Há docentes a classificar exames sem formação para avaliar estas provas
Pela primeira vez em cinco anos, o Instituto de Avaliação Educativa não fez acções de formação para os professores classificadores.
" O Iave tem cerca de 6650 professores com formação na bolsa de classificadores e outros tantos (6447) sem formação”, especificou. A constituição de uma bolsa de professores classificadores foi apresentada, em 2010, como um salto qualitativo na correcção das provas, não só por uniformizar os critérios de selecção para esta função, mas também por se providenciar uma especialização nesta área, através de formações anuais promovidas pelo Iave.
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" O Iave tem cerca de 6650 professores com formação na bolsa de classificadores e outros tantos (6447) sem formação”, especificou. A constituição de uma bolsa de professores classificadores foi apresentada, em 2010, como um salto qualitativo na correcção das provas, não só por uniformizar os critérios de selecção para esta função, mas também por se providenciar uma especialização nesta área, através de formações anuais promovidas pelo Iave.
Em 2015 nada disto aconteceu. O alerta foi dado ao PÚBLICO por uma professora do ensino secundário e confirmado pelo Iave. “Este ano não houve formação”, indicou a assessora de imprensa daquele organismo, sem adiantar razões para tal.
Também o gabinete de imprensa do Ministério da Educação e Ciência (MEC) esclareceu que neste ano lectivo ”foi necessário proceder ao reforço da bolsa de classificadores, já que o número de professores com formação era insuficiente para as necessidades do processo de exames”.
“Desta forma a bolsa, mantendo os classificadores que têm formação, foi reforçada com professores que se encontram a leccionar as disciplinas sujeitas a exame nacional e que, por conseguinte, têm um bom conhecimento e domínio dos programas”, especificou.
A mobilização destes professores foi determinada pelo Júri Nacional de Exames (JNE), numa informação enviada às escolas no início deste mês onde solicitava aos directores que comunicassem qual a situação dos docentes que em tempos tinham sido indicados para o processo de classificação. Para além destes, os directores também deviam "inscrever obrigatoriamente todos os outros professores da escola" que cumprissem algum dos critérios definidos para esta função, indicou o JNE.
Os docentes indicados tiveram de cumprir uma das seguintes condições: terem leccionado o ano terminal da disciplina sujeita a exame em 2014/2015; terem dado aulas da mesma noutro ano de escolaridade neste lectivo; terem assegurado esta leccionação em 2013/2014 ou num dos últimos três anos lectivos. Segundo o JNE, o reforço da bolsa destina-se a assegurar que “o rácio classificador/nº de provas seja o mais adequado ao tipo de prova e ao tempo disponível para a classificação”, que ronda as duas semanas. Em 2014 estiveram envolvidos no processo de classificação cerca de sete mil docentes.
Legalmente, o número máximo de provas por professor pode chegar ao 60. Um limiar que, no seu relatório sobre os exames de 2014, o JNE classificou como “excessivo”.
Nesse mesmo documento, publicado em Janeiro passado, o Júri Nacional de Exames referia que a bolsa de professores classificadores constituída em 2010 “ficou rapidamente desactualizada”, já que vários docentes que a integravam, por terem passado a leccionar noutros anos, deixaram de ter “contacto funcional com os respectivos programas curriculares para que foram designados como classificadores”. Esta situação levou o JNE a aconselhar que a bolsa fosse reformulada e actualizada anualmente.
Sobe e desce
As pautas com os resultados dos exames nacionais do secundário serão afixadas a 13 de Julho. Em entrevista ao PÚBLICO antes do início das provas, no passado dia 15, o presidente do Iave, Hélder de Sousa, indicou que devido a correcções efectuadas nos critérios de classificação dos exames de Física e Química A do 11.º ano e de Matemática A do 12.º ano se esperava uma subida das médias a estas disciplinas, que nos anteriores não foram além dos 8,8 numa escala de 0 a 20 valores.
Nos dias em que realizaram os exames também as sociedades científicas e associações de professores das duas disciplinas se pronunciaram no mesmo sentido, depois de terem conhecido os enunciados.
A surpresa negativa poderá voltar a ser de novo Português do 12.º ano. De 2013 para 2014 a média subiu de 8,9 para 10,7, mas no dia do exame a presidente da Associação de Professores de Português, Edviges Ferreira, disse que o resultado poderá voltar a ser negativo devido à inclusão, no enunciado, de um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen que os alunos desconheciam. Segundo aquela professora, a resposta a duas perguntas de interpretação do poema, que valem quatro pontos em 20, exigia “uma grande concentração da parte dos alunos e se isso não aconteceu podem não ter conseguido responder ao que era pedido”.