E que tal uma classe política pobre?

Que tal passarmos a escolher os nossos governantes pela competência? Talvez tivéssemos algumas agradáveis surpresas

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kitato

Eu tenho um sonho. Nesse sonho, um país à beira-mar plantado, de nome Portugal, apresenta características muito particulares, que me fazem acreditar que ainda estou a sonhar. O mar continua a banhar-nos, o sol continua a brilhar em dias pouco nublados, e o sangue continua a correr-nos nas veias. No entanto, algo está diferente, algo que parece fazer toda a diferença: existem políticos pobres. Esmiuçando a questão, e a título de exemplo, temos uma primeira-ministra (só para mexer com o sexismo!) que frequentou uma universidade pública e teve seis "part-times" para pagar as propinas, vários ministros filhos de mães solteiras que subsistiam graças ao Rendimento Social de Inserção (RSI) e uns quantos deputados que singraram à custa de muitos sacrifícios.

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Eu tenho um sonho. Nesse sonho, um país à beira-mar plantado, de nome Portugal, apresenta características muito particulares, que me fazem acreditar que ainda estou a sonhar. O mar continua a banhar-nos, o sol continua a brilhar em dias pouco nublados, e o sangue continua a correr-nos nas veias. No entanto, algo está diferente, algo que parece fazer toda a diferença: existem políticos pobres. Esmiuçando a questão, e a título de exemplo, temos uma primeira-ministra (só para mexer com o sexismo!) que frequentou uma universidade pública e teve seis "part-times" para pagar as propinas, vários ministros filhos de mães solteiras que subsistiam graças ao Rendimento Social de Inserção (RSI) e uns quantos deputados que singraram à custa de muitos sacrifícios.

Parece utópico, certo? Estamos tão habituados a ver classes privilegiadas a governar. No fundo, a conduzir os nossos destinos, que achamos atípica a ideia de existirem, de facto, políticos pobres. Mas será que isso não faria a diferença? Será que não possibilitaria a nossa progressão? Eu acredito que o nosso passado molda (até determinado ponto) o que somos no presente, e acredito que são as nossas dificuldades que permitem o nosso desenvolvimento. O valor que damos ao que está à nossa volta varia consoante os ambientes em que estivemos inseridos ao longo da nossa vida.

O dinheiro não compra empatia

Como temos constatado, o dinheiro não compra sabedoria, nem experiência, e, acima de tudo, não compra empatia. Empatia… Que termo estranho, não é? Embora estranho, acredito que este seja um ingrediente essencial para qualquer trabalho que envolva uma componente humana, algo que se verifica na política (dado que envolve o quotidiano de toda a população). A empatia pressupõe que consigamos “calçar os sapatos do outro”, colocando-nos no lugar do mesmo. Como pode um político saber o que um pobre sente quando lhe cortam o RSI, se nunca precisou de contar os seus últimos cêntimos para comprar um pão?

Um dos principais problemas para a concretização deste sonho reside no facto do sistema estar viciado, pelo que os lugares cimeiros da política portuguesa estão destinados a determinadas classes. Nesta atribuição de cargos políticos, o nome parece contar mais do que a competência, levando a que assistamos a diplomas mal explicados, quase como se a formação superior fosse mero requisito, não garantindo qualquer aptidão.

Neste momento, mais do que heroicos balanços financeiros, precisamos de mais humanidade, precisamos de mais empatia. Necessitamos que “humanizem” os números, que lhes deem uma cara, para que percebam que quando diminuem o vencimento da população, não estão somente a diminuir a despesa, estão a diminuir a qualidade de vida de milhões de pessoas.

Não faria sentido que políticos pobres governassem uma população pobre? Eu gostava de assistir a essa transformação, até porque as opções que nos têm dado não estão a resultar. Mas para que não me acusem de excesso de favoritismo pelos políticos pobres, que tal passarmos a escolher os nossos governantes pela competência? Talvez tivéssemos algumas agradáveis surpresas.