Referendo na Grécia trava acordo e põe zona euro a falar em "plano B"
Ministros das Finanças desistiram de negociar com o Governo da Grécia e rejeitaram prolongar o prazo do programa de resgate. Atenas tem até terça-feira para aceitar a proposta que está em cima da mesa.
Enquanto o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, discutia no Parlamento a intenção de referendar a última proposta dos credores internacionais – descrita como “um ultimato que contraria os princípios e valores basilares da Europa” –, o seu ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, ia ficando cada vez mais isolado no meio dos colegas europeus, em Bruxelas.
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Enquanto o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, discutia no Parlamento a intenção de referendar a última proposta dos credores internacionais – descrita como “um ultimato que contraria os princípios e valores basilares da Europa” –, o seu ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, ia ficando cada vez mais isolado no meio dos colegas europeus, em Bruxelas.
Ao fim de quatro horas de discussões no Eurogrupo, chegava a notícia que muitos temiam ouvir: não há acordo, e a Grécia tem mesmo de pagar 1600 milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional até terça-feira – o mesmo dia em que vai também esfumar-se a possibilidade de o Governo grego receber mais de sete mil milhões de euros da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu, por não ter aplicado as reformas nos termos que eram exigidos por essas instituições.
A não ser que esta história venha a sofrer uma reviravolta – algo que seria inesperado, mas não totalmente surpreendente –, o Governo liderado pelo Syriza pode ter ficado refém da sua própria jogada, ao convocar um referendo para os próximos dias: com a decisão do Eurogrupo de não alargar o prazo do programa grego para além de terça-feira, os eleitores vão ser chamados a dizer “sim” ou “não” a uma proposta que já não estará em cima da mesa.
Foi este o dilema que um jornalista pôs à consideração do presidente do Eurogrupo, durante a conferência de imprensa realizada ao final da tarde, e que Jeroen Dijsselbloem resolveu com a dureza que tem caracterizado a troca de palavras entre os dois lados: “Tem de perguntar isso ao Governo grego.”
Tanto na conferência de imprensa de Dijsselbloem como na declaração assinada por 18 dos 19 ministros das Finanças da zona euro – com direito a uma nota de rodapé para sublinhar a excepção de Yanis Varoufakis – fica claro que a culpa é atirada por inteiro para as costas do Governo da Grécia.
“Devido ao prolongado impasse nas negociações e à urgência da situação, as instituições apresentaram uma proposta abrangente sobre os condicionalismos das políticas [gregas], fazendo uso da flexibilidade no âmbito da proposta actual. Infelizmente, apesar dos esforços a todos os níveis, e do apoio total do Eurogrupo, esta proposta foi rejeitada pelas autoridades gregas, que abandonaram as negociações sobre o programa no final do dia 26 de Junho, de forma unilateral”, lê-se no comunicado do Eurogrupo.
Traduzindo, no entender dos restantes ministros das Finanças da zona euro, a decisão do Governo da Grécia de convocar um referendo sobre a proposta que estava em cima da mesa – e que Atenas considera ser um caminho para a “humilhação do povo grego” – matou qualquer hipótese de estender o programa de resgate para além de terça-feira. E muito menos por “algumas semanas”, como chegou a pedir o ministro das Finanças da Grécia aos seus colegas.
À saída da reunião, quando se preparava para entrar na carrinha em que iria iniciar a viagem de regresso à Grécia, Yanis Varoufakis foi questionado pelos jornalistas se tinha sido um dia triste para ele. Sem parar, e sempre com um sorriso, respondeu que foi “um dia triste para a Europa”. “Mas vamos ultrapassá-lo”, afirmou.
Varoufakis tinha acabado de dar uma conferência de imprensa sobre a reunião dos ministros das Finanças da zona euro, que acabou por partir-se em duas – uma primeira parte com todos, e uma segunda parte sem a presença do ministro grego. Mais uma vez, os motivos desta separação foram justificados num tom revelador do abismo que separa Yanis Varoufakis e Jeroen Dijsselbloem – o primeiro disse que não foi convidado para a segunda parte da reunião, e o segundo disse que foi o ministro grego quem se foi embora antes de a primeira ter terminado.
Na conferência de imprensa, Varoufakis reafirmou que o seu Governo não pode aceitar a proposta dos credores internacionais, e criticou duramente os seus colegas por não terem aceitado esperar mais alguns dias ou semanas, como tinha pedido.
“A recusa de hoje do Eurogrupo em aceitar o nosso pedido de extensão deste acordo por uns dias, ou por duas semanas, para permitir que o povo grego vote sobre as propostas – mesmo havendo uma grande probabilidade de os gregos votem contra as nossas recomendações e as aprovem –, vai certamente prejudicar a credibilidade do Eurogrupo como instituição democrática. Receio que esse dano seja permanente.”
Ainda assim, Yanis Varoufakis admitiu aconselhar os eleitores gregos a aprovarem as propostas dos credores, desde que elas sejam alteradas para irem mais ao encontro da posição da Grécia, um cenário que se afigura irrealista – no final da segunda parte da reunião do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem disse que uma eventual recomendação do Governo grego para que os eleitores aprovem as propostas poderia ser bem recebida, desde que as autoridades do país aceitem o que está em cima da mesa.
Tal como o primeiro-ministro Alexis Tsipras tinha dito quando anunciou a intenção de convocar um referendo, também o ministro das Finanças garantiu que o Governo grego irá respeitar a decisão popular – se o “sim” ganhar, a proposta apresentada pelos credores será aceite e implementada.
À medida que se aproxima a fatídica terça-feira, 30 de Junho de 2015, avolumam-se os sinais de que o Governo grego terá de enfrentar dois ataques cerrados – por um lado, a pressão para garantir algum oxigénio nos próximos dias ou semanas de forma a garantir o pagamento de salários e travar as filas para o levantamento de dinheiro nos multibancos, que já se notavam nas ruas de Atenas neste sábado; por outro, a pressão política da oposição e dentro do próprio Syriza, por razões opostas: enquanto os conservadores da Nova Democracia e os socialistas do Pasok, que governaram o país de forma alternada nos últimos 40 anos, rejeitam a realização de um referendo e pedem a demissão de Alexis Tsipras, não é certo que a ala mais à esquerda do Syriza esteja disposta a implementar as propostas dos credores, se for esse o resultado do referendo. O ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis, disse ao canal grego Mega que os credores já não vão mudar “a essência da proposta”, que classificou como “inaceitável”.
“Entrámos na zona euro para melhorar as nossas vidas, e não para aceitar uma constante chantagem. O Syriza não escolheu sair da zona euro, mas sim defender os interesses do povo. Se não houver acordo, a Grécia tem outros caminhos à sua disposição.”