Hayao Miyazaki diz que Japão deve manter remorsos pelo passado militarista
Numa rara conferência de imprensa, o mestre do cinema de animação deixou recados ao primeiro-ministro e defendeu que o Japão é um país pacifista.
"O Japão deve dizer claramente que a guerra de agressão foi um erro que provocou enormes danos à população chinesa", disse esta segunda-feira, citado pela AFP. "Pouco importa a situação política actual, o Japão deve exprimir os seus remorsos pelo longo período de actividades militares na China, é esse o dever dos políticos mesmo que muitos deles sustentem que se deve esquecer esse passado", acrescentou.
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"O Japão deve dizer claramente que a guerra de agressão foi um erro que provocou enormes danos à população chinesa", disse esta segunda-feira, citado pela AFP. "Pouco importa a situação política actual, o Japão deve exprimir os seus remorsos pelo longo período de actividades militares na China, é esse o dever dos políticos mesmo que muitos deles sustentem que se deve esquecer esse passado", acrescentou.
O objectivo inicial da conferência de imprensa foi a apresentação de uma curta-metragem sobre uma lagarta, que será visionada no museu dos estúdios Ghibli, de que o realizador é fundador.
Mas o influente artista aproveitou para se antecipar ao primeiro-ministro, o nacionalista Shinzo Abe que prepara uma declaração para assinalar os 70 anos do fim da guerra no Pacífico. Abe sugeriu que não vai usar a fórmula das "desculpas sinceras", usada pelos seus antecessores na parte do discurso em que mencionaram os países vítimas do imperialismo japonês durante a II Guerra Mundial.
Na conferência de imprensa no Clube dos Correspondentes Estrangeiros no Japão, Miyazaki, de 74 anos, esclareceu que na sua última longa metragem, Kaze Tachinu ("As asas do vento", de 2013, concebida para ser a sua última obra antes da reforma), não romanceou a guerra. O filme faz um retrato de um engenheiro obstinado, Jiro Horikoshi, que foi o responsável pelo caça-bombardeiro Mitsubishi A6M Zero, o mais emblemático da Força Aérea nipónica (o dos piloto kamikaze) e do qual há uma réplica no polémico santuário de Yasukuni, dedicado aos japoneses mortos em combate (polémico porque celebra militares que foram acusados de terem cometido massacres de populações civis e outros crimes de guerra).
O realizador disse ter querido falar na futilidade da guerra e retratar a verdadeira personalidade de Jiro Horikoshi, que classifica de humanista cujos sonhos foram desfeitos pelo nacionalismo e pela guerra — um retrato que gerou polémica com países como a Coreia do Sul, que acusaram o realizador de estar a glorificar o criador da mais mortífera arma da máquina militar japonesa; no Japão a reacção também não foi boa com os nacionalistas a acusarem Miyazaki (antigo sindicalista de esquerda) de traição.
"Os japoneses são humanos que querem viver em paz", respondeu quando um jornalista lhe perguntou, na conferência de imprensa desta segunda-feira, o que significa a sua nacionalidade.
Hayao Miyazaki — um dos fundadores do estúdio Ghibli — voltou a afirmar a sua oposição à existência da base militar americana de Futenma, em Okinawa, e disse ser contra a decisão do primeiro-ministro Abe de conceder mais espaço de manobra às Forças de Autodefesa (o Japão tem esta estrutura e não forças armadas) para intervirem no exterior caso seja necessário ajudar um aliado. Trata-se de uma posição "estúpida", disse o realizador, que choca com o carácter pacifista da Constituição do Japão.