Ministério ultima protocolo com instituto chinês sob suspeita noutros países
Responsável chinesa com quem Nuno Crato está a negociar foi responsável por acto de censura na Universidade do Minho.
Para o efeito, o MEC está a ultimar um protocolo com o Instituto Confúcio da República Popular da China (Hanban), numa altura em que em vários outros países ocidentais há universidades e autoridades regionais da educação a cancelar os protocolos com aquele organismo, por considerarem que a sua presença pode “ameaçar a liberdade académica e promover a vigilância de estudantes chineses no estrangeiro”, segundo o resumo feito pela agência Reuters a propósito das razões desta decisão.
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Para o efeito, o MEC está a ultimar um protocolo com o Instituto Confúcio da República Popular da China (Hanban), numa altura em que em vários outros países ocidentais há universidades e autoridades regionais da educação a cancelar os protocolos com aquele organismo, por considerarem que a sua presença pode “ameaçar a liberdade académica e promover a vigilância de estudantes chineses no estrangeiro”, segundo o resumo feito pela agência Reuters a propósito das razões desta decisão.
A Universidade de Estocolmo foi uma das sete que já cancelaram os seus protocolos com o Hanban. “De uma forma geral, consideramos que ter institutos que são financiados por outros países no seio da universidade é uma prática questionável”, justificou uma das responsáveis daquela instituição. Ao contrário do que acontece com o britânico British Council ou o alemão Goethe Institut, o Instituto Confúcio não tem instalações próprias no estrangeiro, funcionando no interior das universidades com quem estabelece protocolos que envolvem o financiamento de actividades e a atribuição de bolsas.
A decisão da Universidade de Estocolmo seguiu-se a várias críticas nos meios de comunicação social suecos sobre a permanência do Confúcio no seio da instituição, na sequência de incidentes ocorridos numa conferência que decorreu em Braga e em Coimbra, promovida pela Associação Europeia de Estudos Chineses (EACS, na sigla em inglês) em Julho de 2014 e que ficou marcada por um acto aberto de censura por parte de responsáveis chineses, segundo a denúncia então feita pelo presidente da associação, o sueco Roger Greatrex.
A conferência foi organizada em Portugal pelas Universidades de Coimbra e do Minho, onde funciona uma das duas delegações do Instituto Confúcio em Portugal. O Hanban foi um dos financiadores do evento, que contou com a presença da sua presidente e vice-ministra chinesa, Xu Lin, que participou nas sessões promovidas em Braga.
O resultado foi lapidar. Quando se apercebeu, por causa de um anúncio no programa da conferência, que outras das entidades patrocinadoras era a Fundação Chiang Ching-kuo, de Taiwan (a ilha onde se refugiou o antigo governo chinês após a tomada do poder pelo Partido Comunista, em 1949), Xu Lin mandou primeiro retirar todos os exemplares do documento que ainda não tinham sido distribuídos. Depois aceitou que fossem de novo redistribuídos, mas já sem as páginas onde havia referências a Taiwan.
O incidente está relatado em pormenor na página electrónica da EACS e foi também confirmado, na altura, à revista Sábado pelo embaixador João de Deus Ramos, que abriu a primeira embaixada portuguesa em Pequim, e que era um dos oradores da conferência. “A delegação chinesa retirou do local os programas. Levaram os livros todos e estiveram a rasgar as páginas que não queriam que aparecessem”, resumiu.
Foi durante esta visita a Portugal que Xu Lin prosseguiu as negociações com o Ministério da Educação e Ciência com vista à leccionação de aulas de mandarim nas escolas portuguesas, no âmbito de um projecto-piloto cujo arranque foi anunciado nesta quinta-feira pelo MEC. No comunicado enviado pelo ministério recorda-se que a iniciativa começou a ser preparada durante a visita de Cavaco Silva a Pequim, em Maio de 2014, através de contactos então estabelecidos entre o ministro Nuno Crato, que integrava a comitiva, e Xu Lin.
O PÚBLICO questionou o MEC sobre o estabelecimento deste protocolo, que ainda está a ser finalizado, depois do que sucedeu em Braga e numa altura em que as práticas do Hanban no exterior estão a ser questionadas em vários outros países. O ministério limitou-se a responder que, “durante o próximo ano lectivo, a implementação do projecto será acompanhada e monitorizada por um grupo de trabalho que deverá elaborar um relatório sobre o seu funcionamento” e que os docentes chineses que irão ensinar mandarim nas escolas portuguesas serão “acompanhados por um professor em sala de aula para supervisão e orientação do trabalho”.
As escolas interessadas nestas aulas deverão candidatar-se até ao final do mês, mas há já 23 que foram pré-seleccionadas para integrar o projecto-piloto, que se desenvolverá até ao ano lectivo de 2016/2017, altura em que será feita uma avaliação desta parceria.