Tunes detém oito suspeitos do ataque de Sousse e ainda tenta reforçar segurança
Autoridades continuam à procura de dois suspeitos cúmplices do jovem que matou 38 turistas na praia de um hotel. A polícia do turismo voltou a andar armada mas há muitos lugares sensíveis ainda por patrulhar.
Um dia depois de ter terminado a identificação das vítimas – 30 britânicos, uma portuguesa, três irlandeses, dois alemães, uma belga e uma russa –, as autoridades continuam à procura de dois suspeitos cúmplices do jovem autor do ataque, Seifeddine Rezgui, um estudante de 23 anos que treinara num campo jihadista na Líbia, provavelmente o mesmo por onde passaram os dois atacantes que a 18 de Março mataram 22 pessoas no Museu Bardo da capital, Tunes.
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Um dia depois de ter terminado a identificação das vítimas – 30 britânicos, uma portuguesa, três irlandeses, dois alemães, uma belga e uma russa –, as autoridades continuam à procura de dois suspeitos cúmplices do jovem autor do ataque, Seifeddine Rezgui, um estudante de 23 anos que treinara num campo jihadista na Líbia, provavelmente o mesmo por onde passaram os dois atacantes que a 18 de Março mataram 22 pessoas no Museu Bardo da capital, Tunes.
“A rede que esteve por trás desta operação foi descoberta”, garantiu o ministro da Sociedade Civil, Kamel Jendubi, numa conferência de imprensa. Entre os oito detidos há uma mulher, acrescentou Jendubi, que está à frente da equipa de comunicação criada pelo Governo depois do pior atentado terrorista de que a Tunísia já foi cenário. No país estão dez investigadores britânicos, enviados por Londres para colaborarem no inquérito. Segunda-feira, já tinham sido interpeladas várias de pessoas que conheciam Rezgui mas não é certo que alguém continuasse detido.
Tanto o ataque ao Bardo, o museu com a maior colecção do mundo de mosaicos romanos, visita obrigatória para os turistas que param na capital, como o que espalhou o terror numa praia, com funcionários tunisinos a tentarem fazer de escudos para os turistas diante da Kalashnikov de Rezgui, foram reivindicados pelo autodesignado Estado Islâmico. Em ambos os casos, o objectivo era obviamente matar turistas (no Bardo morreram 21 turistas e um polícia tunisino), não tunisinos. Em Port El Kantaoui houve 29 tunisinos feridos.
De acordo com as autoridades, Rezgui recebeu treino em armamento num campo na Líbia, um país separado da Tunísia por uma fronteira muito porosa e difícil de patrulhar e onde o Estado Islâmico já controla várias zonas e duas grandes cidades, Derna e Sirte. “Ele entrou na Líbia de forma ilegal e foi formado em Sabratha, a ocidente de Trípoli”, explicou o responsável pela Segurança Nacional, Rafiq Chelly.
Chelly considera plausível que tenha estado no campo de treino ao mesmo tempo que os dois atacantes do Bardo, Yassine Labidi, que chegou a ser identificado como suspeito, mas deixara entretanto de estar sob vigilância, e Hatem Khacnhaoui, que nasceu perto da fronteira com a Argélia e teria ligações antigas à Al-Qaeda no Magrebe Islâmico. Os três foram abatidos durante os ataques.
“Trata-se de um grupo que foi treinado da Líbia e que partilha um mesmo objectivo. Dois atacaram o Bardo, um atacou Sousse”, afirma o ministro das Relações Parlamentares, Lazhar Akremi,citado pela Reuters. “A polícia procura mais dois membros deste grupo.” Ainda não os localizou, mas identificou-os e divulgou as suas fotografias. Chamam-se Bin Abdallah e Rafkhe Ralari e são ambos amigos de Rezgui.
Na praia que serve o hotel Riu Imperial Marhaba há dias que polícias e militares se podem ver ao lado dos turistas que ali permanecem. Mas outras zonas diariamente visitadas por estrangeiros, num país em que o turismo representa 15,2% do produto interno bruto e é fundamental para a economia local, continuam à espera dos prometidos reforços.
“Há uma mobilização de 1377 agentes de segurança armados suplementares nos hotéis e nas praias”, garante Jendubi. Trata-se do “plano excepcional” que deveria ter entrado em vigor na quarta-feira, com a polícia turística a voltar a andar armada.
"Onde estão eles? Estão a beber um café? ”
Mas em zonas na região de Tunes, como as ruínas de Cartago, as praias de Gammarth ou a vila de Sidi Bou Said, que os próprios tunisinos da capital visitam com frequência ao fim-de-semana, os prometidos reforços ainda não são visíveis.
O próprio ministro do Interior, Najem Gharsalli, visitou Hammamet, outra estância balnear a sul de Tunes, na quarta-feira e interrogou-se sobre a falta de agentes. “Chegámos a um acordo sobre a protecção das praias. Onde estão os agentes com essa missão? Quero-os armados. Onde estão eles? Estão a beber um café? ”, perguntou o ministro a um responsável local num vídeo difundido no site da rádio privada CAP FM.
“Quero que me vigies os clientes da Tunísia, os convidados da Tunísia”, exclamou o ministro. Atrapalhado face à fúria do ministro, o responsável pela polícia local respondeu apenas “se Deus quiser, a partir de amanhã, as coisas estarão a 100%”. O ministro prometeu regressar, sem aviso. “Veremos.”
Único país das revoltas árabes a conseguir realizar uma transição relativamente pacífica e a caminho da estabilidade política e social, a Tunísia é hoje governada por um executivo de coligação que incluiu políticos que fizeram parte da ditadura de Ben Ali e os islamistas moderados do Ennhada, que venceram as primeiras eleições a seguir à queda do ditador e perderam as segundas, em 2014.
Na presidência está Béji Caïd Essebsi, veterano político que se reinventou para criar uma formação que une antigos caciques do regime a membros da extrema-esquerda. No Governo e no Parlamento o poder é dividido entre o partido de Essebsi, o Nidaa Tounès, e o Ennhada. Com o atentado de Sousse, Essebsi mandou encerrar dezenas de mesquitas e alguns temem o regresso aos tempos que os muçulmanos praticantes eram perseguidos apenas por demonstrarem em público a sua fé.