuba, os Estados Unidos averbaram aqui mais uma vitória que pesará na herança de Obama, agora que se vai aproximando o dia em que ele deixará a Casa Branca. Mas é também uma vitória de todos os países envolvidos além dos EUA (Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha), bem como do próprio Irão, que há muito garantia fazer uso do nuclear apenas para fins civis e agora tem uma oportunidade (vigiada, é certo, pelos negociadores e pela Agência Internacional de Energia Atómica) para demonstrá-lo de forma clara.
Estabelecidas regras e calendários, as atenções viram-se para o próprio Irão (para ver como cumprirá o que assinou) e para Obama, que já prometeu usar o veto caso a oposição republicana venha a pôr em causa o acordo. Até porque, como ele diz, “este acordo não se baseia na confiança, mas na verificação”. Ou seja, ele só funcionará se todas as partes cumprirem os seus compromissos: o Irão em relação à energia nuclear e as outras partes na inspecção e na vigilância continuada. A voz discordante de Israel, sendo esperada, podia ter sido menos primária. Retomar o fantasma do “eixo do mal” para diabolizar o Irão, prometendo “agir por todos os meios para tentar impedir que o acordo seja ratificado”, revela vistas curtas. Se a dada altura não houver coragem de ousar, nada mudará. Por isso talvez mude em Cuba ou no Irão o que não se consegue mudar, ainda, no conflito entre Israel e a Palestina.