Provavelmente, a melhor Volta à França da década
O Tour arranca neste sábado com quatro ciclistas como favoritos ao triunfo na prova. No meio do pelotão, há um português com a esperança de conseguir algum protagonismo: Rui Costa.
Há que recuar um ano para perceber a importância do momento para todos os intervenientes. Vincenzo Nibali subiu ao pódio feliz, ladeado dos franceses Jean-Christophe Péraud e Thibaut Pinot. O público aplaudiu, mas a maioria não reconheceu o mérito do italiano da Astana. Um eterno “e se” (“e se Contador e Froome não tivessem caído? E se Quintana não tivesse optado por vencer o Giro?”) pesa no sonho amarelo do "Tubarão do Estreito" (de Messina, onde nasceu em 1984).
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Há que recuar um ano para perceber a importância do momento para todos os intervenientes. Vincenzo Nibali subiu ao pódio feliz, ladeado dos franceses Jean-Christophe Péraud e Thibaut Pinot. O público aplaudiu, mas a maioria não reconheceu o mérito do italiano da Astana. Um eterno “e se” (“e se Contador e Froome não tivessem caído? E se Quintana não tivesse optado por vencer o Giro?”) pesa no sonho amarelo do "Tubarão do Estreito" (de Messina, onde nasceu em 1984).
Conhecido por ser um ás nas descidas, um lutador nas subidas e um homem de ataque, o italiano tinha a Volta à França na mão bem antes das desistências do espanhol e do britânico. Maravilhou no pavé, liderou sem mácula uma portentosa equipa da Astana, mestre da táctica e colocação, vestiu a amarela do segundo ao último dia (houve uma intermitência ao nono), somou quatro etapas. Mereceu o triunfo que o confirmou como o ciclista mais consistente nas grandes Voltas nos últimos cinco anos - terceiro no Giro 2010, venceu a Vuelta do mesmo ano, foi segundo no Giro 2011, terceiro no Tour 2012, primeiro no Giro e segundo na Vuelta, em 2013.
Depois de um Inverno difícil, lotado de compromissos promocionais – “nunca consegui recuperar completamente do desgaste, sobretudo mental” –, Nibali enfrentou uma temporada atribulada, com a ameaça da retirada da licença WorldTour e consequente exclusão da equipa cazaque da Grande Boucle, a pairar no horizonte. Curiosamente, o vencedor em título é o único dos quatro ciclistas que chega a Utrecht sem qualquer grande triunfo no palmarés de 2015 – o único é o título de campeão italiano.
Num percurso em que escasseiam as descidas até à meta, Nibali sabe que tem muito a provar, ao contrário de Alberto Contador. O espanhol da Tinkoff-Saxo, com sete grandes Voltas no currículo, embarcou na loucura de tentar vitórias consecutivas no Giro e no Tour – o último a consegui-lo foi o italiano Marco Pantani, em 1998 -, mas ninguém o condenará caso acuse o desgaste acumulado na corrida transalpina durante as três semanas da prova francesa.
De orgulho ferido desde que lhe foi retirada a amarela que ganhou em 2010, devido a um positivo por clembuterol, El Pistolero perdeu a química com a Volta à França. Se, no ano passado, acusou o nervosismo – um erro grosseiro na descida molhada do Petit Ballon valeu-lhe uma fractura na tíbia -, em 2013, depois de cumprir a sua suspensão, arrastou-se nas estradas francesas e foi rebocado por Roman Kreuziger até ao quarto lugar final. O click existente entre prova e ciclista, tão visível nas edições de 2007 e 2009, pode regressar a qualquer momento – seria histórico vê-lo subir ao lugar mais alto do pódio de forma sucessiva nas três grandes Voltas -, mas, aos 32 anos, os horizontes do madrileno começam a diminuir.
O mesmo acontece com Chris Froome. O britânico, de 30 anos, foi do céu ao inferno em duas temporadas. Segundo, por obrigação, atrás de Bradley Wiggins em 2012, regressou no ano seguinte para ocupar o lugar que era seu por direito. Com o dorsal número um pregado à camisola da Sky, perdeu a revalidação numa queda aparatosa e sofreu um duro golpe com a derrota na Vuelta perante Contador.
Sem deixar nada ao acaso, escolheu os momentos certos para aparecer esta temporada: vingou-se do espanhol na Volta à Andaluzia, deu uma lição de ciclismo no barómetro mais fiável do Tour, o Critério do Dauphiné. Com cinco chegadas em alto – as 17 curvas do Alpe d’Huez, na véspera de Paris, serão o auge desta edição -, será de esperar vê-lo acelerar, cabeça baixa, olhos fixos no guiador, em ataques impossíveis para os seus adversários.
Para todos, menos um. Nairo Quintana é o melhor trepador do pelotão, à distância. Venceu o montanhoso Giro 2014 sem oposição, meses depois de ter sido o rei da montanha, o melhor jovem e o vice de Froome no Tour. Com os seus 1,67 metros, sobe como uma pena e, este ano, ao contrário da edição da sua estreia, não tem um contra-relógio longo para afastá-lo da amarela. Misterioso, passou meses, depois de vencer o Tirreno-Adriático, em Março, em paradeiro desconhecido, um pormenor que levantou suspeitas entre os seus principais rivais - “Onde está o Quintana?”, disparou Nibali a poucas semanas do Tour. Acossado pelas dúvidas quanto aos seus métodos de treino na Colômbia, Quintana terá de lidar com essa pressão extra, que se alia à reconhecida antipatia pelo empedrado belga que a corrida vai cruzar na primeira semana.
Será aí que a amarela final se vai começar a definir. Um azar de um dos quatro abriria portas, primeiro, aos franceses (Péraud e Romain Bardet, da AG2R, e Pinot, da FDJ), depois a espanhóis (os veteranos Alejandro Valverde, da Movistar, e Joaquim Rodriguez, da Katusha), e quem sabe aos norte-americanos, com o líder da BMC, Tejay Van Garderen, no pelotão da frente.
No meio do pelotão, quatro portugueses, mas apenas um com a hipótese de alimentar o sonho de terminar entre os primeiros: Rui Costa.