Índia e Paquistão prometem luta ao terrorismo e apaziguam rivalidades
Os gigantes (e nucleares) sul-asiáticos não tinham um encontro oficial há mais de um ano. Líderes falaram do combate ao terrorismo, uma palavra que costuma fazer parte das acusações entre os dois.
O indiano Narendra Modi e o paquistanês Nawaz Sharif discutiram temas de cooperação regional na luta ao terrorismo – o comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiro paquistanês diz que “ambos os lados condenaram o terrorismo em todas as suas formas” – e, mais concretamente, concordaram em acelerar os julgamentos dos atentados de 2008 em Bombaim, um dos temas mais polémicos nas relações diplomáticas entre os dois países.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O indiano Narendra Modi e o paquistanês Nawaz Sharif discutiram temas de cooperação regional na luta ao terrorismo – o comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiro paquistanês diz que “ambos os lados condenaram o terrorismo em todas as suas formas” – e, mais concretamente, concordaram em acelerar os julgamentos dos atentados de 2008 em Bombaim, um dos temas mais polémicos nas relações diplomáticas entre os dois países.
Muito da relação tóxica entre as duas forças nucleares prende-se com acusações mútuas de terrorismo, sobretudo na região contestada de Caxemira, uma das disputas territoriais reminiscentes do processo de descolonização britânico. A Índia, por exemplo, vê com desconfiança a relação entre Islamabad e os grupos separatistas em Caxemira. Por sua vez, o Paquistão acusa os serviços secretos de Nova Deli de estarem por detrás da violência sectária no Balochistão. O facto de os dois líderes acertarem um sistema de cooperação regional no tema da segurança é, portanto, significativo.
“É a primeira vez que o Paquistão aceitou combater o terrorismo ‘em todas as suas formas’”, salientou o porta-voz do Bharatiya Janata Party (BJP; nacionalista hindu), o partido no poder na Índia. Ao encontro desta sexta-feira, aliás, vão somar-se reuniões entre responsáveis militares paquistaneses e indianos em Nova Deli, e um dos assuntos que será tratado será o sensível tema da segurança fronteiriça em Caxemira. Ainda nesta semana, o exército paquistanês matou um militar indiano na fronteira, o que gerou indignação em Nova Deli.
Casos como este são frequentes em Caxemira e são um indicador da volubilidade das relações diplomáticas entre os dois países. Esta instabilidade é uma sombra sobre a visita prometida de Modi para 2016. Há também uma ressalva sobre a cooperação de segurança, lançada ao Washington Post por Sameer Patil, investigador no think-tank Gateway House, de Bombaim. “Os dois países não coincidem na definição de terrorismo e o que é que constitui grupos terroristas”.
Passos e impasses
Os últimos meses são um exemplo da instabilidade diplomática entre Índia e Paquistão.
Narendra Modi rompeu em 2014 com a hegemonia do Partido do Congresso, a quase indisputável força política indiana do pós-colonialismo britânico. Ao fazê-lo, o primeiro-ministro indiano gerou fortes expectativas de que o seu Governo reformasse as relações diplomáticas entre as duas potências nucleares. Os dois países estavam então no antepé de um severo corte diplomático, um estado de coisas que se seguiu aos ataques dos fundamentalistas islâmicos do Lashkar-e-Taiba em Bombaim, em 2008, e que a Índia diz terem sido financiados por Islamabad.
Essas expectativas cresceram com a presença do primeiro-ministro paquistanês na cerimónia de tomada de posse de Modi. Era a primeira vez que isso acontecia passados setenta anos de rivalidade.
Mas, depois disso, as relações não tardaram a azedar-se novamente. Logo em Agosto de 2014, o líder da diplomacia paquistanesa em Nova Deli encontrou-se com representantes do Hurriyat, o grupo separatista da região de Caxemira. Em resposta, a Índia fechou os canais oficiais de diálogo com o vizinho.
A situação degradou-se com as sucessivas violações do cessar-fogo em Caxemira. A região sofreu em 2014 os mais severos bombardeamentos de rockets dos últimos anos. A confiança entre os dois exércitos degradou-se – já em Junho, durante uma operação militar da Índia na sua fronteira com a Birmânia, os oficiais paquistaneses fizeram questão de relembrar a Nova Deli que também Islamabad tem mísseis nucleares.
Em Abril de 2015, novo passo atrás. O Paquistão liberta condicionalmente Zakiur Rehman Lakhvi, visto na Índia como o comandante dos ataques de 2008 em Bombaim. Uma decisão “infeliz e uma desilusão”, nas palavras do ministro do Interior indiano.
O caminho para o apaziguamento parece ter sido todo decidido pelo telefone, como escreve o jornal indiano Hindustan Times. Modi e Sharif falaram ao telefone quatro vezes desde Dezembro de 2014.
O primeiro sinal de apaziguamento acontece nesse mês, no rescaldo do atentado Talibã a uma escola em Peshawar em que morreram 132 estudantes. Modi ligou então a Sharif para lamentar o sucedido e o inverso acontece com o terramoto no Nepal, em Abril, que matou dezenas de cidadãos indianos. Em Junho, depois de um telefonema do primeiro-ministro indiano a Sharif para celebrar o início do Ramadão, os dois países decidem libertar dezenas de pescadores que tinham detido por invasão das águas territoriais.