A desaparecida
André Téchiné continua a trabalhar com os mesmos elementos, mas as coisas já não funcionam da mesma maneira. O cineasta já fez muito melhor.
Estamos — e temos estado, na sua obra recente — bastante longe do seu melhor, da coesão dramatúrgica nascida duma cuidada mescla de realismo descritivo e complexidade psicológica, que fazia (e faz ainda) a força de filmes como Hôtel des Amériques, A Culpa dos Inocentes ou A Minha Estação Preferida. Se à superfície nada mudou, e Téchiné e continua a trabalhar com os mesmos elementos, parece notório que as coisas já não funcionam da mesma maneira — os seus filmes tornaram-se “aguados”, lassos, feitos com uma distância indiferente. O Homem Demasiado Amado também é assim, nunca desagradável, nunca, digamos, “incompetente”, mas incapaz — nem que seja por um plano — de justificar uma verdadeira razão para existir para além da necessidade, quase burocrática, de picar o relógio de ponto. O filme baseia-se num caso policial, célebre em França, sucedido nos anos 70, quando a herdeira dum casino na Côte d’Azur desapareceu sem deixar rasto, caso só fechado em 2014 com a condenação do principal suspeito.
Torna-se difícil de dizer se são os aspectos policiais ou judiciais que motivam Téchiné, que os remete para uma espécie de adenda, relatando os esforços da mãe (Catherine Deneuve) da desaparecida para não deixar o caso no esquecimento. Durante dois terços, o filme concentra-se nos tempos antes do desaparecimento, e em particular na relação entre a rapariga (Adèle Haenel) e o advogado (Guillaume Canet) contratado pela mãe para tratar, entre outros dos assuntos sucessórios, com uma série de intrigas paralelas referentes à “máfia dos casinos”. O tom nunca é o de um filme “policial”, o que é curioso sendo a sua inspiração a que é. Mas esses aspectos não trazem mais complexidade ao filme, apenas o dispersam e atenuam a potencial força do que, no fundo, mais parece interessar Téchiné, a história da relação daquele par. Por alguma razão — a encontrar no carácter pouco concentrado da organização narrativa e na distância pouco empenhada com que Téchiné encena o seu “realismo” — essa potencial força não se confirma, ficando-se pela pálida repetição de coisas que o cineasta já fez muito melhor.
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Estamos — e temos estado, na sua obra recente — bastante longe do seu melhor, da coesão dramatúrgica nascida duma cuidada mescla de realismo descritivo e complexidade psicológica, que fazia (e faz ainda) a força de filmes como Hôtel des Amériques, A Culpa dos Inocentes ou A Minha Estação Preferida. Se à superfície nada mudou, e Téchiné e continua a trabalhar com os mesmos elementos, parece notório que as coisas já não funcionam da mesma maneira — os seus filmes tornaram-se “aguados”, lassos, feitos com uma distância indiferente. O Homem Demasiado Amado também é assim, nunca desagradável, nunca, digamos, “incompetente”, mas incapaz — nem que seja por um plano — de justificar uma verdadeira razão para existir para além da necessidade, quase burocrática, de picar o relógio de ponto. O filme baseia-se num caso policial, célebre em França, sucedido nos anos 70, quando a herdeira dum casino na Côte d’Azur desapareceu sem deixar rasto, caso só fechado em 2014 com a condenação do principal suspeito.
Torna-se difícil de dizer se são os aspectos policiais ou judiciais que motivam Téchiné, que os remete para uma espécie de adenda, relatando os esforços da mãe (Catherine Deneuve) da desaparecida para não deixar o caso no esquecimento. Durante dois terços, o filme concentra-se nos tempos antes do desaparecimento, e em particular na relação entre a rapariga (Adèle Haenel) e o advogado (Guillaume Canet) contratado pela mãe para tratar, entre outros dos assuntos sucessórios, com uma série de intrigas paralelas referentes à “máfia dos casinos”. O tom nunca é o de um filme “policial”, o que é curioso sendo a sua inspiração a que é. Mas esses aspectos não trazem mais complexidade ao filme, apenas o dispersam e atenuam a potencial força do que, no fundo, mais parece interessar Téchiné, a história da relação daquele par. Por alguma razão — a encontrar no carácter pouco concentrado da organização narrativa e na distância pouco empenhada com que Téchiné encena o seu “realismo” — essa potencial força não se confirma, ficando-se pela pálida repetição de coisas que o cineasta já fez muito melhor.