Os tabuleiros voltam a desfilar nas ruas de Tomar

Tradição cumpre-se a cada quatro anos. Quase 700 tabuleiros são esperados no cortejo de dia 12.

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Miguel Madeira

"Podiam ser mais. Há muitos mais pares que queriam participar, mas não é possível", disse à Lusa o mordomo da festa, João Victal, lembrando a enorme dificuldade logística e de preparação da festa de 2011, em que o cortejo teve mais de 700 tabuleiros.

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"Podiam ser mais. Há muitos mais pares que queriam participar, mas não é possível", disse à Lusa o mordomo da festa, João Victal, lembrando a enorme dificuldade logística e de preparação da festa de 2011, em que o cortejo teve mais de 700 tabuleiros.

O cortejo dos tabuleiros, que atrai milhares de visitantes à cidade, é o ponto alto de uma festa que começa a ser preparada um ano antes, com a decisão da sua realização a ser tomada pelo povo, em assembleia convocada pela presidente da câmara, como é tradição, seguida da eleição do mordomo.

Desde Abril de 2014 que milhares de tomarenses, da cidade e das freguesias rurais (nas juntas de freguesia, escolas, associações, lares, hospital), estão envolvidos na confecção de flores de papel (para os tabuleiros e para enfeitar as ruas), dos tabuleiros e dos trajes.

Os tabuleiros da festa de Tomar, únicos com esta forma nas tradicionais festas do Espírito Santo que se realizam um pouco por todo o país, têm na base um cesto de verga que é enfeitado com um pano bordado ou em renda. No cesto são espetadas cinco ou seis canas, dependendo da altura da rapariga que o vai transportar, que levam cinco ou seis pães (no total têm de ser obrigatoriamente 30), numa estrutura que é enfeitada com coloridas flores (papoilas e espigas são obrigatórias) e encimada com uma coroa que leva uma pomba branca ou a cruz da Ordem de Cristo.

A rapariga traja de branco com uma faixa da cor dominante do tabuleiro que transporta à cabeça (com cerca de 10/11 quilos), cor que o rapaz usa também na gravata e na cinta que enfeitam o fato de camisa branca e calça preta.

Empenhado em manter o rigor da festa, João Victal lidera, pela terceira vez consecutiva, uma comissão que integra já muitos jovens que começaram a desfilar em crianças, desde que, em 1991, foi retomado o designado "Cortejo dos Rapazes". Este cortejo, que se realiza no próximo domingo, antecedendo em uma semana o cortejo principal, envolve este ano 1700 crianças dos 4 aos 11 anos, com as meninas mais pequenas a transportarem cestas de verga.

Este "cortejo miniatura", em tudo semelhante ao principal, tem servido de "viveiro" para rejuvenescer e manter a festa viva, fazendo dela uma manifestação de "grande juventude e grande alegria", disse João Victal à Lusa.

Na quinta-feira, dia 9, serão inauguradas, às 20h, as ruas ornamentadas, que passam já as fronteiras do centro histórico e se espalham por toda a cidade, com varandas, portas e janelas enfeitadas, seguindo-se, na sexta-feira ao final da tarde, o cortejo do mordomo. No sábado, dia 11, há cortejos de tabuleiros durante a manhã, seguindo-se a exposição dos tabuleiros e jogos populares. No domingo de manhã realiza-se a procissão das coroas e pendões do Espírito Santo, começando o grande cortejo às 16h.

A festa termina na segunda-feira, dia 13, com a distribuição do bodo, oferta de carne, pão e vinho a pessoas previamente identificadas, tradição ligada às Festas do Espírito Santo.

Com origem pagã, simbolizando a época das colheitas, a Festa dos Tabuleiros adquiriu carácter religioso na Idade Média, com a Rainha Santa Isabel. Dada a sua complexidade, a festa realiza-se de quatro em quatro anos, tendo havido apenas uma edição em que o povo decidiu adiar a sua realização por um ano, por coincidir com a Expo 98, evento no qual participou com um cortejo a convite do então Presidente da República, Jorge Sampaio.