Credores dizem que "há um grande problema de confiança" com a Grécia
Reunião "difícil" para discutir novo programa de assistência financeira a Atenas. Parceiros europeus insistem na importância de garantir a implementação das medidas avançadas pelo Governo grego.
Depois de, na madrugada deste sábado, o Parlamento grego ter aprovado o programa de reformas que o Governo apresentou aos credores, a bola está agora do lado do Eurogrupo, que deverá decidir se julga o plano suficientemente convincente para abrir negociações sobre um programa de assistência financeira para os próximos três anos.
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Depois de, na madrugada deste sábado, o Parlamento grego ter aprovado o programa de reformas que o Governo apresentou aos credores, a bola está agora do lado do Eurogrupo, que deverá decidir se julga o plano suficientemente convincente para abrir negociações sobre um programa de assistência financeira para os próximos três anos.
"Penso que vai ser uma reunião bastante difícil", admitiu o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, antes da reunião, porque "ainda há críticas sobre o conteúdo das propostas" e porque "há um grande problema de confiança".
"Como podemos esperar que este Governo implemente realmente o que está a prometer?", disse Dijsselbloem. Muitos ministros parecem efectivamente duvidar que Tsipras execute à risca um programa de austeridade muito semelhante ao plano que os eleitores gregos, seguindo a recomendação do próprio Governo, rejeitaram por larga maioria no referendo de domingo passado.
À chegada à reunião, a maior parte dos ministros insistiu, por isso, sobre a importância de garantir que as reformas são efectivamente implementadas, como o ministro das Finanças austríaco, Hans Jörg Schelling, que afirmou esperar ver as primeiras medidas adoptadas pelo Parlamento grego nas próximas duas semanas.
O comissário para os assuntos económicos, Pierre Moscovici, também defendeu que a questão da implementação é "a chave de tudo para desbloquear um programa e para tratar da questão da dívida."
Na reunião, os ministros ouvirão uma exposição das três instituições que compõem a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) com a sua opinião sobre o programa de reformas grego. Se a avaliação global das instituições parece ter sido "positiva", o secretário de Estado das Finanças holandês, Eric Wiebes, adiantou que as instituições também emitiram algumas críticas ao plano por ser "mais fraco do que deveria ser nalgumas áreas".
"[As instituições] sugeriram que só se começassem as negociações quando essas condições tiverem sido preenchidas", disse Wiebes. O ministro das Finanças irlandês, Micheal Noonan, disse mesmo que "provavelmente serão precisas mais medidas".
A França parece continuar a ser a principal aliada de Atenas, depois de altos funcionários franceses terem ajudado o Governo grego a elaborar as suas propostas. "Sim, a confiança passa por decisões rápidas" – disse o ministro das Finanças francês, Michel Sapin – "mas eu ouvi o primeiro-ministro grego dizer que estava pronto a que já na próxima semana reformas importantes sejam adoptadas pelo Governo."
Dadas as posições de quase todos os outros ministros, no entanto, é quase certo que o ministro das Finanças grego, Euclides Tsakalotos, será confrontado com exigências adicionais pelos seus homólogos da zona euro. Tsakalotos foi dos primeiros a chegar ao edifício do Conselho, tendo-se reunido com Moscovici e Dijsselbloem, antes do encontro do Eurogrupo.
Para além da decisão de abrir ou não negociações com a Grécia para um novo resgate, os ministros também discutirão o montante do empréstimo que seria concedido a Atenas. Até agora as instituições parecem defender um valor de 74 mil milhões de euros para os próximos três anos.
Mas há ainda outras questões em aberto, como uma possível reestruturação da dívida, um tema politicamente delicado em muitos países, e ainda como garantir que a Grécia consegue cumprir as suas obrigações financeiras imediatas, nomeadamente o pagamento de 3500 milhões de euros que tem de fazer ao BCE a 20 de Julho.
Está, por isso, tudo em aberto para uma reunião do Eurogrupo que se anuncia longa, com alguns ministros a não esconderem o seu pessimismo. "Vamos ter negociações extraordinariamente difíceis", disse o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, acrescentando que "uma situação de esperança [na Grécia] foi destruída nos últimos meses de uma forma incrível."