Os sete pecados capitais do Governo e as dez pragas socialistas

Ferro Rodrigues e Passos Coelho trocaram acusações mútuas das governações com exemplos bíblicos.

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Ferro Rodrigues Miguel Manso/Arquivo

Numa intervenção entusiasticamente aplaudida e cheia de apartes entre os deputados da maioria e os socialistas, Ferro Rodrigues e Passos Coelho fizeram acusações mútuas sobre quem deixou pior Portugal depois da governação.

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Numa intervenção entusiasticamente aplaudida e cheia de apartes entre os deputados da maioria e os socialistas, Ferro Rodrigues e Passos Coelho fizeram acusações mútuas sobre quem deixou pior Portugal depois da governação.

Sobre a intervenção inicial de Pedro Passos Coelho em defendeu que a estratégia de rigor foi a “mais acertada” e que tem conseguido obter resultados positivos, o líder da bancada socialista haveria de dizer que o retrato do Governo tem uma “base totalmente irrealista” e que a situação a que Portugal chegou hoje é um regresso a um passado longínquo.

Ferro Rodrigues enumerou: a taxa de pobreza é a de há 15 anos, o nível do desemprego está como há 20 anos, o investimento é como o de há 30, e o nível de emigração equivale ao de há 50 anos. “Essa imagem cor de laranja e azul que os senhores ensaiaram nos últimos dois dias é totalmente desmentida nas últimas 24 horas pelas notícias dos jornais”, apontou o deputado socialista, lendo em seguida alguns títulos que contrariam o “irrealismo e propaganda” do Governo.

“A nação, senhor primeiro-ministro, está empobrecida, o povo português está enfraquecido. Como responde à acusação do secretário-geral António Costa, que chamou a atenção para vários vícios, os pecados capitias”, como a mentira política, o desemprego, a emigração, a precariedade, a sangria fiscal à classe média, o desmantelamento dos serviços básicos, os “escândalos das privatizações”, a posição contra a Grécia e ao lado das instituições europeias.

“Estamos à espera do programa da coligação, já devia ter sido apresentado há oito dias”, desafiou Ferro Rodrigues, que foi depois aplaudido de pé pelos deputados socialistas com um ruído entusiasmado, como nunca se viu nos seis meses em que lidera a bancada.

Pedro Passos Coelho não se fez rogado. Picou o PS falando da “azia” com que os socialistas vêem o que chamou de sucessivos resultados positivos que a economia vai conseguindo. E depois pegou nos argumentos que já vinham preparados numa folha A4 para pagar com a mesma moeda.

À referência bíblica do sete pecados capitais, respondeu com as “dez pragas que o PS deixou a Portugal – para que elas não caiam no esquecimento”. Começou pelas dez pragas do Egipto, pela “obras faraónicas, como as PPP rodoviárias e o TGV, obras extraordinárias que haveriam de produzir imensa riqueza mas que só produziram irresponsabilidade”.

Passos Coelho continuou, uma a uma, com pequenas realidades de 2011: “os PEC de má memória que não resolveram nada e só trouxeram aumento de impostos e cortes de salários na função pública”; Portugal era um dos países mais desiguais da UE; “défices orçamentais volumosos e ruinosos de mais de 10% em 2011”; “o completo desgoverno do sector empresarial do Estado que acumulava dívida operacional e financeira”; a nacionalização do BPN; o défice tarifário na electricidade; o “endividamento galopante” que levou ao pedido de ajuda à troika; e um desemprego estrutural acima de 10%.

Sobre a Grécia, devolveu o desafio: “Gostaria de o ver a comentar as intervenções no plano público que primeiro-ministros e ministros das Finanças socialistas fizeram a propósito das negociações com a Grécia”.

As pragas e os insecticidas
Logo na intervenção que se seguiu ao duelo Ferro/Passos, o líder comunista aproveitou as imagens bíblicas para se dirigir ao chefe do Governo. “Qual foi a posição do seu partido perante essas pragas? Não foi insecticida, foi parte integrante dessas pragas que se abateram sobre o país”, acusou Jerónimo de Sousa.

Na maioria, o líder da bancada do PSD, Luís Montenegro, tocou directamente na Grécia e associou a situação vivida naquele país com as propostas socialistas, que “falharam”. “Acaso não tivessem falhado, talvez nós tivéssemos hoje em Portugal os bancos fechados, talvez em Portugal tivéssemos hoje as pessoas em fila no multibanco para acederem às suas poupanças, acaso não tivessem falhado, se calhar os pensionistas portugueses teriam dúvidas se iriam receber suas pensões, mas essa realidade não é a realidade portuguesa”, afirmou o social-democrata.

Com o PS na mira, também o CDS apontou baterias ao partido de António Costa, colocando até uma data para um novo resgate caso vença as eleições legislativas. "É bom que os portugueses meditem sobre isso, porque se o PS tiver responsabilidades governativas correremos o risco de, em 2017 ou 2018, ter um resgate muito mais duro do que aquele que tivemos em 2011, pela mão do PS, pela simples razão de que não é o primeiro, não é o segundo, não é o terceiro, será o quarto", afirmou Nuno Magalhães, líder da bancada centrista.

O tema das pragas e dos pecados foi também usado pelo PEV. A ecologista Heloísa Apolónia apontou o dedo a Passos Coelho acusando-o de "esconder", na análise que fez das pragas, que contribuiu para elas ao viabilizar três planos de estabilidade e crescimento (PEC) do PS, assim como os orçamentos de Estado de José Sócrates, votou a nacionalização do BPN e assinou o acordo com a troika.

"Não disse nada disto porquê? Para não chegar à conclusão que o PSD também é uma praga? (...) O sr. primeiro-ministro começa e acaba o mandato com um problema sério de credibilidade na palavra", criticou Heloísa Apolónia, que pouco depois disse que Passos Coelho "mentiu, de facto", porque durante a governação fez o contrário do que disse da campanha eleitoral e no início da legislatura (sobre os prazos temporários dos cortes).

E deixou nova crítica sobre a actuação de portugal perante a crise grega: "Se não respeita o povo português, como é que haveria de respeitar os gregos?"

Na resposta, Passos Coelho haveria de dizer que a sua "mais importante promessa eleitoral foi cumprida: cumprir o memorando de entendimento e libertar o país do memorando da troika.

O primeiro-ministro reiterou a temporalidade dos cortes em salários e pensões. E sobre a sua contribuição para a viabilização da "praga" do PS, Passos Coelho puxou dos galões da responsabilidade. "Quando fui líder da oposição, nunca deixei de poder apoiar os governos constitucionais que pudessem apresentar medidas que considerasse essenciais para que o país pudesse evitar problemas maiores", argumentou.

"Por isso, é verdade: apoiámos algumas daquelas decisões para que o primeiro-ministro de então não tivesse que pedir um resgate externo. Mas tornou-se evidente que o caminho que estava ser seguido só poderia conduzir mesmo ao resgate, como reconheceu o ministro das Finanças de então."