Protesto contra a Uber em Paris marcado pela violência

Motoristas profissionais foram para as ruas e bloquearam os acessos mais importantes de algumas cidades para protestar contra a "concorrência selvagem".

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Centenas de taxistas ocuparam as vias de acesso a aeroportos e às entradas nas principais artérias de Paris e de outras cidades para protestar contra a “concorrência selvagem” que afirmam representar a aplicação móvel criada pela empresa, que em Paris tem o serviço Uber Pop, o mais polémico da norte-americana. Pneus incendiados nas estradas, lançamento de petardos e pelo menos uma viatura associada ao serviço da Uber totalmente destruída levaram à actuação da polícia de intervenção.

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Centenas de taxistas ocuparam as vias de acesso a aeroportos e às entradas nas principais artérias de Paris e de outras cidades para protestar contra a “concorrência selvagem” que afirmam representar a aplicação móvel criada pela empresa, que em Paris tem o serviço Uber Pop, o mais polémico da norte-americana. Pneus incendiados nas estradas, lançamento de petardos e pelo menos uma viatura associada ao serviço da Uber totalmente destruída levaram à actuação da polícia de intervenção.

As imagens que chegam das agências do que se está a passar em Paris mostram centenas de táxis parados a bloquear a circulação no centro da cidade, incluindo acesso a estações de comboio e a terminais de aeroportos, como o Charles De Gaulle, na zona norte da capital. Aqui, os passageiros foram aconselhados a usar o serviço de comboios para entrar na cidade e chegar ao aeroporto devido ao protesto, indica a Reuters.

A AFP conta que pelas 5h locais (4h de Lisboa), forças antimotim foram mobilizadas para zonas da periferia de Paris, nomeadamente a zona oeste, onde está situada uma das principais portas de entrada para Paris, onde foram lançados petardos, queimados pneus e destruídos vários caixotes de lixo largados nas faixas de rodagem.

Na capital francesa, a polícia chegou a usar gás lacrimogéneo para desmobilizar os manifestantes que se envolveram, em algumas partes da cidade, em confrontos com motoristas das viaturas privadas que respondem aos pedidos feitos através da Uber. Também os acessos à estação de comboios Gare do Nord, de onde partem os comboios de alta-velocidade Eurostar e os serviços da Thalys, com destino a Londres e a Bruxelas, foram bloqueados.

O motorista de uma das viaturas descaracterizadas usadas para transportar clientes que usam a aplicação Uber foi obrigado a abandonar o veículo perante os protestos de taxistas, que tentaram derrubar o carro antes da intervenção da polícia, adianta ainda a AFP. Numa outra situação, os taxistas conseguiram mesmo derrubar uma viatura, que destruíram por completo.

A cantora norte-americana Courtney Love, mulher do falecido Kurt Cobain e vocalista da banda Hole, contou no Twitter que foi apanhada no meio dos protestos. A artista diz que o carro que respondeu ao seu pedido junto da Uber foi atacado com barras de ferro e que o motorista foi feito refém pelos manifestantes. "Isto é França? Estou mais segura em Bagdad", escreveu num tweet.

Pelas 6h (7h de Lisboa), em Toulouse (sudoeste de França), perto de 40 motoristas de táxi bloquearam o acesso à estação de comboios local, enquanto outros se dirigiram para o aeroporto de Toulouse-Blagnac. Em Marselha e Aix-en-Provence (sul), o protesto teve consequências semelhantes. Interrompeu o trânsito nas cidades e em direcção ao aeroporto e estações de comboios, com várias viaturas ainda a impedir o acesso ao túnel rodoviário de Marselha.

"Espera-se que lancemos mensagens fortes. Fomos obrigados a passar para esta fase de radicalismo", afirmou à AFP Abdel Ghalfi, da Confederação Francesa Democrática do Trabalho, uma estrutura sindical.

O responsável pela empresa de táxis G7 Serge Metz defendeu, por sua vez, à BFM TV, que os taxistas “enfrentam uma permanente provocação [por parte da Uber] para a qual só pode haver uma resposta: firmeza total na apreensão sistemática de veículos de quem ofende”. Serge Metz lamenta que se tenha que fazer “clientes e condutores reféns” de um protesto. “Não estamos a fazer com leveza”, reforçou.

Olivier Noblot, taxista há 22 anos, assegura à AFP que está "pronto para vir todos os dias se necessário e bloquear Paris".

O protesto dos taxistas recebeu comentários por parte da classe política. O presidente socialista da Assembleia Nacional, Claude Bartolone, considerou que os "motoristas de táxi não podem ser vítimas da lei da selva". Pelo lado dos republicanos, foi sublinhada a "concorrência desleal" do Uber Pop. A líder do partido de extrema-direita Frente Nacional, Marine Le Pen, acusou o governo socialista no poder de "deixar a situação se deteriorar". 

O ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, apelou na tarde de quinta-feira a que a polícia parisiense emitisse um decreto a banir o serviço Uber Pop, “dados os sérios distúrbios públicos e o desenvolvimento da sua actividade ilegal”.

Em resposta, o porta-voz da Uber em França, Thomas Meister, acusou o ministro de quere ultrapassar os procedimentos legais. “A forma como as coisas funcionam num Estado com leis é que cabe à justiça julgar se algo é ou não legal”, sustentou o responsável. 

Cólera parece ser a palavra que melhor descreve o que se vê nas imagens que chegam esta quinta-feira de França, naquele que é mais um dos protestos a nível mundial contra a aplicação Uber, que no país tem o serviço Uber Pop, que pode ser prestado por motoristas não profissionais, sem formação específica e sem licença a preços mais baixos que as tarifas praticadas pelos taxistas profissionais.

Em França, a Uber, que reclama ter 400 mil utilizadores no país, tem estado num braço-de-ferro com os taxistas por causa do Uber Pop, que chegou ao país em 2011. O caso Uber vs taxistas foi submetido esta semana ao Conselho Constitucional, que tem o poder para determinar se a actividade da Uber deve ser regulamentada e a legislação francesa actualizada para prever serviços como os oferecidos pela empresa norte-americana.

Recentemente este serviço foi proibido em Itália, cuja justiça considerou que a empresa sedeada nos Estados Unidos pratica a “concorrência desleal” perante os serviços prestados pelos taxistas profissionais italianos, uma acusação que se tem repetido em vários países, incluindo em Portugal, onde existem os serviços UberX e UberBlack.

Notícia actualizada às 15h03: Acrescenta declarações do ministro francês do Interior e de um responsável da Uber.