Pequeninas aversões

O mestre Carlin dizia que “I don’t have pet peeves, I just have major psychotic fucking hatreds!”, eu tenho de tudo, o ódio chega para todos... há dias que até sobra

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Yuriko Nakao/Reuters

Acordar cedo (vá, se alguém me pagar para isso ainda é como o outro) mas só porque sim dá-me a náusea. Peço desculpa (não, na realidade, não peço) não sou uma “morning person”, eu sei que as manhãs são lindas, mas as minhas noites continuam a ser mais belas que os vossos dias.

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Acordar cedo (vá, se alguém me pagar para isso ainda é como o outro) mas só porque sim dá-me a náusea. Peço desculpa (não, na realidade, não peço) não sou uma “morning person”, eu sei que as manhãs são lindas, mas as minhas noites continuam a ser mais belas que os vossos dias.

Música medíocre: os Delfins, os Amor-Electro e o João Pedro Pais, os D.A.M.A., o David Fonseca, o B Fachada, o JP Simões e todo o jazz de elevador (sim Diana Krall, isto é contigo!), os Blind Zero e todo o pós-soul da MTV, a Kátia Guerreiro e o resto das fadistas burguesas pseudo-amalianas e a Luísa Sobral e todas as meninas que imitam a Carla Bruni com uma guitarrinha e mais o Rui Veloso e o Tim e o Vitorino (que tinham idade para ter juízo) e os seus discozinhos de dar aos pais pelo Natal podem todos ir cagar à mata também. Quem alimenta esta gente não merece ter orelhas, eu o Emanuel e o Rodrigo Leão ainda é como o outro... agora haver “consumidores” dos The Gift ultrapassa-me.

Os pequenos poderes de chefe de repartição que acham que tiraram uma licença para assediar os pequeninos: o pároco de aldeia que aterroriza as velhinhas, o subchefe da ASAE que mói ciganos na feira, o chefe de linha no “call-center” que não deixa os operadores mijar durante oito horas seguidas na esperança de parecer firme e ser merecedor de mais uma pequena subida na escada corporativa. O Sr. Fernando lá da faculdade que berrava com os estudantes que mexiam nos estores e se esbulhava em salamaleques com os senhores professores.

Os intelectuais de serviço que leram o parágrafo anterior e concluíram que eu não me concentro no essencial e que perco de vista a dinâmica necessária entre a estrutura e a acção. Vão cagar também! Mais as vossas análises inteligentes e anti-etnocêntricas e as barbinhas da moda e o “atelier” no Bairro Alto... estão a ver o meu pescocinho de fora?! Vemo-nos na próxima vez que houver dança, escusam de trazer as caretas de Guy Fawkes.

Os velhinhos que atravessam a estrada na diagonal e a passo de caracol, os animais que estacionam em cima do passeio, a malta que corta as unhas em público, as criancinhas dos outros, os tempos de antena de associações profissionais que nos vêem desejar um “santo natal”, os programas de análise teológica da bola, os cozinheiros anglo-saxónicos que nos ensinam a cozinhar pratos italianos e franceses e malgaxes, a Sô Dona Fátima Lopes e o Gouxa e a Júlia e a Cristina e as suas benfazejas linhas de valor acrescentado, o sorriso trabalhado do Portas e a Assunção Cristas, todos os tipos que aparecem por cima dos ombros dos gajos a dizer que sim com a cabeça (os papagaios do pirata), a maltinha que entrega o ouro aos bandidos e se queixa das greves para as câmaras, os polícias de choque e as suas armadurazinhas de eunuco dos esteróides, a inexistência de separação do Estado e da igreja e o respeitinho bafiento ao silêncio da poeira das bibliotecas nacionais, as caninas cagadelas abandonadas, a lata do Primeiro (o moço do mito urbano) e a do 44 (esse pobre prisioneiro político), os jeovás das manhãs de fim-de-semana, as “playlists” na rádio, o Nuno Markl, os chatos que insistem para um gajo comer com as mãos (porque é frango ou sardinhas e a civilização obviamente se suspende), os alfacinhas que não gostam do Porto só porque não e os tripeiros que odeiam os mouros só porque sim, os maníacos do PNR e os esquerdistas mais preocupados em limpar a Esquerda do que lutar contra a Direita, e mais 38 mil pequenas coisinhas.

O mestre Carlin dizia que “I don’t have pet peeves, I just have major psychotic fucking hatreds!”, eu tenho de tudo, o ódio chega para todos... há dias que até sobra.