À Volta do Tour: O Diabo já não volta
Leia aqui algumas das histórias mais desconhecidas da mais importante corrida de ciclismo do mundo.
Foram muitas as gerações que viram as suas tardes desportivas interrompidas pela aparição do alemão de Reichenwalde no ecrã, passada ligeira e apressada, atrás dos principais rostos do pelotão. A aventura começou em 1993. “O meu maior sonho era estar no Tour como espectador, porque fui ciclista na minha juventude, mas na República Democrática Alemã (RDA) não estávamos autorizados a viajar para países ocidentais. Então o Muro de Berlim caiu. Três anos depois tinha poupado o suficiente para ir a França”.
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Foram muitas as gerações que viram as suas tardes desportivas interrompidas pela aparição do alemão de Reichenwalde no ecrã, passada ligeira e apressada, atrás dos principais rostos do pelotão. A aventura começou em 1993. “O meu maior sonho era estar no Tour como espectador, porque fui ciclista na minha juventude, mas na República Democrática Alemã (RDA) não estávamos autorizados a viajar para países ocidentais. Então o Muro de Berlim caiu. Três anos depois tinha poupado o suficiente para ir a França”.
Senft queria apoiar os ciclistas como nenhum outro tinha feito antes. Inspirado pelo speaker alemão Herbert Watterot, que designava a última volta dos critérios germânicos como “a volta do Diabo vermelho”, assumiu o seu fato encarnado como uma segunda pele e raramente o trocou (houve uma indumentária rosa no Giro e uma amarela quando o Tour celebrou a centésima edição).
“Tento evitar lugares com muita gente, porque preciso de espaço para o meu 'acto’”, explicou numa entrevista em 2004. Ao volante da sua mini-van, o alemão dormia em parques públicos, comia comida enlatada, chegando a perder quatro quilos durante as três semanas da Grande Boucle. Aqui e ali, aceitava o convite de outros fãs para tomar o pequeno-almoço. “Às 4h30 acordava para pintar os meus tridentes na estrada. Preciso de cerca de 50 litros de tinta para o Tour. Às 7h30 encontro o meu sítio na estrada”. Horas depois, quando os ciclistas apareciam, saltava para a estrada, com gritos vibrantes. Se os primeiros grupos o ignoravam, os "grupetos" que lhes seguiam não hesitavam em roubar-lhe o tridente ou outros adereços mais pontiagudos, obrigando-o a uma corrida extra.
O mediatismo que conquistou proporcionou-lhe patrocínios, os mesmos que perdeu durante os anos de ausência do Tour na televisão alemã. No final de 2014, numa entrevista ao Bild, anunciou que pousava definitivamente o tridente. Com um salário de 500 euros, sem ajudas e com a saúde debilitada desde que em 2012 foi operado a um coágulo no cérebro (foi a única edição da Volta à França que falhou), o avô de 63 anos dedica-se agora a outra das suas grandes paixões: acumular recordes, seja com a construção das maiores bicicletas pedaláveis, seja com a criação de uma guitarra maior do que a inscreveu no livro do Guiness.