Estado Islâmico vinga derrotas com novo ataque à cidade curda de Kobani
Islamistas contra-atacam com ofensivas contra duas cidades na fronteira turca. Curdos acusam Ancara de permitir infiltração de radicais através do seu território Atentados suicidas, combates e execuções matam dezenas.
Durante muito tempo, os curdos foram deixados sozinhos a defender Kobani, cidade fronteiriça com a Turquia, que recusava deixar entrar curdos turcos e iraquianos (peshmerga) apara ajudar os sírios. Depois, a principal milícia síria curda, YPG (Unidades de Protecção do Povo), conseguiu expulsar os radicais com o apoio das bombas da coligação liderada pelos Estados Unidos e formada há um ano para lançar ataques aéreos contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria.
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Durante muito tempo, os curdos foram deixados sozinhos a defender Kobani, cidade fronteiriça com a Turquia, que recusava deixar entrar curdos turcos e iraquianos (peshmerga) apara ajudar os sírios. Depois, a principal milícia síria curda, YPG (Unidades de Protecção do Povo), conseguiu expulsar os radicais com o apoio das bombas da coligação liderada pelos Estados Unidos e formada há um ano para lançar ataques aéreos contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria.
Agora, os jihadistas reentraram em Kobani disfarçados com uniformes do YPG e do Exército Livre da Síria (principal grupo de combatentes sírios no terreno, formado por civis e desertores para lutar contra Bashar al-Assad). Enquanto o faziam, explodiam dois de três carros armadilhados. Horas depois, novo ataque suicida e os homens do Estado Islâmico a dispararem contra civis e milicianos a partir de três pontos diferentes do norte da localidade.
Os curdos acusam o Governo turco de ter permitido que os radicais atravessassem a fronteira, habitualmente vigiada por tropas curdas, para lançar este ataque – Ancara desmente, mas admite que alguns possam ter-se feito passar por refugiados. De uma população inicial de meio milhão de pessoas, 30 a 35 mil pessoas já tinham regressado a Kobani depois da derrota do Estado Islâmico.
Na Turquia, Fige Yuksekdag, um dos líderes do Partido Democrático do Povo (HDP), que nas legislativas de há duas semanas roubou a maioria absoluta ao partido no poder, também afirmou que “há uma grande probabilidade” que os atacantes tenham alcançado Kobani através da fronteira turca. Parte dos votos que o HDP roubou ao AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento) são de curdos turcos que não esquecem que Ancara abandonou Kobani quando os islamistas massacravam a sua população.
Corpos nas ruas
“Houve combates violentos perto do posto fronteiriço e no centro da cidade e há cadáveres espalhados pelas ruas”, descreve num comunicado o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma ONG com sede em Londres que gere uma rede de activistas e médicos por toda a Síria. “Um grupo de combatentes posicionou-se em várias áreas de Kobani. Nós estamos a tentar defender a cidade”, disse à Associated Press Ghalia Nehme, comandante de uma das unidades femininas do YPH.
Durante o dia, os combates continuaram nos subúrbios da cidade, mas o centro estava relativamente tranquilo, com as milícias curdas a pediram à população para permanecer dentro de casa.
Os atentados suicidas da madrugada mataram pelo menos 25 pessoas e feriram mais de 75, diz a agência de notícias curda Rudaw, que tem jornalistas em Kobani. Um destes repórteres viu “uma mulher ferida dentro de sua casa onde todo a família tinha sido morta depois de homens armados do Estado Islâmico lá entrarem”.
O Observatório dos Direitos Humanos confirmou que 23 sírios curdos foram executados com as suas mulheres e filhos numa vila a 20 quilómetros de Kobani, Bakha Botan.
Ao mesmo tempo que atacavam Kobani, os radicais lançavam uma ofensiva contra Hassakeh, 270 quilómetros a nordeste, e ocupavam partes desta cidade de população maioritariamente curda. Hassakeh é parcialmente governada por um partido curdo, mas os seus combatentes nunca conseguiram livrar-se por completo das forças leais ao regime de Assad.
Apanhados de surpresa
É o Estado Islâmico a provar que está vivo e capaz de apanhar de surpresa o único adversário que até agora foi realmente capaz de lhe fazer frente na Síria ou no Iraque, os curdos. Eles “querem vingar-se depois de uma série de derrotas em várias frentes impostas pelas forças curdas e pelos seus aliados rebeldes”, dia à AFP o activista Arin Shekmos.
Só na última semana, os combatentes do YPG conquistaram aos jihadistas uma cidade fronteiriça com a Turquia, Tall Abyad, e uma importante base militar 50 quilómetros a norte de Raqqa, a primeira capital de província da Síria perdida por Assad, precisamente para o Estado Islâmico. Raqqa funciona como a capital administrativa do califado que os radicais proclamaram em 2014, ao mesmo tempo que conquistaram vastas áreas do Iraque, incluindo Mossul, a segunda maior cidade do país.
Os curdos conseguem enfraquecer os jihadistas, não derrotá-los, é a mensagem. Não há melhor maneira de o provar que atacando de novo Kobani, símbolo da resistência curda aos islamistas. Cinco meses de combates, entre Setembro de 2014 e Janeiro, fizeram 1600 mortos e obrigaram dezenas de milhares a fugir para a Turquia. No fim, a cidade ficou praticamente arrasada, mas muitas famílias demoraram pouco a regressar, dispostas a começar do zero. Menos de cinco meses depois e os combatentes curdos voltaram a ter de defender Kobani.