Não deitemos foguetes antes do tempo!
Investimos mundos e fundos nas nossas relações com os outros e com o reconhecimento externo; damos o couro e cabelo para aguentar tudo, mas estaremos na verdade a investir em nós próprios?
Dei por mim a ouvir jovens que entre eles diziam “a minha professora estava chateada comigo porque além de ter tido negativa, disse-lhe que nasci foi para os reality shows” e, nesse preciso momento, reparei que dentro da minha ainda juventude já começo a ficar velho e, como diria a Rita Ferro, a viver acima das minhas possibilidades (psicológicas).
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Dei por mim a ouvir jovens que entre eles diziam “a minha professora estava chateada comigo porque além de ter tido negativa, disse-lhe que nasci foi para os reality shows” e, nesse preciso momento, reparei que dentro da minha ainda juventude já começo a ficar velho e, como diria a Rita Ferro, a viver acima das minhas possibilidades (psicológicas).
Preocupo-me verdadeiramente com o rumo que as nossas camadas mais jovens levam, não porque queiram estar em reality shows, mas porque cada vez mais escolhem os caminhos mais fáceis, que dão mais reconhecimento exterior no imediato (já que o amor-próprio parece estar em desuso), deixando de parte o investimento sobre si próprios. Quando falo desta situação de investimento vocacional, falo igualmente da falta de investimento afectivo: estamos na Era do quanto mais rápido e fácil melhor, mesmo que isso seja descartável, construído sobre areia ou mesmo que não nos concretize.
Começou o verão, começou a época das festarolas onde as pessoas celebram a alegria conjunta de fazer parte de círculos com outras pessoas. Bem sei que isto é profundamente importante, mas se celebrássemos antes as nossas próprias vivências, connosco próprios, não estaríamos nós a tentar conhecermo-nos melhor? Sem isso, não estaremos nós a refugiarmo-nos no “outro” para não termos de enfrentar o que há do outro lado do nosso espelho? (e não falo do enfrentar o espelho para a praia – nesse aspeto com as dietas loucas do corpo sarado parece-me haver mais um desrespeito do que um respeito por si próprio).
Em todo o caso, enfrentarmo-nos é difícil. Não só porque somos nós, mas porque além de nos aturarmos constantemente, estamos inseridos em contextos onde muitas vezes o que nos incomoda não pode ser alterado por não ser responsabilidade autónoma. Por exemplo, é injusto ouvir-se ao desbarato que está desempregado quem quer e que tem de haver um empreendedorismo e “procura activa de trabalho”, quando na verdade não existem oportunidades de emprego e algumas opções sobre políticas sociais continuam a persistir nesta expressão que tem tanto de mau gosto como de falta de capacidade de gestão social – fica a intenção para a percentagem residual em que funciona de maneira tão simplista, desresponsabilizando os verdadeiros responsáveis por este caos de disfuncionalidade: os senhores das tesouras deste País!
Por outro lado, isto não tem a ver com o não investirmos em nós, indivíduos autónomos e à unidade, já que esta conjuntura pode ser a época quase-ideal para nos conhecermos; sabermos qual o barómetro da nossa resistência, sobretudo mental; e como podemos ser felizes por contraposto ao que nos é oferecido pela nossa sociedade que de actual tem apenas a data e, de tempos em tempos, umas manifestações à margem do sistema que nos fazem perceber que há sempre volta a dar.
Depois de nos descobrirmos e amarmos, provavelmente estaremos em verdadeiras condições para celebrar as boas relações com quem vive fora da nossa pele.